"Vamos acompanhá-lo até sua última morada abraçando-nos como uma família, juntos como uma família, a família dessa pátria que ele nos deixa de herança: livre e independente", anunciou na TV, às lágrimas, o vice Nicolás Maduro, que informou que a morte aconteceu às 16h25 (17h55 de Brasília).
O corpo segue hoje para a Academia Militar em Caracas e a cerimônia fúnebre oficial será na sexta. O governo decretou luto oficial de sete dias. Não foi divulgado o local do enterro.
O desaparecimento de Chávez, provocado por uma doença sobre a qual o governo jamais divulgou detalhes, abre um período de incertezas na Venezuela.
Segundo o chanceler Elías Jaua, Maduro assumirá temporariamente o poder e convocará novas eleições para os próximos 30 dias. As Forças Armadas reconheceram o vice como presidente interino.
A decisão sobre quem assume é controversa, uma vez que a Constituição prevê: em caso de morte de um presidente não empossado, quem assume é o presidente da Assembleia Nacional. Reeleito em outubro, Chávez não fez seu juramento em 10 de janeiro, como determina a Carta.
Maduro, escolhido herdeiro político pelo esquerdista, deve ser o candidato governista no pleito.
A notícia comoveu seus apoiadores. Centenas foram à praça Bolívar e ao Hospital Militar de Caracas, onde ele estava internado desde o dia 18.
Grande parte dos meses da luta contra o câncer, no entanto, ele passou na Havana do seu mentor Fidel Castro, onde foi diagnosticado e tratado sob estrito controle de informação.
Ele recusou oferta de Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para ser atendido no hospital Sírio-Libanês.
"Hoje lamentavelmente, infelizmente e com tristeza digo para vocês que morreu um grande latino-americano: o presidente da Venezuela Hugo Chávez", disse Dilma, que cancelou viagem à Argentina.
Em seus 14 anos de mandato, Chávez beneficiou-se da alta histórica dos preços do petróleo, principal produto de exportação do país, nos anos 2000. Usou a estatal PDVSA para financiar programas sociais.
Os índices de pobreza e de desigualdade caíram –mais do que no Brasil de Lula, comparativamente–, mas o governo jamais se livrou da alta na inflação.
Vítima de tentativa de golpe em 2002, Chávez culparia jornais e TVs privados e lançaria ações contra eles colecionando acusações de autoritarismo.
Morreu antes de assumir o quarto mandato, para governar até 2019 –fez campanha, assessorado pelo marqueteiro brasileiro João Santana, dizendo-se curado.
Menos de dois meses depois, em 8 de dezembro, chocou o país na TV ao dizer que faria a quarta cirurgia contra o câncer, com riscos "inegáveis".
Seria a última aparição do exímio comunicador que levou o uso da TV pela política a um patamar de "reality show", inclusive para lidar com o câncer.
Horas antes de anunciar a morte, Maduro deu mostras de que seguirá a retórica do ex-chefe: anunciou a expulsão de dois militares que atuam na Embaixada dos EUA em Caracas acusados de "propor planos desestabilizadores".
Acusou os "inimigos" da Venezuela de "atacar" Chávez e causar a sua doença.
Fonte: FOLHA.COM