Opinião

Valéria del Cueto: Villa Manin e Capa, dupla jornada

 
O vazio do grande pátio se descortinava cercado por arcos das construções que ladeiam a área central. Antes, duas torres com pequenos espelhos d’água vigiam  o portão de acesso à Villa Manin, residência do último doge de Veneza, Ludovico Manin.
 
Dali, Napoleão Bonaparte comandou por dois meses a fase final da campanha contra o estado de Veneto.  Ali, onde aquartelou suas tropas, foram feitas as negociações para a rendição. Com a assinatura do tratado de Campo Formio (17 de Outubro de 1797), entre a Áustria e a França, alteravam-se os limites da Europa e era encerrada a história milenar da República de Veneza Serenísima. Época registrada nos restaurados salões e galerias do palácio. Como era a Villa naquele tempo?  O quarto onde dormia, gabinetes e salas onde circulava com seu staff no desenrolar dos acontecimentos, em 1797. A Villa Manin de hoje resguarda e exibe sua arquitetura e seus tesouros como as exposições permanentes do acervo do Muzzeo dele Carroze e Armeria, com sua respeitável coleção de armas e armaduras de várias partes do mundo.
 
Mas isso não é tudo. O segredo parece ser misturar a tradição com a contemporaneidade. Villa Manin é um grande centro de artes e recebe, até 19 de janeiro de 2014, a retrospectiva “ROBERT CAPA, da realidade ao front”, coincidindo com o centenário de nascimento do artista húngaro, naturalizado nos EUA e, trazendo um diferencial proporcionado por parcerias com Magnum Photos em Paris e Centro Internacional de Fotografia, em Nova York, revela um lado pouco explorado do fotógrafo e explorado pela curadoria de Marco Minuz.
 
Claro que são apresentadas as principais experiências que caracterizam o trabalho de Capa: os anos em Paris, a Guerra Civil Espanhola, entre a China e o Japão, a Segunda Guerra Mundial, com o desembarque na Normandia, a Rússia após a Segunda Guerra Mundial, o nascimento do estado de Israel e, finalmente, o conflito na Indochina, onde Capa morreu prematuramente em 1954. O pulo do gato é a coleção fotografias dedicadas ao mundo do cinema.
 
Capa, desde 1936, está por trás das câmeras cinematográficas. Na Espanha documenta algumas sequências da Guerra Civil, com o cinegrafista russo Roman Karmen, do filme "Espanha 36", dirigido por Jean -Paul Le Chanois e produzido por nada menos que Luis Buñuel. No ano seguinte, filma mais sequências para o noticiário americano "March of Time". Em 1938 vai para a China contratado como assistente do diretor Joris Ivens  no documentário “Os 400 milhões” sobre a guerra no Sino – japonesa.
 
Entrada arcos Robert Capa - Foto: Del CuetoSeu encontro com a atriz Ingrid Bergman, em junho de 1945, em Paris, e o caso de amor que durou 2 anos,  permite a Capa fazer fotos no set do filme "Notorious" (1946) de Alfred Hitchcock, estrelado por Bergman. Em 1948 fotografa o "Arco do Triunfo" de Marcos Lewis.  Também fotografa, na Itália, o set do filme de Arroz Giuseppe de Santis " Bitter " (1949). Em 1950 roda em Israel o documentário “The Journey", sobre os sobreviventes do Holocausto que imigraram para lá.
 
Em 1952, em Roma, fotografa "The Golden Coach" de Jean Renoir, com Anna Magnani, e os sets "Moulin Rouge", dirigido por seu amigo John Huston. Em 1953, "O Tesouro da África”, estrelado por Humphrey Bogart e Gina Lollobrigida, e colaborando com Truman Capote, "A condessa descalça” com Ava Gardner.
 
O fim da Segunda Guerra e criação da agência fotográfica Magnum fundada por Capa, Henri Cartier- Bresson, David Seymour e George Rodgers coincidem com suas incursões em Holliwood, tão bem exploradas em Villa Manin.
 
É ver pra crer em mundos que já não existem mais. Mas marcaram e transformaram a realidade…
 
*Valéria del Cueto é jornalista, fotógrafa e gestora de carnaval. Essa crônica faz parte da série “No rumo”,  do SEM FIM… delcueto.wordpress.com

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