Circuito Entrevista

Valtenir não vai conseguir enfraquecer nosso grupo

Nascido em Cuiabá e juarense de coração, o deputado estadual Oscar Bezerra (PSB), 46 anos, se destaca por manter postura independente, apesar de pertencer à base de sustentação do governador Pedro Taques (PSDB). Empresário do setor de combustíveis, varejo e dono de fazenda, Oscar foi “laçado” pela população para ser prefeito de Juara, – cidade que fica a 696 km ao norte da Capital e tem 33 mil habitantes -, e fazer oposição ao grupo político que dominava a região à época, liderado pelo ex-deputado José Geraldo Riva.

Segundo Oscar, em 2004, o grupo político de Riva se articulava para impedir os concorrentes de lançarem um candidato a prefeito, mas que a sociedade se organizou e praticamente o "laçou" para concorrer ao cargo. “Foi meio que aclamação: ‘você será o nosso candidato, pois não aceitamos candidatura única’”, disse o parlamentar, que concluiu o seu mandato de prefeito com 78% de aprovação e perdeu a reeleição por 12 votos, que é contestado por ele.

Após cinco anos afastados da atividade política, Oscar lançou candidatura ao cargo de deputado estadual em 2014, sendo eleito com 20.390 votos. Se considerando ainda um novato na política, ele destaca que a maior de suas qualidades é a capacidade de reconhecer os próprios erros, ao contrário dos políticos tradicionais que tem o costume de ir "empurrando as coisas com a barriga". Além disso, segundo ele, outra qualidade é a coragem de expor os seus argumentos, mesmo quando é frontalmente contra o posicionamento de seu interlocutor.

“Eu bato a real em qualquer circunstância. Se eu for para um debate com uma pessoa que tem um posicionamento diferente de mim, não vai ser a fala dele que vai me inibir de fazer a contra razão”, reforça.

Debates assim estão sendo travados dentro de seu próprio partido, após a vinda do ex-correligionário, o deputado Valtenir Pereira para comandar a sigla no Estado.  Para o deputado, a forma como Valtenir veio, do PMDB para o comando do PSB, foi “sorrateira” e tem como objetivo desmontar o grupo político, com vistas às eleições de 2018, além de reeleger o atual presidente do PSB Nacional.

Confira os principais trechos da entrevista desta semana com o parlamentar estadual:

Circuito Mato Grosso: O senhor nasceu aqui em Cuiabá, mas fez carreira política em Juara. O que o fez mudar de cidade?

Eu fui pego meio que a laço para ser prefeito de Juara

Oscar Bezerra: Eu só nasci aqui. Na oportunidade, morávamos em Porto dos Gaúchos, que é o município que deu origem ao município de Juara. Meus pais vieram a Cuiabá para ganhar o neném e ficou apenas por três dias e já voltaram para a região. Apesar de cuiabano, eu me considero filho daquela terra, daquela região.

CMT: O senhor é um empresário de sucesso naquela região. O que o motivou a dividir o seu tempo entre a atividade empresarial e a política?

OB: O que me fez entrar na política foram as conjecturas de alguns adversários políticos da época e o grupo que sempre defendemos, do saudoso Zé Paraná, que é o fundador da cidade. O adversário na época era o José Riva, que tinha aquela prática de fazer política meio que de coronelismo, impondo. Isso que é o que me fez surgir candidato. Nunca imaginei, não tinha sido nem presidente de bairro, nada.

O Riva queria que lá tivesse um candidato único e a sociedade se organizou e foi meio que aclamação: você será o nosso candidato, pois não aceitamos candidatura única, o povo deve ter a opção de fazer a sua escolha. Eu fui pego meio que a laço para ser prefeito de Juara. Terminei o mandato com 78% de aprovação e perdi a reeleição por 12 votos.

CMT: O senhor disputou a eleição pelo PMDB…

OB: Pelo PMDB, naquela oportunidade tivemos um problema dentro do PSB e eu acabei migrando para o PMDB, que tinha uma representação política federal maior. Fui para lá pensando no município, verbas federais e não logrei êxito no PMDB. Posteriormente a minha derrota, que até hoje ela é questionada por mim e por toda a toda população de Juara, que há uma suspeita de algo não muito lícito naquela eleição.

