Cidades

Aplicativo de transporte individual polemiza, mas agrada cuiabanos

Disponível em Cuiabá e Várzea Grande há um pouco mais de dois meses, o aplicativo Uber conquistou a população pelo preço acessível, rapidez e modernidade. Muitos trocaram o modelo tradicional de transporte individual, os táxis, para experimentar o serviço prestado pelos condutores Uber e garantem não se arrepender.

Quem já fez uso afirma que o serviço veio para facilitar a vida, caso da estudante de comunicação social Karenn Brito, que trocou outros modos de transporte pelo aplicativo. O maior atrativo, segundo ela, é o preço que às vezes sai até mais barato que a passagem do ônibus, dependendo da quantidade de pessoas.

Ela explica que antes dependia muito da boa vontade de amigos ou de parentes quando precisava ir a alguma festa, shoppings e faculdade. Quando ninguém a levava, era obrigada a ir de ônibus, o que sempre trazia transtornos, com veículos lotados e atrasos constantes.

“É um aplicativo ótimo, sempre dou avaliação máxima, que é de cinco estrelas e nenhuma reclamação até hoje. Os preços cobrados são bem acessíveis, a não ser quando está muito solicitado em algum local”, esclarece Karenn.

Ela afirma ainda se sentir segura quando utiliza a Uber, por saber o modelo e a placa do carro, além do nome e foto do motorista. “Não tenho nenhum receio para pegar Uber, além de que eu posso fazer a avaliação do motorista e ele também pode me avaliar”, observa.

Já o gerente de vendas Fabio Gontijo tem deixado o carro com a esposa duas vezes na semana, quando ela vai trabalhar. Antes ele tinha de acordar cedo, levar a mulher no trabalho e voltava de carro para casa, o que trazia alguns transtornos, pois há dias em que trabalha apenas no período vespertino.

Antes da chegada da novidade na capital mato-grossense, Gontijo não costumava pegar táxis, pois os preços não são acessíveis, então ele só os utilizava quando não tinha outras opções. O gerente de vendas percorre diariamente oito quilômetros de casa até o trabalho. Ele afirma que de táxi pagava entre R$ 20 e 25, e com o Uber o preço cai para R$ 11.

Gontijo elogia a rapidez e educação dos motoristas e que daria nota máxima para todos que o foram buscar na sua residência.  Apenas uma vez que aconteceu uma eventualidade, quando o motorista demorou mais que o previsto,. “Antes de terminar o tempo, o motorista ligou para avisar e que chegaria três minutos atrasado. O atendimento é muito bom e a rapidez é fora do normal”, arrematou Fábio. 

Especialista diz que Uber pode ‘engolir’ táxis

Para o professor de engenharia de transportes da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) Rodolfo Benedito da Silva, há duas tendências. A primeira é que os aplicativos ‘engulam’ os serviços de táxis por conta do baixo preço das corridas. A outra é que a regulamentação gere muitas taxas, fazendo com que o preço suba até o patamar cobrado por taxistas. O movimento inverso, segundo o professor, pode até ocorrer, mas em menor escala.

Segundo o professor, o valor pode subir em função da regulamentação excessiva, como cobrança de taxas, que podem acarretar a inviabilização da operação. Rodolfo explica que da maneira como está atualmente, sem regulamentação, a concorrência é desleal e traz à tona a discussão se é realmente necessária a regulamentação exorbitante dos serviços de táxis.

“A questão é até quando será ofertado esse serviço a um preço acessível. Outra questão é se o método tradicional precisa ser tão regulado. Essa é uma discussão para o Poder Público analisar, mas da forma como está acaba gerando uma concorrência desleal”, argumenta.

 Pinheiro pede estudo para definir regularização

O prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB), determinou à Procuradoria-Geral do Município (PGM) que elabore um estudo para avaliar a melhor maneira de regularizar os aplicativos, que facilitam as corridas.

