O vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, de 27 anos, apontado como suposto serial killer por ter confessado a morte de 29 pessoas, disse nesta terça-feira (28) que foi coagido por policiais a assumir diversas mortes das quais é acusado. “Eu fui forçado. Era uma ameaça verbal”, disse ele durante a audiência de instrução que julga a morte do açougueiro Adailton Santos Farias, de 23 anos, da qual é apontado como autor.
Ainda segundo o acusado, ele não se lembra precisamente quem o coagiu durante o depoimento na delegacia e se limitou a dizer apenas que “foram homens”. De acordo com o juiz Jesseir Coelho de Alcântara, da 1ª Vara Criminal, a morte de Adailton era investigada pela delegada Silvana Nunes. Questionado se lembrava da investigadora, Tiago disse que não.
“Eu fui coagido em vários casos, em muitos casos. Eu não matei 39, mas não lembro quantas. Nesse caso [do Adailton], eu não tenho ligação, não fui eu que matei”, disse Tiago, acrescentando que também não lembrava de nomes de suas vítimas e locais dos crimes.
O vigilante disse que, dos crimes que cometeu, se lembra de apenas alguns detalhes. “Em alguns casos, eu lembro de ter ouvido tiros, que estava com a arma na mão, de ter puxado o gatilho. Lembro de flashes”, relatou.
Durante a audiência sobre a morte do açougueiro Adailton, reforçou que tinha um sentimento muito forte que o obrigava a cometer os homicídios. “Nesses casos que eu talvez tenha culpa, todos eles foram da mesma forma. Eu saia de casa, ia para o bar, passava o dia todo lá e depois eu não lembrava de muita coisa. Vinha aquela raiva, aquele sentimento pesado. Era como se eu fosse obrigado. Não tinha como lutar contra”, disse Tiago.
Audiência
Quatro testemunhas do homicídio, o primeiro em que ele responde pela morte de um homem, foram arroladas, mas uma delas não foi localizada. Todas elas pediram para falar sem a presença de Tiago, que ficou aguardando em uma sala reservada.
A primeira pessoa a falar foi Marinalva Miranda Andrade, que não informou idade e profissão. Ela, que foi a única a presenciar o crime, que aconteceu no dia 31 de julho de 2014, na capital, disse que a vítima morava com o seu irmão e um amigo.
"[No dia do crime], eu passei pelo Adailton na rua e perguntei se o meu irmão ainda estava no salão de beleza onde ele trabalhava. Ele respondeu que sim e continuei andando. Alguns metros depois, eu escutei um homem mandando ele por a mão no chão. Olhei para trás e vi um homem alto em uma moto preta e de capacete preto", conta.
Marinalva revelou ainda que o suspeito estava com uma arma de cor clara, deu dois tiros nas costas de Adailton, subiu na moto e foi embora sem dizer nada.
A mulher diz que ao ouvir os disparos, saiu correndo em direção ao salão de beleza para pedir ajuda ao irmão. "Eu estava morrendo de medo dele atirar em mim. Não vi o rosto dele, mas se escutasse a voz dele de novo poderia reconhecer sem dúvida. Era uma voz bem grossa", afirmou.
Para a advogada de defesa Bruna Moreno, o seu cliente não cometeu o crime. “A forma de agir descrita pelas testemunhas não bate com os crimes que ele já confessou”, defende. Entre os pontos divergentes está o fato de que Tiago afirma usar uma arma preta e que dava apenas um tiro nas vítimas, e não dois. Além disso, segundo a defesa, o vigilante atirava enquanto as vítimas estavam em pé e jamais as mandava deitar no chão.
Agonizando
Logo em seguida, o cabeleireiro Vanderley Miranda, de 36 anos, irmão de Marinalva foi ouvido. Ele disse que logo depois de ser avisado do crime, foi até o colega e o encontrou agonizando.
"Eu estava trabalhando, e minha irmã chegou assustada contando do crime. Eu saí correndo para ver e, quando cheguei ao local, ele estava com sangue na boca e no nariz. Ele morreu antes do socorro chegar", afirma. Segundo Vanderley, Adailton morava no Pará e estava em Goiânia havia 5 meses para trabalhar.
A vítima morava com Vanderley e com o vendedor Charles Alves Miranda, de 29 anos, terceira testemunha a ser ouvida. Ele disse que conhecia a vítima há cerca de 30 dias e que ela era "tranquila e trabalhadora". "Ele estava frequentando a igreja, não bebia ou ia a festas extravagantes", salienta.
Réu
O vigilante já foi condenado pela Justiça a 12 anos e 4 meses de prisão em regime fechado por ter assaltado duas vezes a mesma agência lotérica do Setor Central, em Goiânia. Tomada no último dia 15, a decisão cabe recurso.
Tramitam no Tribunal de Justiça outros 27 processos de homicídio que têm Tiago como réu. Destes, 22 estão na 1ª Vara Criminal, onde já foram realizadas 11 audiências referentes aos casos de Rosirene Gualberto, Ana Lídia Sousa, Bárbara Luiza Ribeiro, Ana Karla Lemes, Thamara Conceição, Taynara Rodrigues, Isadora Cândido, Lilian Sissi, Juliana Neubia, Arlete dos Anjos e Pedro Henrique de Paula.
Outros cinco processos tramitam na 2ª Vara Criminal, que já realizou as audiências dos casos de Ana Maria Victor Duarte e Wanessa Oliveira Felipe. Também estão marcadas as audiências preliminares dos processos referentes às mortes de Bruna Gleyciele Barbosa às 14h de 4 de maio, e Ana Rita de Lima e Mauro Ferreira Nunes, a partir das 13h30 do dia 5 de maio.
A defesa de Tiago recorreu das decisões que definiram que o réu deve ir a júri popular pelas mortes das estudante Bárbara Luiza Ribeiro e Ana Lídia Gomes de Sousa, ambas de 14 anos.
Ao ser detido, além dos crimes contra mulheres, Tiago também confessou assassinatos de homossexuais e moradores de rua.
Fonte: G1