Vieses cognitivos são “defeitos” do pensamento que nos fazem descartar informações contrárias aos conceitos que firmamos sobre alguém ou alguma coisa. O viés de confirmação, por exemplo, leva-nos a supervalorizar os elementos que reforçam nossas convicções, por mais ingênuas e tolas que sejam e, ao mesmo tempo, a rebater ideias contrárias, mesmo as mais lógicas e razoáveis.
Somos sujeitos a paixões, mas podemos minorar essa tendência, buscando informações diferentes ou até conflitantes, que estão à disposição de todos na imensidão da internet. Mas, aqui esbarramos no primeiro obstáculo: o próprio viés de confirmação já começa a nos dirigir na seleção das notícias, dispensando as que nos contradizem e acolhendo as que confirmam nossas crenças.
A menos que encontremos algo absolutamente extraordinário nessa eventual pesquisa, ao final dela, provavelmente continuaremos com a convicção original. Quem crê, por exemplo, que nossas urnas eletrônicas são manipuláveis, não terá nenhum interesse em buscar matérias que refutem tal crença. Somente uma epifania (uma live do Mito?) teria o poder de transformar alguém radicalmente contrário ao voto eletrônico, em defensor dele.
Mas, são tantas e tão definitivas as razões que comprovam a austeridade do nosso sistema de votos, que qualquer pessoa com interesse real de esclarecer a verdade, em meia hora de leitura na internet, deveria ficar absolutamente convencido da lisura da justiça eleitoral brasileira.
Nas pesquisas eleitorais também aparece a ilusão do viés de confirmação. Se pretendo votar na Simone Tebet, vou acreditar piamente que ela está crescendo eleitoralmente, embora os institutos de pesquisa lhe deem míseros 3% de interesse dos votantes.
Também os auto iludidos Bolsonaristas garantem que o Presidente tem 60% das intenções de votos, ainda que os institutos de pesquisas sérios lhe atribuam, no máximo, 35%. Para os torcedores do Bolsonaro é muito mais conveniente acreditar em uma favorável informação anônima do Whatsapp, do que no profissionalismo dos pesquisadores.
Entretanto cada vez mais, os eleitores terão maiores dificuldades de classificar como desonestos os principais institutos de pesquisa do País, porque já há ferramentas na internet que analisam e agrupam as pesquisas, unindo-as em um só conjunto, diminuindo eventuais diferenças entre elas.
É o caso do Agregador de Pesquisas do jornal O Estado de São Paulo (Estadão). Ele resume as informações dos 14 principais órgãos de pesquisa do País, atribuindo-lhes pesos diferente, conforme a relevância. Desta forma, para o agregador, uma pesquisa recente tem maior importância que outra mais antiga; abordagens diretas contam mais que as telefônicas; maior número de eleitores ouvidos pesam mais e margem de erro menor, é mais valiosa. Além, claro, de prestigiar a tradição dos institutos e os acertos dos mesmos em pesquisas anteriores.
Esta ferramenta está disponível todos os dias no site do Estadão e começa a ser copiada por outros órgãos da imprensa. Com esta iniciativa fica cada vez mais difícil acusar de falsa esta ou aquela amostra, porque os dados divulgados são baseados na média ponderada dos maiores pesquisadores do Brasil.
Agora, se seu candidato está mal nas pesquisas agrupadas, não sofra negando as evidências, siga o que recomenda o refrão daquela badalada música sertaneja: “aceita que dói menos”. Eu já fiz isto.
Renato de Paiva Pereira – empresário e escritor