Como é que uma pessoa que está em quase 80% de aprovação perde uma eleição com uma pessoa que não existia? O candidato do Riva praticamente era inexistente. Ficou uma suspeita no ar e conseguimos provar que tínhamos sido roubados na eleição de 2008, quando em 2010 lançamos a Luciane Bezerra [esposa de Oscar] apenas para ganhar do Riva em Juara.

Ela conseguiu nove mil votos, o Riva apenas seis mil em Juara. Provamos que tínhamos sido praticamente roubados na eleição passada, pois a Luciane conseguiu mais de cinco mil votos (em relação a Riva) na região, se consagrando a vigésima quarta colocada.

CMT: O PSB vive um dos seus momentos de maior crise, por conta da volta do deputado Valtenir Pereira à presidência da sigla e decisões do presidente nacional, Carlinhos Siqueira, que parece não dar espaço para a opinião dos filiados em MT. Como o senhor avalia a atual situação do PSB atualmente?

OB: Quando o PSB era presidido pelo Eduardo Campos (morto em um acidente de avião em 2013), tinha um direcionamento de centro, mais para direita. Agora com o comando do Carlos Siqueira, ele virou centro-esquerda, praticamente da esquerda. Está sendo trabalhado a nível nacional que o PSB acompanhe o direcionamento do PT. Se, porventura, for lançado um candidato do PT, o PSB seria o partido que iria dar sustentação a esse projeto nacional.

Os líderes de Mato Grosso não sinalizam nesta mesma direção. Esse é o primeiro atrito. O segundo atrito é a eleição da Executiva Nacional em outubro. Nós temos como candidato o vice-governador de São Paulo, que é o Márcio França. O atual presidente Carlos Siqueira não gostou desse posicionamento do Fábio [Garcia], do [Adilton] Sachetti. Tudo isso veio a culminar nas votações das reformas, quando o Fábio votou contra ao que o partido teoricamente estava defendendo. No entanto, o Fábio não foi chamado pelo Carlinhos para ser orientado a votar contra a reforma [Trabalhista]. Depois que ele votou, recebeu a notícia de que o partido não concordaria e recebeu a sanção.

Legenda

O resumo da ópera: o que está acontecendo em Mato Grosso não é só aqui no Estado. Está acontecendo em vários, por esses interesses nacionais da eleição da diretoria, que visa a manutenção do Carlinhos na presidência. A votação da Reforma Trabalhista foi pano de fundo disso tudo, porque se não tivesse ela como pano de fundo, automaticamente quem seria o presidente seria Sachetti, pois o Sachetti não votou na reforma, pois foi no dia do velório da esposa dele. No entanto, ele foi penalizado.

Hoje, o Marcio França tem a maioria, só que com essas articulações do Carlinhos, ele está minando. Tirando, por exemplo, o voto daqui de Mato Grosso que passa a ser do Valtenir, e que passa a ser dele [do Carlos Siqueira].

CMT: Qual vai ser o posicionamento deste grupo liderado por Fábio Garcia e Mauro Mendes?

OB: Nós vamos continuar no PSB, até porque está tramitando ações na justiça. Uma contra a Executiva Nacional para reaver o partido, pois o próprio presidente não cumpriu a absolutamente nada do estatuto. O caso do Fábio não foi para a Comissão de Ética para expulsar ou destituir alguém e deveria passar pela comissão. Esta foi uma decisão monocrática do presidente Carlos Siqueira. Ditatorial.

A Justiça tem que servir para ele nessa questão, eu acredito que ela possa se manifestar, além de o Ministério Público Federal.  O suplente de deputado federal também pode pedir a cadeira de deputado, como eu sei da intenção dos mesmos eM fazer. Quer dizer, ele não poderia sair do PMDB para o PSB, porque a legislação não permite e a lei tem que valer para mim e para ele.  

CMT: Dentro do partido, o descontentamento com Valtenir é unânime?

