Em meio a triste notícia da morte de profissionais da imprensa, o vice-presidente da Associação Nacional de Jornais, Marcelo Rech emitiu uma nota em nome de todos os colegas de profissão das vítimas do acidente com a delegação da Chapecoense na madrugada desta terça-feira (29).
“Em todas as latitudes e longitudes, o mundo do jornalismo está abalado e consternado como raramente se viu antes,” escreveu Rech em nota. Segundo o vice presidente, os profissionais lidam com a morte no cotidiano, mas nunca estão preparados para lidar profissionalmente com a tragédia, quando ela atinge em cheio. “Trata-se de uma espécie de superstição: imaginamos que, quanto menos falarmos dela, mais distante ela deverá se manter”.
O avião transportava a equipe de futebol, jornalistas além da tripulação que seguia para Medellín, na Colômbia. Cerca de 81 pessoas estavam a bordo. Dentre elas 21 jornalistas que seguiam junto ao time para acompanhar o partida de futebol. Vinte profissionais faleceram e um encontra-se no Hospital, sem notícias sobre seu estado de saúde. Até o momento, a polícia da cidade colombiana, confirmou 75 mortes.
Leia na íntegra a nota enviada pela Agência Nacional de Jornais
Nosso eterno respeito
Embora a morte seja um fato presente no nosso cotidiano, nunca estamos preparados para lidar profissionalmente com a tragédia quando ela, sorrateira e repentinamente, nos atinge em cheio. Seja porque estamos em constante movimento, porque testemunhamos tiroteios, brigas e manifestações violentas ou porque, às vezes, somos os únicos a querer entrar em lugares de onde todos querem sair, profissionais da comunicação sentem com frequência a mesma dor das pessoas que protagonizam coberturas trágicas.
Além da sombra dos acidentes e dos conflitos, jornalistas são alvos com triste regularidade de agressões por quem quer calar a verdade e a liberdade de expressão. Mesmo assim, o risco de morte é raramente comentado entre nós. Trata-se de uma espécie de superstição: imaginamos que, quanto menos falarmos dela, mais distante ela deverá se manter.
Infelizmente, nada mais falso nesse episódio. A morte de 20 profissionais em um acidente é uma das maiores tragédias que já atingiu a imprensa mundial na história recente. Em todas as latitudes e longitudes, o mundo do jornalismo está abalado e consternado como raramente se viu antes.
Os 20 profissionais da comunicação que estavam no voo charter haviam sido escolhidos a dedo para a missão. Participar da cobertura de uma final internacional é uma pauta reservada a poucos – uma espécie de condecoração jornalística ansiada por todos que atuam na imprensa esportiva. Os colegas que morreram na Colômbia, entre os quais cinco queridos companheiros da RBS, eram exemplos dessa estirpe – combinavam seu talento com um dos momentos mais gloriosos do futebol catarinense e a paixão de informar.
Em nenhuma atividade há morte nobre – só há mortes e dramas pessoais e familiares a se lamentar e se solidarizar. Mas as duas dezenas de profissionais que perderam a vida nas montanhas colombianas deixam a suas famílias, amigos e colegas a eterna admiração e respeito por quem, como eles, não mediam esforços por levar informação ao público. Essa sim é uma missão nobre e fundamental para a sociedade e, por isso, os colegas mortos permanecerão para sempre como uma luz a inspirar a profissão e as próximas gerações de jornalistas.
*Marcelo Rech é vice-presidente Editorial do Grupo RBS, presidente da Associação Nacional de Jornais e presidente do Fórum Mundial de Editores.