Amarildo sumiu após ser retirado de casa e levado à sede da UPP da Rocinha por PMs da unidade. Ao todo, 25 policiais são acusados pelos crimes de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual e formação de quadrilha. Entre esses, 12 estão presos e 13 respondem processo em liberdade.
Em razão do que aconteceu com o ajudante de pedreiro, a família optou por não registrar o desaparecimento de Beth na delegacia e pedir ajuda a outros órgãos. “A polícia poderia ajudar, ou não. Somos uma família marcada. Preferimos não arriscar”, afirmou Michele.
Após a divulgação do caso pela imprensa, a Polícia Civil começou a fazer buscas, mesmo sem haver registro formal na delegacia. "Tivemos conhecimento do desaparecimento através da imprensa hoje. Começamos a fazer diligências assim que soubemos. Entramos em contato com a família e nos informaram que ela saiu de casa por livre e espontânea vontade, após discutir com um dos filhos", afirmou o delegado Gabriel Ferrando, titular da 11ª DP (Rocinha), destacando que chamará a família para prestar depoimento.
Desaparecimento
Beth desapareceu no dia 30 de junho, quando saiu de casa e não voltou mais. “Já fomos em casa de amigos que ela poderia estar, chegamos a pensar que ela pudesse ter ido para a casa da mãe em Natal. Ligamos com muito tato, pois ela já é idosa, mas a tia Beth não chegou lá. Depois de alguns dias começou a bater o desespero”, afirmou Michele, acrescentando que, em outros momentos em que a tia teve problema com o vício, ela chegou a desaparecer, mas nunca por mais de um dia e sempre ficava na própria comunidade.
Segundo a sobrinha, a filha mais nova de Beth, de 7 anos, tem sofrido muito com a ausência da mãe. “A Milena [filha mais nova de Beth] fica olhando para a foto e perguntando: 'Será que aconteceu com a minha mãe a mesma coisa que aconteceu com meu pai?'”, contou Michele, a quem Milena também chama de mãe. Beth tem oito filhos, sendo seis deles com o ajudante de pedreiro Amarildo. Dos oito, três ainda são menores de idade.
A família torce para que ela seja localizada o mais rápido possível. “Rezamos muito para que nada de pior tenha acontecido com ela. Nada parecido com o que aconteceu o meu tio. Ainda temos três menores aqui. Mesmo eu a gente ajude muito, não suprimos a ausência da mãe. Independentemente dela ser usuária de drogas e ter tido essa recaída, é a mãe que as crianças têm”. No próximo dia 14, completa um ano do desaparecimento e morte do pedreiro Amarildo.
Entenda o caso
Amarildo sumiu após ser levado à sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, onde passou por uma averiguação. Após esse processo, segundo a versão dos PMs que estavam com Amarildo no dia 14 de julho, eles ainda passaram por vários pontos da cidade do Rio antes de voltar à sede da UPP, onde câmeras de segurança mostram as últimas imagens de Amarildo, que, segundo os policiais, teria deixado o local sozinho.
O delegado Rivaldo Barbosa, titular da Divisão de Homicídios, acompanhado por peritos, fez a reconstituição do caso em duas etapas. A primeira, no início de setembro, reproduziu as ações desde a primeira abordagem dos policiais da UPP ao ajudante de pedreiro. A reconstituição durou mais de 16 horas, entre a noite de domingo (1º) e a manhã de segunda-feira (2), e foi considerada uma das maiores reconstituições já feitas pela Polícia Civil, segundo informou a assessoria da corporação.
A segunda, no dia 8 de setembro, refez o trajeto do carro da PM que levou Amarildo, com base no GPS do veículo. O aparelho mostrou que depois de deixar a Rocinha, o carro fez um percurso de quase 2h30 pela cidade. No caminho, o veículo parou três vezes antes de voltar à comunidade.
G1