OB: Unanimidade não existe em lugar nenhum. É óbvio de que a chegada do Valtenir possa ter contentado algumas pessoas em algum município, não posso generalizar. No entanto, a "esmagadora maioria" não concorda com a vinda dele, principalmente nessa circunstância. Se ele quisesse voltar ao PSB, como ele diz na nota dele, pois é o partido que ele foi eleito deputado federal, ele deveria vir bater na porta e se apresentar como um soldado militante.

Não da forma que ele usou, sorrateiramente, pactuando de um jogo nacional de interesse e também aqui no Estado, tem muita coisa por trás. Destituir PSB e os líderes que hoje estão aqui tem um cunho muito eleitoral. O ano eleitoral se avizinha e obviamente o PSB, não estando com esse grupão do governador [Pedro Taques] -, que é a ideia do Valtenir desde o início -, poderia enfraquecer o grupo. Mas, não vão conseguir, pois se nós resolvermos sair, iremos sair em bloco.

CMT: Acredita que toda esta questão pode atrapalhar o futuro do PSB nas eleições de 2018? O partido corre risco de “minguar” com esse racha?

OB: Uma das preocupações das pessoas do PSB é que não façamos migração independente. Por exemplo, o Oscar vai para o partido A, o [Eduardo] Botelho para o B e o Mauro [Savi] para o C. Desta forma nós perdemos a força e a consistência que nós construímos como grupo. Precisamos tomar uma definição de qual seria o partido e, todo mundo – os dois federais, os cinco estaduais, os prefeitos, e boa parte dos vereadores que não concordam – poderiam migrar. Obviamente, nós vamos respeitar a lei e essa migração seria somente em março de 2018, quando abrirá a janela partidária.

CMT: O DEM, PP e o próprio PSDB já se mostraram abertos em filiar o senhor e colegas do PSB. Como está essa questão de convites? O senhor já tem um partido em preferência, um plano “B”, caso a saída do PSB seja inevitável?

OB: Como eu disse, nós vamos avaliar em grupo qual é o melhor modelo. Tem vários cenários que podem ocorrer ainda. Por exemplo, a reforma política está acontecendo, se porventura acabar as coligações como está ventilando, nós precisamos adentrar em um partido forte, consolidado, de preferência que tenha vários deputados. Assim a gente poderia formar um bloco grande e pesado, com consistência de eleição de todos. Se não, já é outra estratégia.

Nos comprometemos em ajudar a governar

Poderíamos entrar em um partido que não tem nenhum deputado e que nós iriamos, de certa forma, sermos os únicos a estar naquele cenário. São conjecturas que não tem como definir qual seguir. Ficamos lisonjeados do PP, da declaração do Blairo [Maggi] dizendo que estenderia o tapete vermelho para todo o grupo do PSB. Tem o PTB, tem o DEM, o PPS, o próprio PSDB que já sinalizaram convite. Como eu disse, será definido pelo grupo, se não revertermos judicialmente.

CMT: O PSB é o principal partido de apoio ao Governo Pedro Taques. Como será a relação com o Executivo, caso Valtenir, realmente, decida levar o PSB ao desembarque do Governo?

OB: Não muda nada. Independente da sigla, eu, o Max Russi, o Eduardo Botelho e o professor Adriano, assim como o Mauro Savi, temos compromisso com a gestão Pedro Taques. Nos comprometemos em ajudar a governar e vamos até aonde o partido assim definir. Tudo tem que ser definido em maioria absoluta, não pode simplesmente, em função de um probleminha que ocorreu no meio do circuito, querer desvirtuar o que fora pactuado para chegar até o final.

CMT: Quando a CPI das Obras da Copa do Mundo ainda estava em andamento, o senhor disse que iria descobrir um grande escândalo de corrupção. Hoje, com o relatório já votado e o desejo do Governo em continuar as obras do VLT com as mesmas empresas, qual a avaliação que faz do trabalho da comissão?

