O advogado Levi Machado negou que tenha feito parte do esquema para lavagem de dinheiro de uma área de 55 hectares no Bairro Jardim Liberdade, em Cuiabá, em 2014. "[A denúncia] é absolutamente falsa. […] Eu fui constituido como advogado da Santorini em 2014, mas não aceitei inicialmente", declarou o advogado à juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.
A declaração foi dada em interrogatório no âmbito da ação penal derivada da 4ª fase da Operação Sodoma, na tarde desta terça-feira (25).
O advogado e o ex-procurador aposentado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, conhecido "Chico Lima", são acusados de forjarem um contrato para a desapropriação do terreno, em 2014, no valor de R$ 31,7 milhões. Metade deste valor, R$ 15,8 milhões, deveria voltar para a organização criminosa, supostamente liderada pelo ex-governador Silval Barbosa (PMDB).
O terreno, na região do bairro Tijucal, pertencia à Santorini Empreendimentos Imobiliários, de propriedade de Antônio Rodrigues Carvalho. Com o esquema, 50% do valor da desapropriação deveria ir para SF Assessoria, do empresário Filinto Muller, para que assim ser repassado para o organização criminosa.
Levi é acusado de receber 3%, dos R$15 milhões supostamente desviados.
Em depoimento na semana passada, o ex-governador Silval Barbosa afirmou que o esquema de desvios foi orquestrado para o pagamento de uma dívida de campanha do grupo político no valor de R$ 10 milhões com o empresário Valdir Piran.
Nesta terça-feira, ainda deveria depor Chico Lima, contudo, a juíza Selma Arruda reclamou de mal estar e remarcou a audiência para sexta-feira (28).
Depoimento
À juíza, Levi afirmou que quando o Estado propôs fazer o pagamento da desapropriação em 12 parcelas, o Antônio Carvalho [proprietário do terreno], não teria gostado da proposta, mas acabou aceitando. Com isso, fez uma busca na Justiça Federal a respeito do cliente, e ficou estarrecido com o que viu.
"Quando eu fiz a busca referente ao terreno eu vi que tinha uma movimentação recente. Ele [Antônio Carvalho] disse que tudo tinha sido resolvido há muito tempo. Mesmo assim fui até a Justiça Federal e fiquei estarrecido com o que eu vi. Ele teria R$ 31 milhões para receber do Estado e mais de R$ 70 milhões para pagar".
Levi, então, comunicou ao proprietário da imobiliária teria uma saída pra resolver essas dívidas.
O advogado ainda diz que sugeriu para Antônio que o crédito fosse feito para uma terceira pessoa. "Se o Estado homologasse, nós teríamos tempos para resolver tudo", disse o advogado.
No entanto, segundo o advogado, Filinto Muller [proprietário da SF Assessoria] disse que iria fazer uma viagem para o Canadá, mas acabou aparecendo dias depois. "Ele chegou dizendo que quase tinha morrido, foi salvo por pouco e estava em São Paulo e a fim de resolver de uma vez por todas a situação do terreno com o Estado”.
O advogado declarou que Chico Lima disse que para organizar a desapropriação da área no Jardim Liberdade teria que abrir mão de metade dos R$ 31 milhões, destinados à ele. “Fiquei surpreso e questionei. Porque o que iria custar R$ 1,4 milhão mudou para a metade?”.
"Ele disse que era coisa dele, mas que queria que eu diminuísse meus honorários pela metade, porque ele não tinha mais condições de me pagar. Para encerrar logo o assunto eu aceitei", afirmou Levi
“Extorsão”
Com a dívida de Antônio com a Caixa Econômica Federal que o impedia de receber o dinheiro, Levi, por meio de procuração começou a receber as parcelas referentes à desapropriação do terreno. "Tudo o que chegava eu repassava pra conta da filha dele, pra ele", disse.
Alguns meses depois Levi conta que o Filinto Muller revelou que estava sendo extorquido. "Ele me procurou e perguntou se eu conhecia o Antônio Carlos Milas e eu respondi que sim. Filinto disse 'pois é, ele está me extorquindo, será que tem como a gente parar de movimentar a SF’”, declarou.
Ele disse que após esse episódio, Filinto teve um "ataque de frenezi" e rasgou o contrato que estaria datado do dia 5 de fevereiro de 2014. "Ele rasgou tudo e pisoteou no chão e disse que o documento que podia existir entre nós era só o que tinha a data retroativa. ", disse.
À promotora Ana Bardusco, Levi afirmou que nem cópia do contrato ele havia feito. "Quando ele [Filinto] rasgou ele pegou e entregou pro capanga dele. Não tive nem tempo de nada. Depois que eu fui perceber que também não tinha cópia desse contrato".
Levi Machado afirma que tratou do processo de desapropriação do terreno apenas com Chico Lima.
Honorários
Segundo Levi disse que os honorários eram de 25% em cima dos êxitos do caso.
A juíza questionou como ele cobrou depois que o Antônio pediu para que diminuísse os honorários. "Depois acabei recebendo 15%. O meu cliente estava muito complicada com as e dividas com bancos".
Venda da Santorini
O advoga contou que Antônio o procurou para contar os motivos que gostaria de se desfazer da Santorini Empreendimentos. "Ele me explicou que a empresa estava no nome de um filho de uma funcionária dele".
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