Três bombas explodiram em Ghadir naquela tarde, incendiando geradores de gasolina que propagaram o fogo até as lojas próximas. Enquanto Alaa estacionava o carro, Raghda morria asfixiada, presa em uma loja sem saída de emergência ou extintores, assim como a mãe de Alaa e seu sobrinho, de cinco anos.'Como é possível que minha filha tenha morrido cinco minutos depois da primeira saída com seu noivo?', lamenta Adel. 'Ainda não havia visto quase nada na vida', afirma.
'Enterramos Raghda na quinta-feira, uma semana exata depois de noivar', conta Sana, a mãe, entre soluços, no salão da casa, decorada com um crucifixo e com a imagem de Cristo'Qual religião aceita semelhantes crimes?', se pergunta.Mas Raghda não morreu porque era cristã. Simplesmente foi mais uma vítima de uma violência cega que voltou a atingir a capital iraquiana há pouco mais de um ano.No entanto, uma certa tranquilidade parecia ter se instalado desde então, após a incontrolável violência sectária que custou a vida de dezenas de milhares de iraquianos nos terríveis anos 2006-2007.
Mercados, mesquitas, cafés
Atualmente, dezenas de pessoas perdem a vida ou são feridas todos os meses em Bagdá pela explosão de artefatos, que vão de uma pequena bomba destinada a destruir um carro particular a um carro-bomba repleto de explosivos capaz de destruir tudo ao seu redor.Todas as famílias são afetadas, seja porque perderam um ou vários de seus membros ou porque algum de seus integrantes vive com sequelas psicológicas ou físicas, às vezes permanentes.
Estes atentados são dirigidos contra mercados, mesquitas, cafés, centros esportivos, ruas comerciais ou qualquer lugar povoado, para provocar o maior número de vítimas.Às vezes são reivindicados por extremistas sunitas mas, em muitos casos, seus autores permanecem em um anonimato obscuro.
No quarto de paredes sombrias, Ruha está desconsolada. A irmã mais velha da falecida chegou da região autônoma do Curdistão (norte), uma zona em geral com menos violência que Bagdá.Veio para o compromisso de Raghda, mas teve que enterrá-la', relata. 'Enterrou-a em seu vestido de noiva, a única coisa que levou ao túmulo'.
G1