Foto: Ahmad Jarrah/CMT
A juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, disse que agiu dentro de suas funções ao apontar a suspeita de que o delegado Flávio Stringueta teria elaborado uma história para justificar interceptações telefônicas na Operação Querubin, de março de 2015, quando ocupava a titularidade da Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO).
O apontamento aparece em ofício encaminhado no dia 25 de maio à corregedora-geral de Justiça, desembargadora Maria Aparecido Ribeiro.
Na referida operação – que investigou suposta organização criminosa, vinculada ao ex-comendador João Arcanjo Ribeiro, que tramava contra a vida do governador Pedro Taques (PSDB) –, a pedido de Stringueta, a magistrada autorizou a interceptação telefônica de Tatiane Sangalli, que teria sido amante do ex-secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, e a ex-assessora dele, Caroline Mariano dos Santos.
No entanto, a magistrada não descartou que o planejamento de tal operação possa ter sido criado pelos investigadores, uma vez que os mesmos contatos telefônicos haviam sido alvo de pedido de quebra de sigilo um mês antes da deflagração da Operação Querubin.
A interceptação teria sido autorizada no âmbito da Operação Fortis, por meio de tática conhecida como “barriga de aluguel” – em que números de telefones de pessoas comuns são inseridos em pedidos judiciais de quebra de sigilo, sem qualquer relação com investigações.
“As informações que tive com base em análise dos procedimentos, me levaram exatamente na disposição de dois números telefônicos em uma operação que visava investigar a atuação de organizações criminosas, como o Comando Vermelho de Mato Grosso e Primeiro Comando da Capital [PCC]. Nessa operação, chamada Fortis, teria sido inserido dois números que são de pessoas sem relação com essa investigação. Foi isso que narrei à Corregedoria”, disse Selma, em entrevista à Rádio Capital FM, na manhã desta sexta-feira (2).
Selma reiterou que o ofício encaminhado à corregedora não teve o objetivo de acusar Stringueta. “É obvio que a suposição inicial seria de que a história que embasa a Operação Querubim possa não ser verídica. Mas eu não afirmei isso. Levantei a suposição por dever de ofício e acho que as autoridades devem investigar”.
A magistrada ainda ressaltou o respeito ao trabalho do delegado. “Reitero que se trata de uma suspeita, pois ainda está sob investigação. Respeito o trabalho dele e não tenho nada contra a sua pessoa. Mas, eu tenho o dever de ofício de informar toda a suposta irregularidade que constatar. Não fiz prejulgamento e nem o acusei de nada”.
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