OB: Felizmente o Ministério Público Estadual e Federal tem a mesma leitura da Comissão Parlamentar de Inquérito. Eu disse de que iriamos colocar o maior escândalo de corrupção às claras e foi isso que fizemos. Nós votamos o relatório e entregamos aos órgãos de controle. Eu já expressei ao próprio governador e ao secretário Wilson Santos, a minha insatisfação nesta definição do Governo em continuar a obra com a mesma empresa no VLT. Eu já expressei isso na tribuna e em todos os programas que eu fui entrevistado, pois eu acredito que é um contrassenso. Nós estaríamos premiando uma empresa que não fez o seu papel e que teve participação em muita coisa errada que o governo anterior cometeu.

CMT: Atualmente, o senhor também preside a CPI do MPE, que se enrola há algum tempo, sem grandes novidades. Quais serão os próximos passos e qual a expectativa para o relatório final?

OB: É importante relatar de que mesmo fazendo parte da comissão como vice-presidente, o deputado Max Russi é que conduziu todo esse processo de um ano e três meses de investigação. Após ele ir para a Secretaria de Assistência Social, eu assumi automaticamente a presidência. Eu analisei os documentos que foram investigados e acredito que já tem coisas suficientes para o relatório.

Eu perguntei ao deputado Dr. Leonardo (relator) qual o prazo que ele gostaria de finalizar o relatório. Nós não podemos usar do Parlamento Estadual para termos aqui CPI na intenção, de repente, de fazer pressão a um Poder ou a outro. Essa é minha visão. Como negócio está aí e já foi investigado, eu falei que quero a conclusão e o deputado Leonardo pediu 60 dias. Se tivesse mais coisas a comissão não estava parada, estava sendo tocada, então nós votamos a prorrogação, que vence no mês que vem e vai ser finalizado a CPI do MP.

CMT: O senhor é o deputado com maior número de indicações, na maioria para o interior. No entanto, o Governo não repassou os valores das emendas parlamentares. Quanto de emenda o senhor já destinou, mas está “preso”? Qual a avaliação que faz quanto a este problema do Executivo?

OB: Eu fico feliz por ser o deputado mais demandado, porque todas as minhas ações de indicação ao Governo são porque a vereadores, prefeitos e lideranças dos municípios trazem até mim. O não pagamento das emendas é consequência da preocupação dessa situação econômica que o Estado está vivenciando, com dificuldade de cumprir questões básicas como a saúde.

Com as emendas parlamentares não é diferente, temos aí déficits dos primeiros anos (2015/2016) e consequentemente de 2017. O governador se comprometeu de que a lei seria cumprida, pois a emenda passou a ser esse ano impositivo, ou seja, está prevista no orçamento os milhões destinados aos parlamentares.

Eu acredito que, legalista como Pedro [Taques] é, não vai deixar de repassar estas emendas que estão como emendas impositivas. Pode ser que o ‘patrásmente’ realmente fique para trás, mas a emenda que está impositiva ele deve cumprir, porque ele é de cumprir lei.

CMT: Mesmo sendo da base de Taques desde o início do mandato, o senhor nunca poupou críticas a membros do Governo. Casos em que questionou a atuação do ex-secretário Paulo Taques e, mais recente, do secretário Wilson Santos. Tais críticas prejudicaram, de alguma forma, sua relação com o governador?

OB: Jamais, desde o primeiro dia do mandato dele eu fiz questão de colocar como seria pautada a minha participação no Parlamento Estadual. Naquela oportunidade, eu citei um exemplo:até o ano passado, governador, tinha um senador da República que era um exemplo para nossa nação, que é ele, o Pedro Taques, pelas posições que tinha. Não se deixava influenciar por ninguém e não era senador de fantoche, e assim eu vou ser no Parlamento Estadual.

Não vou aceitar manipulação de ninguém e não sou deputado estadual de fantoche de governador, de qualquer um. As minhas convicções são formadas e vão até o fim. Então, já no início do nosso mandato nós tivermos essa conversa. Obviamente que alguns desencontros ao longo do processo tiveram. Eu bato daqui, rebatem de lá, mas não ferem em absolutamente a relação, porque já tinha sido avisado, então não tem nenhuma preocupação quanto a isso. 

