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Valorizo cada minuto’, diz jovem que buscou ar em freezer na boate Kiss


 “Tudo que dá para fazer, eu faço na hora. Nunca deixo para falar amanhã o quanto gosto de alguém. Tento aproveitar cada minuto ao lado da pessoa, valorizo cada minuto”, conta ao G1 Ingrid, que completou 21 anos em 8 de abril. Apesar do trauma, Ingrid considera-se mais otimista. Entre as lições que aprendeu após a tragédia, a mais valiosa foi a de nunca postergar.  “Se antes eu achava que sabia muita coisa, agora sei que não sabia nada. Temos que estar sempre dando valor, e é isso que quero passar para os meus filhos. Família é o que existe de mais importante”.

Ingrid trabalhava atrás de um balcão quando o fogo começou em 27 de janeiro. Ao perceber que a fumaça tomava conta do ambiente, abriu o freezer, puxou ar e pulou o móvel para fugir do local. Caiu e foi ajudada por um conhecido que só a identificou do lado de fora do prédio. Já em casa,  a estudante sentiu-se mal e ficou uma semana internada no CTI de um hospital de Porto Alegre por problemas respiratórios.

 Três meses depois do incêndio, Ingrid faz estágio em um posto de saúde de Santa Maria e já pensa na possibilidade de sair do município para investir na carreira. Se antes trabalhava na casa noturna, agora a estudante vê a tragédia como um reforço na escolha do seu futuro. “Quando entrei na faculdade, foi meio no escuro, não sabia direito se era isso. O que aconteceu só confirmou. Mesmo na situação que eu estava no dia, eu quis dar minha parcela de ajuda na situação”, revela, entusiasmada com o futuro. Casamento e filhos ficam em segundo plano, por enquanto.

De manhã, Ingrid tem dificuldade para acordar. É durante o sono que a jovem relaxa. “Todo mundo dizia que não conseguia dormir. Comigo é ao contrário. À noite entro nos sonhos e esqueço. No restante do tempo é impossível não lembrar”, conta.  A estudante acredita que há uma explicação para o que aconteceu. “Sou espírita e busquei na religião respostas. Tudo já estava escrito e aquelas pessoas cumpriram a sua missão”, afirma.

O momento mais difícil do dia para a jovem é a aula. Alguns dos amigos que perdeu na boate eram colegas da faculdade. “Chego aos lugares e é impossível não lembrar, pensar que estive ali com a pessoa, que ela gostava de fazer determinadas coisas”, relembrou. Os perfis das vítimas que não foram apagados pelos parentes em redes sociais também reforçam a saudade. Quando a dor aperta, Ingrid gosta de escrever. “Costumo ir até o Facebook e contar que sonhei com meu amigo. Agradeço a ele por ter aparecido nos meus sonhos e digo que continuo lutando”.

Família recebe atendimento psicológico
O incêndio abalou toda a família de Ingrid. O irmão, Fabio, se formou no último fim de semana como soldado do 1º Batalhão Rodoviário da Brigada Militar. Ele também estava na Kiss na madrugada da tragédia. A família recebe atendimento psicológico semanalmente, mas Ingrid garante que a presença dos amigos é o que mais ajuda. “Passei um bom tempo rodeada de gente e isso ajudou bastante”, agradece.

Sair para festas novamente é um assunto ainda delicado. A gaúcha ainda não se sente recuperada, e ambientes fechados lhe causam iritações nas vias respiratórias. "Saí para um aniversário de uma amiga. Fiquei com medo, mas ficar trancada em casa não vai mudar o que aconteceu", completa.

Redação

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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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