Uma brincadeira entre pai e filho virou dor de cabeça para uma família de Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, Rio Grande do Sul. Após quase um ano de briga na Justiça, um homem assegurou o direito de jogar futebol com o filho, como mostra a reportagem do Jornal do Almoço.
A polêmica começou em setembro do ano passado, quando um casal de aposentados entrou com uma ação judicial para tentar impedir que o industriário Claudino Sehn, de 48 anos, jogasse bola com o filho no quintal de casa dele, após as 18h.
No processo, os vizinhos de Claudino alegaram perturbação do sossego. O que incomoda os aposentados é o barulho da bola ao bater no muro que divide as duas propriedades. Eles pediam o fim da prática ou a construção de um segundo muro. Inconformado, o industriário resolveu brigar.
“Eu acho que é uma besteira. Quando ela [vizinha] começou com aquele papo, eu achei que era brincadeira. No final das contas, eu falei para eles cuidar do pátio deles que a gente ia cuidar da gente”, relata Claudino Sehn.
Segundo os autores da ação, o muro era usado como “trave” e, por esse motivo, era alvo frequente das boladas. “É um pátio grande. Às vezes eu não consigo pegar a bola, mas às vezes eu defendo”, diz o menino.
O casal de aposentados, no entanto, já perdeu duas vezes. Primeiro na Comarca de Santa Cruz do Sul e depois o recurso, julgado recentemente pelo Tribunal de Justiça (TJ-RS). Em uma das sentenças, o juiz diz que o barulho da bola ao bater na parede é normal.
“Deve existir respeito e consideração para com os vizinhos a fim de que possam conviver em harmonia. Contudo, não se pode coibir que as pessoas sejam tolhidas de práticas absolutamente naturais como jogar bola com o filho, em sua própria casa”, afirmou o juiz Roberto Behrensdorf Gomes da Silva, relator do caso no TJ-RS.
Para o Ministério Público (MP), casos assim não deveriam chegar à Justiça. É uma questão de convivência e bom senso, diz a promotora Simoni Spadari. “Quando eu escolho o conforto de uma cidade, eu abro mão da liberdade que eu tenho no interior. Então, sempre temos que fazer esse balanceamento entre conforto e segurança que um adensamento social me oferece e liberdade”, afirma.
Nas ruas da cidade, o caso virou polêmica e divide opiniões. “Tem que ter diálogo, chegar e conversar com um vizinho para entrar em um acordo”, diz um morador. “Eu acho que em horário nenhum deveria ficar batendo com a bola na parede da casa do outro”, afirmou outro.
Os aposentados ainda podem recorrer na Justiça. Enquanto isso, Claudino e o filho dizem que não vão deixar de fazer o que mais gostam: jogar futebol juntos. O menino até pensa em ser goleiro no futuro. “Vamos continuar jogando futebol, sim. Estamos no nosso pátio”, justifica o industriário.
Fonte: G1