Já na cidade de Várzea Grande, a prefeita Lucimar Campos (DEM) adotou posição mais radical a favor dos táxis e proibiu a circulação da Uber, sob o argumento de que o aplicativo não recolhe impostos. Na Cidade Industrial, os condutores da Uber podem apenas deixar passageiros, mas ainda assim podem ser multados.

O procurador-geral do município de Cuiabá, Nestor Fernandes Fidelis, disse ao Circuito Mato Grosso que o órgão deve concluir o estudo até sexta-feira (17). O levantamento observa a legislação das capitais que regulamentaram os aplicativos e deve ser encaminhado para discussão na Câmara de Vereadores da capital. Há ainda uma minuta de lei elaborada pela Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob), que a PGM está analisando.

De acordo com Fidelis, há a possibilidade de o prefeito regulamentar por decreto, mas essa não será a via escolhida pelo Executivo. “Não vamos fazer dessa forma. Para o prefeito, o mais importante é fazer um trabalho de humanização e inclusão, sem prejudicar os taxistas, mas considerando o direito do consumidor”, afirmou.

Fidelis disse que ainda não foi definido o modelo de regulamentação e que terá uma reunião, ainda nesta semana, com o secretário da Semob Antenor Figueiredo, para discutir o assunto. Na sexta-feira será realizada uma reunião dos secretários municipais com o Ministério Público Estadual (MPE), que acompanha as discussões e sinalizou a regulamentação como o melhor caminho.

Projeto de lei

A deputada Janaina Riva (PMDB) também elaborou um projeto de lei que visa regulamentar os aplicativos em todo o Estado. O projeto de lei determina que sejam incididos tributos inerentes à atividade empresarial, que deverão ser estabelecidos pelo Executivo municipal. Em caso de descumprimento, os motoristas deverão ser denunciados no Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso (Detran) e no Procon estadual. Estabelece ainda que os motoristas não podem se negar a carregar animais, exceto se oferecer riscos aos passageiros.

 “Legalização não pode criar obstáculos”

Com receio de que outros parlamentares contrários ao Uber e outros aplicativos de transporte individual começassem a discussão com um tom restritivo, dois vereadores da capital, Diego Guimarães e Paulo Araújo, ambos do PP, levaram os debates para a Câmara Municipal de Cuiabá.  

Os parlamentares aprovaram requerimento para uma audiência pública, que ainda não tem data marcada. Os parlamentares pediram um estudo técnico-jurídico, que será apresentado como sugestão ao prefeito.  O vereador Diego Guimarães teme que a regulamentação possa trazer entraves aos motoristas e inviabilizar o serviço. 

“Eu tenho receio que nessa regulamentação a gente crie muitas regras e desestimule o serviço. O poder público tem que participar da regulamentação da atividade econômica, mas não a ponto de interferir e que impeça a competitividade”, defendeu Guimarães.

Diversas capitais já regularizaram o Uber de maneiras diferentes, segundo o vereador Paulo Araújo. O modelo de Brasília é o que menos trava o sistema, pelo qual a prefeitura exige apenas o cadastro dos condutores no órgão competente.

 “Eu vou propor uma normatização aos moldes de Brasília. Apenas o credenciamento desses motoristas para saber quantos eles são e ter o controle de quem são. Não avançar nada mais do que isso”, argumenta Araújo.

Taxistas cobram diminuição de tributos

A Associação Mato-grossense de Taxistas (AMT) está cobrando da Prefeitura de Cuiabá a diminuição dos tributos. De acordo Abel Arruda, presidente da entidade, as permissões e alvarás pagos pelos taxistas são caros, e caso a prefeitura conceda a redução, o valor será repassado aos consumidores.

“Já existe uma conversação com a Prefeitura de Cuiabá e Governo do Estado para que diminua a carga tributária. A tendência para os próximos meses, aqui em Cuiabá, é uma diminuída do preço da tarifa e o usuário vai começar a notar a diferença”, disse Abel.

