O ex-secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, foi o responsável por repassar os números de telefones da ex-amante dele e ex-servidora pública, Tatiane Sangalli Padilha, da assistente dele à época, Carolina dos Santos, e do jornalista de oposição José Marcondes, o Muvuca, para serem interceptados durante a operação Forti, da Polícia Civil.
A afirmação é da delegada Alessandra Saturnino, em depoimento à Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Mato Grosso, no dia 20 de junho, no âmbito do inquérito policial aberto após a juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, afirmar que havia indícios de que interceptações telefônicas foram feitas de forma clandestina durante a Operação Forti, deflagrada pela Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp) em 2015.
Na época do pedido das escutas telefônicas, Saturnino era secretária-adjunta de Inteligência da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp).
Em seu depoimento, a delegada afirmou que no fim de fevereiro de 2015, o secretário-adjunto da Pasta, Fábio Galindo, lhe chamou para uma reunião, que foi acompanhada por Paulo Taques.
Na reunião o então secretário, segundo Saturnino, disse que sua ex-amante estaria sendo recrutada pelo ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro, preso há 14 anos.
“Paulo Taques disse que havia tomado conhecimento que João Arcanjo estaria recrutando Tatiane com o propósito de criar uma relação conjugal com finalidade dele conseguir a transferência para o Sistema Prisional de Mato Grosso. Ele ainda informou que quem possivelmente estaria ajudando a Tatiane com informações privilegiadas era Carol, funcionária do gabinete de Casa Civil”, disse a delegada.
De acordo com Saturnino, na reunião, Paulo Taques ainda disse que a união entre Arcanjo e Tatiane também tinha como objetivo “arquitetar um atentado contra a vida do governador [Pedro Taques]”, e do próprio ex-secretário.
Paulo Taques, segundo Saturnino, relatou que teve um relacionamento extraconjugal com Tatiane e sabia que ela era capaz de arquitetar tal atentado, uma vez que estava com muita raiva dele, por conta da não aceitação do término do relacionamento.
“Paulo Taques falava de forma bem incisiva e dizia que estaria vazando informações do gabinete dele e do governador. Ele supunha até o sumiço de documentos e desconfiava de Carol, que seria conhecida de Tatiane”, disse.
Saturnino declarou que Paulo Taques lhe entregou um papel onde constavam três números de telefones e apontou dois como sendo utilizados por Tatiane e pela Carol. O terceiro seria do jornalista José Marcondes, o “Muvuca”.
“Paulo Taques disse que Muvuca precisava ser investigado, pois desconfiava que Tatiane e Carol passaram informações para o Muvuca, porque tudo o que acontecia no gabinete de Paulo e do governador aparecia no site do Muvuca”, declarou.
Saturnino disse que questionou Paulo Taques sobre a conexão de Muvuca e Arcanjo. “Disse ao Paulo Taques que naquele momento dos fatos narrados não demonstravam nenhum tipo de envolvimento de Muvuca e por isso descartei o jornalista do contexto investigativo”.
O ex-secretário, conforme o depoimento, disse que Tatiane costumava se referir a Carol como “amiguinha” e Carol costumava se referir a Tatiane como “Dama Loura”.
“Paulo Taques disse que tinha recebido essa grave denuncia de um órgão federal, pois ele dizia que o governador, apesar de ter deixado o cargo de procurador da República, ainda gozava de grande prestígio perante seus amigos, dando a entender que aquela informação teria vindo da Procuradoria da República ou da Polícia Federal”, declarou.
De acordo com Saturnino, o ex-chefe da Casa Civil disse ainda que Tatiane estava prestes a viajar para se encontrar com Arcanjo.
Interceptação
Diante das informações recebidas, a delegada disse que acionou a então diretora de Inteligência da Polícia Civil, Alana Cardoso, e que elas concordaram que a possível transferência de Arcanjo para o sistema prisional estadual estava em consonância com as investigações realizadas dentro da operação Forti, que apurava a existência “escritórios de crimes” dentro de unidades prisionais, com o intuito de promoverem crimes como tráfico de drogas e homicídios.
“A doutora Alana disse que estava com uma representação por interceptação telefônica da Operação Forti pronta e que iria incluir aqueles dois números na representação e assim foi feito”, disse.
Saturnino declarou que após o deferimento da Justiça, em conversa com Alana, chegaram ao nome do policial Raphael Meneguini pela experiência do mesmo na área de inteligência e por ser muito técnico. “A compartimentação dos alvos restritos recebeu o nome de ‘Pequi’, somente para questões de gerenciamento, mas a operação em andamento era a Forti”.
De acordo com a delegada, os serviços de interceptação foram feitos por Meneguini, em sua própria sala na Sesp. Todos os equipamentos, de acordo com Saturnino foram oficiais.
“Durante o período em que os números foram interceptados o Raphael Meneguini se reportava a mim, informando que nada de relevante havia nas conversas relacionadas ao sistema prisional e que em relação as ameaças ele não tinha detectado nada ainda”, explicou.
Durante o período de interceptação, conforme o depoimento, Paulo Taques esteve na Sesp dizendo que tinha mais informações para passar. O ex-secretário informou que tinha recebido a informação da mesma fonte de que Kelly Arcanjo Ribeiro Zen, filha do ex-bicheiro, era quem estaria intermediando o casamento entre Tatiane e Arcanjo. Ele reforçou um possível ataque a integridade moral do governador.
“Ele [Paulo Taques] informou que Tatiane estava comparecendo nas agendas, inclusive sociais, dele e do governador, dando a entender que ela estaria recebendo informações dessa agenda. Paulo chegou a comentar que eles tinham receio da Tatiane colocar alguma substancia na bebida dele ou do governador e coloca-los em situação constrangedora, como serem fotografados nus com outros homens na cama”, declarou.
Saturnino disse que após tal relato, ela declarou que esses detalhes deveriam ser repassados para a autoridade policial que iria presidir o inquérito policial especifico da ameaça. Ela disse ainda que quem deveria presidir a investigação era um delegado da Gerência de Comabte ao Crime Organizado (GCCO), cujo titular na época era Flávio Stringueta.
A delegada garantiu que o governador Pedro Taques nunca entrou em contato com ela para falar algo relacionado sobre as escutas.
“O governador Pedro Taques, em nenhum momento, entrou em contato comigo ou mandou recados, por meio de terceiros. As informações que chegou a reportar ao então secretário Fábio Galindo de que nada de relevante foi constatado nas investigações que levasse a risco a vida do governador”, pontuou.
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