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Visitante entra sem ser revistado em cadeia palco de mortes no MA

 
Ontem, a Folha entrou sem ser incomodada na Casa de Detenção, uma das principais unidades do conjunto de cadeias maranhense.
 
O presídio foi palco, em outubro passado, de uma rebelião com dez mortos e dezenas de feridos, que resultou, entre outras consequências, no envio da Força Nacional de Segurança ao Estado, administrado pela governadora Roseana Sarney (PMDB).
 
A chegada dos jornalistas à portaria da Casa de Detenção ocorreu ao lado de um grupo de religiosos, que participariam de um culto evangélico pouco depois.
 
Na portaria, um pedido a todos feito pelo responsável pelo local: "Celulares e RGs aqui [na mesa], por favor".
 
Repórter e repórter-fotográfica, que entraram na unidade sem se identificar como jornalistas, entregaram os documentos, mas deixaram os celulares nos bolsos.
 
Ultrapassada a portaria, nos 20 minutos seguintes a Folha circulou livremente pelos pavilhões, conversou com detentos, leu anotações pessoais e registrou parte da cerimônia religiosa.
 
Em nenhum momento, os visitantes foram revistados, submetidos a detectores de metais ou a qualquer outro procedimento padrão de segurança em penitenciárias.
 
Após o início da crise em Pedrinhas, uma operação policial apreendeu um arsenal com cerca de 300 armas no interior do complexo.
 
Com os detentos, foram achados facas, facões, estiletes e até um vergalhão com a ponta raspada, que funcionava como uma lança.
 
Também foram recolhidos 42 celulares, além de drogas.
 
Após os recentes motins, a Casa de Detenção transferiu alguns presos. Hoje abriga cerca de 200 homens, a metade de sua capacidade.
 
No corredor rumo aos pavilhões, a impressão é de uma cadeia que tenta se reerguer.
 
Alguns presos circulam em meio a agentes penitenciários. Outros estão trancados em celas com cinco pessoas.
 
Mais à frente, o culto improvisado ocorre no pátio de visitas do pavilhão F. A partir desta semana, pastores lançaram o projeto Ore Pedrinhas, com celebrações para apoio espiritual aos detidos.
 
Na unidade vizinha do mesmo complexo, o CDP (Centro de Detenção Provisória), três presos foram decapitados em rebelião em dezembro do ano passado.
 
As rebeliões deixaram marcas não apenas na estrutura física. Presos que assistiram cenas de barbárie nos motins buscam apoio na religião.
 
"Estou até em depressão com essas mortes", diz um detento, sem se identificar.
 
A reportagem o encontrou com a Bíblia nas mãos, sentado no chão da Casa de Oração, o templo que ficou intacto. Ao lado, o livro "Eu Deveria Estar Morto", do ex-presidiário e hoje pastor norte-americano Damien Jackson.
 
O preso disse que, em dois anos, testemunhou duas rebeliões. "A primeira foi só quebra-quebra. Na outra [em outubro], carreguei pessoa morta, esfaqueada, baleada, com perna e braço quebrados."
 
Folha de S. Paulo 

Redação

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