Cenas de sexo em público, brigas, vandalismo, drogas e pancadões foram vistos na Vila Madalena, Zona Oeste de São Paulo, horas depois da passagem dos blocos de carnaval no fim de semana.
Na madrugada de domingo (8), o G1 constatou que a maioria dos 130 mil foliões que desfilaram em 17 blocos pela região já dormia quando grupos isolados seguiam na rua até as 6h, atrapalhando moradores ou praticando irregularidades sem serem incomodados pela Polícia Militar (PM).
“Atrapalha Deus e o mundo. São os lojistas, os moradores, tudo acaba aqui porque vem essa molecada do inferno e apronta aqui”, disse Neusa Palos, de 62 anos, 40 deles vividos na Vila Madalena, perto da Rua Aspicuelta. “Ontem ficou uma fileira na minha porta, todos usando droga e bebendo. Você tem receio de sair de dentro de casa. Fazem xixi, fazem sexo. O sol quente, eles estão fazendo sexo. Eles não respeitam se a gente está passando ou não”.
O G1 também viu jovens fazendo sexo nas vias. Na Rua Girassol, três jovens – um rapaz e duas garotas – se masturbavam mutuamente encostados em uma parede.
Além de Neusa, o G1 ouviu outros moradores e funcionários de estabelecimentos comerciais, que também relataram que a PM era chamada pelo telefone 190, mas não comparecia aos locais onde deveria atuar.
“O carnaval na Vila Madalena tem de acabar”, sentenciou a aposentada Iracema Miranda, 84, quando saía de casa na manhã de domingo para ir à missa. Morada da Rua Aspicuelta há mais de 30 anos, ela mostrou garrafas e latas de cerveja jogadas por pessoas embriagadas na sua varanda.
Sem ocorrências graves
Segundo a Prefeitura de São Paulo, cerca de 130 mil participaram de 17 blocos que desfilaram pela Vila Madalena e Pinheiros, na Zona Oeste. Os blocos foram orientados a manter os desfiles até as 22h, com a dispersão no máximo até 0h (o G1 acompanhou os blocos em tempo real, com fotos e vídeos, e constatou que não houve, até o fim da noite, incidentes relevantes).
Questionados, policiais militares responderam que 800 policiais atuaram das 10h de sábado até as 4h30 de domingo, sem que fossem acionados para atender ocorrências graves. No 14º Distrito Policial (DP), em Pinheiros, três boletins haviam sido registrados até 6h. Segundo os policiais civis, eles eram relacionados a roubo e furto de celulares e documentos.
“Não tivemos assim ocorrência de destaque, registradas como roubos, furtos. Tivemos apenas auxílio ao público, que foi o maior número de ocorrências. Pessoas que se perdem durante o evento, buscam amigos, procuram o metrô”, rebateu Dulcinéia Lopes de Oliveira, major da PM, comandante da operação responsável pela segurança durante o carnaval na Vila Madalena.
“Orientamos que [os foliões] não tragam grande quantia em dinheiro, que venham dispostos a estar brincando mesmo com seus amigos, se divertindo para que não tragam problemas da ordem de segurança e não corram risco de vida também”.
Pancadões
“Você liga para lá e quando transfere para o departamento de perturbação e sossego, aí toca, toca e você ouve que a ocorrência está registrada e tudo bem”, disse o frentista Manoel José Ferreira, de 52 anos, sobre a suposta omissão da PM em impedir os pancadões no posto de combustíveis onde trabalha, na Rua Inácio Pereira da Rocha.
“O problema aqui é quando o bloco vai embora e ficam esses caras, tranqueiras, para trás, aí eles entram com o carro aqui, abrem o som”.
Nesse mesmo posto, o G1 flagrou consumo de drogas e bebidas alcoólicas, inclusive por menores de idade. Adolescentes com pequenos shorts “rebolavam até o chão”, de acordo com o refrão de uma das letras tocadas. Das 5h às 7h, a equipe de reportagem não viu carros da polícia passando em frente ao local, que continuou com o pancadão, irritando a vizinhança. Também ocorreram brigas e depredações de banheiros químicos, fornecidos gratuitamente à população.
Dos apartamentos de um prédio vizinho ao posto, a equipe de reportagem acompanhou o drama de moradores que não conseguiam dormir por causa do barulho. O som era tão alto que algumas janelas tremiam com a vibração.
Segundo um morador, que por questões de segurança não quis dar o nome ou mostrar o rosto, a subprefeitura de Pinheiros, responsável pela Vila Madalena, havia informado que o carnaval nas ruas deveria acabar às 22h e a dispersão dos foliões ocorreria até meia-noite, 1h.
“Só que não está acontecendo isso aí, como você está vendo”, disse ele ao G1. “Chamei a polícia já três vezes e não fui atendido”. Um carro da PM passou próximo ao posto de gasolina apenas às 7h45.
Lixo
Por volta das 8h, os caminhões com canhões de jatos d´água tinham lavado as ruas, amenizando um pouco o odor de urina. Em seguida, caminhões de coleta de lixo e coletores recolhiam a sujeira deixada pelos foliões.
“Neste ano teve mais lixo”, disse o coletor Francisco Mendes de Araújo, de 48. “O povo poderia ter mais educação e jogar o lixo nas lixeiras”.
As estudantes Caroline Meng, 20, e Caroline Marschallinger, 18, também reclamaram da sujeira, mas se disseram assustadas com a suposta truculência da PM perto da 1h, quando passou nas ruas expulsando os foliões.
“Os policiais poderiam ao menos ter orientado o público sobre a Lei do Silêncio, que ninguém mais poderia fazer barulho. Isso não foi feito”, fizeram coro as duas.
Fonte: G1