Às vezes é um track, mas em função do eco dá um barulhão danado

CMT: Qual a avaliação que o senhor faz da atuação da Assembleia em relação ao Executivo. Continua sendo um “puxadinho” do Governo, não se posicionando e buscando autonomia?

OB: Tem momentos que está de ‘puxadinho’, tem momentos que dá uma posição mais forte. É natural que uma Assembleia Legislativa como é a nossa, com 18 deputados da base, tendenciosamente nós vamos atender aos interesses do Governo. Obviamente dentro do que é correto, legal.

Como eu disse que me posiciono em várias situações de forma contrária ao Governo. Um exemplo é o decreto 380, do Comércio. Eles queriam passar o decreto 380 para aumentar o imposto naquela oportunidade. Eu liderei para não ter, para sustar os efeitos desse decreto e nem precisou sustar, pois o governador mesmo retirou e a partir daí começamos a discussão da reforma tributária.

CMT: A Assembleia sempre foi questionada por conta de gastos exorbitantes, que gerou operações e ações na Justiça, por conta de desvios. Nesta semana, evidenciou-se a questão do convênio com a Faesp, contratada para auxiliar algumas CPIs e realizar outros serviços, por R$ 100 milhões. Qual a avaliação que o senhor faz em relação a esse convênio?

OB: É importante relatar à sociedade que os presidentes da CPI que estavam em curso, não têm legitimidade ou autonomia de fazer contratação de nada. Nós apresentamos os profissionais que precisavam ser contratados e a Mesa Diretora que tem essa legitimidade. O contrato da Faespe não tem absolutamente nada a ver com nenhum dos presidentes das CPIs, mas, sim, da Mesa Diretora.

Eu acredito que todo fato que pese sob ele suspeita de irregularidades, precisa ser investigado, nós defendemos isso. Obviamente, muitas vezes ele é potencializado demais da conta. Às vezes é um track, mas em função do eco dá um barulhão danado e não tem tanta representatividade assim. Nesse caso, eu desconheço todo processo, não participei, não sei te falar se é um track ou uma bomba gigante.

CMT: E em geral, acredita que a atual Mesa Diretora tem uma gestão voltada para a economia e bons trabalhos?

OB: Não só atual, como a passada. Historicamente, aquela devolução das ambulâncias nunca ocorreu antes. O parlamento tem 180 anos de existência e nunca tinha sido devolvido um centavo para trás. O Maluf e o Nininho tiveram esse bom exemplo e agora, em função de atraso do repasse, o Botelho está cortando na própria carne.

Ele está fazendo um entendimento com o Governo, para que se aplique essa economia de quase R$ 100 milhões na saúde, que está um caos. Eu acredito que, historicamente, essa legislatura está fazendo um papel que nunca foi feito no Parlamento estadual. Aqui, realmente, sempre foi usado para ser saqueado e agora estão fazendo economia, para ajudar dentro de projetos sociais como é o caso da Saúde.

CMT: O governador surgiu como uma grande esperança para a população, que estava descontente com a má gestão de Silval. No entanto, hoje Taques se vê sob muitos escândalos, como a questão dos grampos e acusações de caixa 2 nas eleições de 2014 – além da crise na saúde e a questão da RGA. O senhor acredita que a população está decepcionada com a gestão do tucano ou ainda acredita no governador?

OB: Nós estamos juntos com a gestão Pedro Taques, não podemos nos desvincular da gestão, até porque não seria leal. Nós estamos desde o início do processo. Se o grupo entender que em algum momento, na fase final de construção do processo eleitoral, que têm que se desligar é diferente. Mas, até então, nós vamos defender que todos os indícios de irregularidade precisam ser apurados, para depois ter acusação. Falar que tem é uma coisa. Eu, sem constrangimento nenhum, anunciei o caso da Seduc seis meses antes dele estourar, no plenário. Quer dizer, não existe constrangimento, porque tinha realmente indícios.

