Foto: Willian Matos
O comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Júlio Cezar Rodrigues, afirmou que a atitude da tenente Isadora Ledur, durante a realização de aula prática do curso de formação da corporação, em que acabou com a morte do aluno Rodrigo Claro, 21 anos, foi uma atitude isolada.
Na tarde desta segunda-feira (20), no Comando-Geral do Corpo de Bombeiros, em Cuiabá, Rodrigues apresentou o relatório final do Inquérito Policial Militar (IPM), em que foi apontado a prática do crime de maus tratos da tenente.
“[Neste caso] todo o nosso sistema de ensino foi colocado em cheque. Há muitas pessoas fazendo o pré-julgamento de que nas instruções práticas do Corpo de Bombeiros as pessoas estão sendo submetidas a castigos e torturas. Isso não é verdade. Não podemos generalizar condutas individuais fora do projeto político pedagógico de ensino de todo o sistema da corporação, que não permite esse tipo de ação”, afirmou.
“O problema no caso foi de conduta individual e conduta administrativa de alguns agentes que acabaram assumindo risco, em determinado momento. Essa conduta que vamos aumentar a vigilância e monitoramento para que isso não ocorra novamente”, completou.
Conforme adiantado pelo Circuito Mato Grosso na última semana, Ledur se livrou da responsabilização pela prática de homicídio com Rodrigo Claro.
Nesta segunda-feira, o comandante-geral dos Bombeiros ressaltou que o laudo pericial que embasou o inquérito inocentou a tenente pela prática dos crimes de homicídio e tortura.
“No inquérito, foi apontado que a tenente Ledur praticou o crime contra a vida ou a saúde, por maus tratos ao expor a vida de outra pessoa a uma situação de risco. Quem pode acusar ela ou não de algum crime é o Ministério Público Militar, o que nós oferecemos no IPM é o resultado e informações das provas levantadas”, declarou.
“O laudo que nos foi entregue pela Polícia Técnica Científica (Politec), não aponta essa ligação da morte com a prática na aula do dia. Não podemos ser levianos e fazer acusações e colaborar para uma possível injustiça, pois não há nos autos elementos que imputem uma conduta ao resultado morte. Ninguém está aqui tirando um crime maior e colocando um crime menor para proteger alguém”, disse.
O IPM ainda indicia os tenentes Marcelo Augusto Reveles Carvalho e Licínio Ramalho Tavares por crime contra o dever funcional, por não terem proporcionado as condições de segurança necessárias para o treinamento aquático.
Após receber o inquérito, o Ministério Público Militar vai decidir se denuncia ou não os tenentes pelos crimes.
Caso ocorra a denúncia, o procedimento será levado para análise da 11ª Vara Especializada da Justiça Militar. Se o magistrado acatar a denúncia, os tenentes passarão a ser réus.
Reincidência
O coronel Júlio Cezar Rodrigues afirmou ainda que o Corpo de Bombeiros não tem comprovação de que a tenente Isadora Ledur tenha torturado outros alunos da corporação.
“Recebemos alguns relatos de que estaria havendo excesso por conta da tenente Ledur. Mas estes relatos foram apurados, sendo que não foi encontrado nenhuma materialidade contra ela, tanto que ela continuou como instrutora no 16º curso de soldados”, declarou.
Sem “vingança”
O coronel Julio Cezar ainda diz lamentar profundamente a morte do aluno.
“Nós lamentamos muito a morte desse jovem. Entendemos a dor dos familiares. Converso com os pais dele sobre isso e entendo que muitas vezes a família não entende os prognósticos feitos de maneira técnica. Mas, não posso praticar vingança. Tenho que permitir que essa investigação transcorra dentro das regras formais que regem esse tipo de investigação”, disse.
Rodrigues ainda declarou que as medidas legais estão sendo tomadas para que esse tipo de erro não volte a ocorrer. De acordo com o comandante, haverá uma fiscalização e vigilância maior por parte da instituição nos cursos.
“O Corpo de Bombeiro quer dar justiça nesse caso e entender o que aconteceu nesse dia, trabalhando firmemente nesse inquérito. Agora vamos aguardar os procedimentos finais para saber se houve ou não o delito”, afirmou.
As possíveis sanções na esfera administrativa devem ser resolvidas em até 30 dias. A tenente pode ser punida com até sua exoneração do Corpo de Bombeiros.
O julgamento e decisões militares não terão interferência da esfera criminal, na qual a tenente poderá responder na justiça comum, pelos crimes praticados.
Oitiva na DHPP
Na última quinta-feira (16), a tenente Isadora Ledur prestou depoimento na Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa (DHPP). Na oitiva que durou mais de 4 horas, Ledur negou qualquer conduta de tortura ou que tenha feito algo que provocou a morte de Rodrigo Claro.
As informações da audição da tenente, foram obtidas com exclusividade pelo Circuito Mato Grosso com a mãe de Rodrigo, Jane Patrícia Claro. Na ocasião Jane disse que já esperava essa conduta de negação da oficial, perante a delegada Juliana Chiquito Palhares, que preside o inquérito na DHPP.
“O nosso advogado acompanhou todo e depoimento e disse que ela negou tudo do que estava sendo acusada. Do começo ao fim. Eu espero que a justiça seja feita, pois é apenas a palavra dela, contra outras 30 testemunhas que presenciaram o que ela fez com o meu filho”, declarou a mãe.
“Com todas as provas, evidências do que aconteceu, se a justiça não for feita corretamente, perderá a credibilidade com a população”, completou.
Caso
10 de novembro de 2016 e o cenário era a Lagoa Trevisan, em Cuiabá (MT). Alunos realizavam treinamento do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso. Tudo corria normalmente, até que um dos alunos sentiu-se mal e foi liberado do treino.
Era o jovem Rodrigo, que morreu após cinco dias internado no Hospital Jardim Cuiabá, na capital. Ele deu entrada no hospital com aneurisma cerebral após ter recebido uma série de afogamentos durante o curso, segundo a família.
O jovem já havia comunicado com sua mãe sobre a conduta da oficial com ele. Rodrigo afirmou que ocorreram outros casos e que as sessões de afogamento eram comuns. Outros alunos que estiveram no curso, confirmaram a perseguição da tenente com o então aluno.
Veja vídeo e fotos da coletiva: