Para receber o reforço do reforço da vacina de covid-19, procurei um posto de saúde do SUS. Lá três coisas me chamaram a atenção: recepção cordial, eficiência no atendimento e escassez de pacientes em busca de vacinas.
A falta de interessados no imunizante não me surpreendeu porque desde a campanha do governo passado, parte da população descreu do poder das vacinas, esquecendo-se de que o descobrimento delas e dos antibióticos alteraram profundamente a vida das pessoas. A prevenção de diversas doenças – sarampo, varíola, paralisia infantil, entre outras – e a possibilidade de vencer as infecções que muitas vezes levavam à morte trouxeram inegável alívio para as pessoas.
Mas, nem sempre foi fácil convencer o povo a se prevenir. Em alguns momentos houve resistência, como mostra a “Revolta da Vacina” que aconteceu no Brasil em 1904. Neste episódio a população do Rio de Janeiro recusou a vacinação obrigatória de varíola e fez, durante cinco dias, o maior quebra-quebra que o País já tinha visto, estimulada por boatos absurdos contra a imunização. Entre essas avós das “fake News” “viralizava” uma que alertava o povo que quem tomava a vacina ficava com cara de vaca. Passados 120 anos o obscurantismo continua vivo: em 2020 inventaram que quem tomava a vacina da Covid virava jacaré.
Não existe maior instrumento de saúde pública do que a vacina. Através dela muitas doenças foram vencidas. É o caso da varíola, motivo da revolta de 1904, que foi declarada extinta em 1971.
O povo brasileiro costuma aderir à vacinação. Mas, há três anos, influenciado por mentiras, começou a questionar a vacina da covid, que mesmo ridicularizada pelo governo da ocasião, acabou sendo aceita, controlando enfim a doença. A principal lorota contada era que a vacina não tinha garantia de qualidade porque foi feita às pressas.
Por que voltei a escrever sobre vacina neste momento em que a Covid não está mais em evidência? A primeira razão é valorizar o SUS, que se destaca mundialmente como exemplo de campanhas bem sucedidas de vacinação. A segunda foi a satisfação de ver, neste começo de outubro, receberem o Prêmio Nobel de Medicina a bioquímica húngara Katalin Karikó e o imunologista americano Drew Weissman.
E sabem qual o extraordinário feito deles? Foi terem descoberto a técnica do RNA Mensageiro que possibilitou o desenvolvimento da vacina da Covid-19 em tempo recorde. O reconhecimento mostra como estavam errados os que espalharam a nefasta e irresponsável mentira que buscava desqualificar o imunizante.
É tempo de voltarmos a acreditar nas vacinas em geral e na da covid em particular. Os Postos de Saúde estão prontos para atender a demanda com a presteza e atenção que certamente surpreenderão os que os desprezam.
Na Revolta da Vacina em 1904 houve um fato interessante: quando a epidemia voltou em 1908, o povo passou a procurar o imunizante espontaneamente. A ciência começava a vencer a ignorância.
Renato de Paiva Pereira