Se foi consumado, a investigação é que vai dizer. Responsabilizar os culpados é natural, seja Pedro, Paulo ou Zé. Tem que ser apurado e responsabilizado. Agora com relação à RGA, em função de um descompasso da equipe do Governo, naquela oportunidade [2016], criou-se essa celeuma, oportunizando a oposição nadar de braçada em cima dessa questão.

No entanto, só dois Estado da Federação pagara, a RGA neste mandato, um deles é o governador Pedro Taques. Este ano agora que foi feito acordo para 2017 e 2018, só Mato Grosso, e não é dois estados, que vai dar o revisão. Nós estamos vivendo um momento de crise. Estamos vivendo um momento em que faltam R$ 250 milhões para a saúde. Para colocar em dia e só a RGA, que foi prevista agora para 2017 e 2018, vai custar R$ 500 milhões a mais ao contribuinte, que é quem paga a conta. 

CMT: Essas questões podem atrapalhar o projeto político de reeleição de Taques?

O governador não está preocupado com reeleição

OB: O governador não está preocupado com reeleição. Está preocupado em fazer gestão e eu acho que ele está certo nesse caminho. Se ele ficar preocupado em reeleição, teria que fazer concessões que não seriam viáveis para a gestão. No entanto, não está sendo feito. Pode ver que ele tem uma postura até muito dura com os próprios companheiros, mas é em função de que ele quer fazer a gestão. Agora, o que precisa ser esclarecido à sociedade é que o que estava previsto para engessar esse governo é algo fora da realidade.

Por exemplo, é algo que salva os municípios hoje, mas o Fethab na época do Silval Barbosa não se repassava um centavo aos municípios. Hoje 50% do Fethab vai para os municípios e só neste Governo já repassou R$ 700 milhões. Sabe quando aconteceu isso antes? Nunca. No governo Silval inteiro, nunca. Nem metade desse dinheiro foi repassado aos municípios, então deixou esse gatilho que foi bom. Mas, para engessar, eles fizeram em 2014, 31 leis de progressão de carreira aos servidores públicos. Ficaram o mandato inteiro do Blairo [Maggi], o mandato inteiro do Silval sem progressão nenhuma. Na hora que eles iam sair, fizeram as leis de progressão, pois sabiam que não dava continuidade ao mesmo grupo político.  

Foram progressões de carreira, de incremento de 11% de uma carreira, 12% para outro 7% para outro, que levou a folha de pagamento do Estado ao teto limite, que o Tribunal de Contas já está sinalizando. Então, tem um monte de pegadinha nesse negócio e, mesmo assim, o governador já fez o dobro de asfalto que Silval fez em 4 anos. Então, está sendo feito um trabalho diferenciado. Eu acho até que está faltando publicidade um pouco melhor. Não é nem quantidade, é um pouco melhor. O povo precisa saber mais do que realmente está acontecendo. 

CMT: Quais os pontos que Taques ainda precisa melhorar em sua gestão?

OB: A saúde é o gargalo. É fundamental que ele vire essa chave, como ele mesmo disse. A chave da saúde ainda não virou, ou seja, não funcionou ainda. Então, nós estamos focados nessa questão de dar uma resolução ao problema da saúde, que é crônico. Os municípios sofrem com atrasos nos repasses, os hospitais regionais praticamente fechando as portas, o atendimento péssimo, de baixa qualidade. É preciso virar essa chave e é nisso que nós estamos esperançosos, que aconteça agora nesse próximo semestre.  

CMT: Muito se fala que Mauro Mendes seria uma alternativa para a disputa do Governo no próximo ano. Acredita que o grupo possa abortar o projeto de reeleição de Taques? Ou a aliança feita em 2010 será mantida?

OB: Você falou tudo. Nós fazemos parte de um grupo, grupo esse que o Pedro Taques faz parte, que o DEM faz parte, Jaime [Campos], Júlio [Campos], Dilmar [Dal’Bosco],  e que vários outros partidos fazem parte. Se o contexto, de repente, for nesse sentido, de que o nome será do fulano e não do beltrano, é natural que o grupo vai abraçar. Agora, hoje tem o Pedro Taques, legitimamente, na condição de candidatura ao Governo. Neste cenário legítimo, o Mauro se enquadraria na majoritária com a vaga para o Senado.

