O risco de ser visto como traidor de seu criador político – o governador paulista Geraldo Alckmin –, levou o prefeito de São Paulo, João Doria, a publicar neste domingo (13), nas redes sociais, um vídeo no qual chama o chefe do Executivo estadual de liderança política e afirma que nada vai colocá-los em campos opostos na política (assista ao vídeo acima). Doria visitou Alckmin na noite deste domingo no Palácio dos Bandeirantes depois de ter tido uma semana intensa de contatos políticos fora do PSDB.
"Eu quero, aqui, deixar muito clara a minha posição, a minha lealdade, estima e amizade com o governador Gerado Alckmin. Da minha relação de 37 anos, que não nasceu na politica, não depende da política. Hoje, circunstancialmente, estamos na política, mas essa relação nasceu fora da política e não há nada que vá nos dividir, nada que vá nos afastar, que vá no colocar em campos distintos. Eu gosto do governador Geraldo Alckmin, eu gosto do Geraldo. Como pai, como amigo, como católico, eu gosto de todas as boas qualidades que ele tem e que eu admiro", enfatizou Doria no vídeo.
Na semana passada, João Doria recebeu o presidente Michel Temer, em São Paulo, em um evento no qual foi oficializada a transferência de parte da área do Aeroporto Campo de Marte para a construção de um parque municipal. Na passagem relâmpago pela capital paulista, o peemedebista disse que o prefeito paulistano tem "uma visão nacionalista, e não apenas municipalista".
No mesmo evento, Temer afirmou que o PMDB estaria "de portas abertas" para o prefeito de São Paulo. Doria também havia conversado com as principais lideranças do PMDB.
Na conversa com o DEM, tudo muito calculado: o DEM queria mostrar ao mundo político que está ganhando musculatura e que, em 2018, poderia não ser apenas coadjuvante. Doria tinha o cálculo de mostrar aos tucanos que tem outra alternativa partidária, caso o PSDB lhe feche as portas.
O prefeito paulistano tem aparecido nas pesquisas como o tucano com maior chance de chegar à presidência da República. E, neste momento, Alckmin é seu principal adversário.
Para políticos do PSDB, Alckmin é um candidato que, se vencer, fará um governo previsível, mas é um candidato mais insosso. Já Doria é um candidato mais dinâmico e que já mexe com o eleitorado, mas seria uma incógnita como presidente.
Quando o nome de Doria começou despontar, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso o aconselhou a não se precipitar na organização de sua pré-campanha à Presidência. Na visão de FHC, esta chance virá naturalmente para o prefeito de São Paulo, se ele tiver condições.
No entanto, Doria não aguentou e passou a ter uma agenda intensa de viagens a outros estados para conversas políticas e palestras. A movimentação foi tão aberta que até mesmo potenciais aliados de Doria passaram a ver problemas nesta postura.
Em primeiro lugar, a chance de parecer desleal para com Alckmin – imagem que ele tenta desfazer agora com este vídeo ao lado do governador. Há também os que criticam seu discurso tão incisivo contra o PT, mas, em particular, suas críticas ao PT e agressões ao ex-presidente Lula e à ex-presidente Dilma.
"Falar tão duro contra Lula no Nordeste não é nada bom", avaliou um democrata.
Além disso, o número de viagens de Doria a outros estados rendeu ao tucano o apelido de "prefeito turista".