Arruda afirmou que a AMT é contra todo e qualquer transporte clandestino e cita ainda a fala do prefeito, que determina “tolerância zero ao transporte ilegal”. “Nós não podemos ser contra a tecnologia. Nós somos favoráveis ao aplicativo, desde que ele venha a ser útil para a sociedade no transporte legalizado”, declarou.

Ele ainda rebateu críticas de que os taxistas são contra o Uber são empresários, que possuiriam boa parte dos veículos na capital. De acordo com Abel, a lei determina que seja disponibilizado um táxi para cada mil pessoas e que na capital já existem 604 carros.  “Desses 604, temos 168 que estão na mão de empresários, mas é legal porque a legislação permite. Só que no Uber também existem muitas empresas que exploram os motoristas”, defendeu Arruda.

Nova opção de renda

Novos motoristas são cadastrados diariamente na plataforma do Uber em Cuiabá, como Argêncio de Andrade, que começou a dirigir no começo desta semana. Com 62 anos, o representante comercial afirma que as opções de trabalho estão escassas e que as condições físicas já não são mais as mesmas. 

Ele afirma que como motorista Uber espera ter rendimento como em qualquer outro trabalho.  “Muitas vezes tem vagas de trabalho, mas não uma posição a sua altura. Esse trabalho encaixou como uma luva, porque eu faço meu horário. Quando não estou bem, é só ficar off-line e voltar quando estiver recuperado”, disse Argêncio.

Já Elson Leite, de 41 anos, critica o fato de a prefeita de Várzea Grande, Lucimar Campos, ter proibido o Uber de circular na cidade. “Creio que isso está vindo para o bem da sociedade, não é prejudicial, então não vejo por que proibir”, afirmou.

Ele trabalha na área de segurança privada, em escalas de 12 horas por 36 horas, e começou como motorista Uber há cerca de 20 dias. De acordo com ele, está sendo uma experiência positiva e não teme represálias de taxistas. 

Ele diz ter diversos amigos que trabalham como taxistas e espera que o serviço seja regulamentado o mais breve possível. “A regulamentação será uma boa, tem espaço para todo mundo, não precisa levar para o lado pessoal. Inclusive o meu concunhado, que é taxista, faz Uber quando está de folga”, afirmou Elson.

 Usuária de táxi se recusa a andar de Uber

Há também aqueles que utilizam o serviço de táxi há anos e não abrem mão, como a jornalista Cintia Borges, que anda de táxi há 13 anos e, desde o meio do ano de 2016, pega táxi todos os dias para ir trabalhar. Um dos pontos positivos que ela destaca é o conhecimento dos motoristas em bairros poucos conhecidos. 

Borges explica que já chegou a experimentar o serviço Uber, mas que demora muito para chegar até o local onde mora. Como faz mais de uma década que usa táxi, os atendentes que trabalham na rádio táxi já a conhecem e aperfeiçoam o serviço, pois já sabem aonde mora e para onde vai.

“Para mim eu acho que compensa, porque posso sair mais tarde de casa e tenho uma comodidade maior. E com o táxi, eu não tenho os gastos que um carro me daria”, pontuou a usuária, que gasta cerca de R$ 300 mensalmente para ir trabalhar, enquanto gastaria R$ 150 de ônibus, para ir e voltar. 

Das vezes em que experimentou Uber, identificou que o maior problema é a dificuldade dos motoristas em andar por bairros desconhecidos, mesmo com o auxílio do GPS. A jornalista ainda esclarece que os veículos demoram a chegar à casa dela e que já aconteceu de um motorista cancelar a viagem, sem nenhuma justificativa.

“Ele estava chegando, aí eu não sei que aconteceu na cabeça dele e do nada cancelou. Tive que chamar outro Uber, que iria demorar mais 15 minutos para chegar. E eu não gosto de esperar, nem mereço esperar 20 minutos pelo serviço”, afirmou. 

Felipe Leonel

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