CMT: Acredita que Mauro saia ao Senado?

OB: Tem potencial para isso e para Governo. Mas, como a legitimidade hoje, em função do mandato eletivo, é do Pedro e em função do grupo ser coeso, o Mauro tem a vaga obviamente garantida ao Senado.

CMT: O senhor irá buscar sua reeleição ou pretende buscar outro cargo?

OB: Vou para mais um mandato de deputado estadual. No futuro a gente verifica se para ou continua com o outro projeto, de repente aí, na Esfera Federal, Mas nesse mandato eu ainda vou pleitear a reeleição.

CMT: Qual avaliação que o senhor faz de seu mandato parlamentar? Muito diferente de quando ocupou a Prefeitura de Juara?

OB: É muito diferente, porque na frente do município, assim como o Governo do estado, – eu falo isso nas reuniões, principalmente quando eu faço reuniões com os vereadores -, o deputado, nada mais é do que um vereador melhorado. É um vereador que tem autonomia no Estado inteiro. Esse é o deputado, mas o poder da caneta, da definição é do prefeito e do governador.

Então, quando eu fui prefeito, as realizações do que eu pretendia fazer para melhorar a condição de vida do cidadão, era muito melhor de acontecer. Hoje como deputado, que muitas vezes você quer, às vezes aporta um recurso, mas depende do homem da caneta. Senão, não acontece aquela ação para sua população.

O deputado tem que se conscientizar de que é importante estar num alinhamento com o Governo do Estado, para o bem do seu povo. O deputado que faz uma oposição equivocada, só no ‘griteiro’, pode até ter uma vantagem com um grupinho de pessoas, mas lá na ponta, onde é que votaram de fato nessa pessoa, não está recebendo absolutamente nada, pois é óbvio que o Governo vai priorizar os seus, em detrimento de outros que não são.

CMT: O senhor pensa em futuramente disputar o governo do Estado? Tem esse sonho?

OB: O político que falar que não sonha em galgar os degraus de cima, ele é mentiroso. É natural que o político, quando está no processo de crescimento galga outros degraus, mas nesse caso específico eu penso na reeleição. Até porque eu me coloco no meu lugar, tem gente muito mais graduada, com mais condição para qualquer outro cargo, Senado ou Governo, do que eu no momento.

Mas, o futuro a Deus pertence. Se for assim a vontade dele, nós estaremos prontos para batalha. Obviamente que tendo a caneta e a oportunidade de governar o Estado, seria, vamos dizer assim, voltar novamente nas dimensões a ser um comandante, com a oportunidade de fazer diferente. Eu tenho certeza absoluta de que se for reservado isso para o futuro, nós faremos o nosso papel como fizemos em Juara.

CMT: O que o diferencia?

É meio um estigma ou um costume, uma prática comum, mas o político gosta de levar na barriga. Eu não tenho essa, dá é dá e não é não. Bato a real em qualquer circunstância que tiver, se nós formos fazer um debate com outra pessoa que tem um posicionamento diferente de mim, não vai ser a fala dele que vai me inibir de fazer a contrarrazão. Eu acho que é um diferencial. Agora recentemente, eu fiz uma nota em função de uma informação da minha equipe, de que diretórios municipais do PSB tinham sido destituídos e hoje de manhã [quarta-feira] nós checamos que a informação não procede.  Eu imediatamente emiti uma nota reconsiderando a minha fala, dizendo que tinha errado. Eu não tenho dificuldade [de reconhecer o erro].

Se não, daria a impressão à sociedade de que eu tinha feito na intenção de denegrir a imagem do Valtenir com uma mentira. A informação que me foi passada, que está o link lá na minha nota é de que estavam destituídos todos os diretórios, só que a minha equipe olhou no link antigo, tinha um link novo dentro do site que estava apto todas as diretorias dos municípios. Imediatamente reconheci o erro e mandei para o deputado Valtenir, para a equipe dele a minha nota.

 

Redação

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