Cidades

Usuários reclamam: falta insulina na rede pública de saúde

Fazer uso diário de medicação não é algo agradável. No caso dos dependentes de insulina – os diabéticos – a situação pode ser ainda pior, pois o controle é muito específico e com restrições extremas, tendo o doente que controlar pontualmente a glicemia para, literalmente, não morrer.

Não é novidade que há deficiência com o Sistema Único de Saúde no Brasil, e em Mato Grosso não seria diferente. No que tange à distribuição de medicamentos a coisa se complica ainda mais, quando, por motivos de qualquer natureza, há situações como a que está ocorrendo atualmente, quando pacientes de uso contínuo de medicação não obtêm o fornecimento e passam a correr risco de morte.

Apesar de alguns tipos de medicamentos destinados aos diabéticos estarem disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde – os ‘postinhos’, outros tipos de insulina só são encontrados na Farmácia de Alto Custo do Estado.

O problema é que essa medicação anda faltando, segundo denúncia de usuários, no âmbito estadual, o que tem tirado o sono de algumas pessoas.

É o caso da aposentada Enir Gabriele Ribeiro, 68 anos. Ela afirma que reiteradamente há falta de medicação. “Já comprei mês passado, pois a falta é constante e o pior é que muitas vezes não tenho dinheiro e não posso ficar sem, preciso das duas”, explica ela, se referindo à insulina de ação ultra rápida – Lispro ou Apidra (Glulisine) – e a de ação lenta – Lantus (Glargina).

“Mês passado me ligaram falando que tinha chegado a Lispro, quando vim buscar já tinha acabado e fui embora sem nenhuma das duas. Dois dias atrás me ligaram avisando que havia chegado a Lantus e eu vim correndo buscar, agora só vou precisar comprar uma, são menos R$ 300 reais de gastos”, diz a aposentada em um mix de alívio e descontentamento.

A situação é muito séria e pode ter consequência graves, como relata Enir, que já teve picos de glicemia. “Já estive duas vezes na UTI do Hospital Júlio Müller, pois minha glicemia subiu e passou de 600, sendo que o normal é de 90 a 110”.

Situação bem pior ocorreu com o senhor Elias de Souza Magalhães, 52 anos, que – em 2014 – chegou a ficar em coma por conta da falta de medicamento.

“O remédio que uso custa R$ 100 reais e dura de 4 a 5 dias. Eu não posso ficar sem, senão eu morro, como já quase morri, então eu compro quando falta para não correr o risco. Tenho que comprar. E se não tenho dinheiro, tenho que pedir emprestado”.

Elias pontua ainda que, muitas vezes, as farmácias populares, onde é possível comprar medicamentos de uso contínuo com desconto, não têm os rótulos com desconto, fazendo com que o usuário compre com valor de mercado.

“A pessoa que não tem como comprar, quando falta a medicação, morre”.

Maria Helena Lopes Dias é outro exemplo. Ela também diz ter passado o mês de novembro em apuros, já que teve de comprar duas vezes um tipo de insulina que estava em falta na Farmácia de Alto Custo. “Comprei uma de R$110 reais, depois de uns dias mais uma, então gastei R$ 220. Hoje me ligaram em casa avisando que havia chegado a que eu uso aqui e vim buscar, estou aliviada, depois de um mês de espera”.

A Secretaria de Estado de Saúde, por meio da Superintendência de Assistência Farmacêutica,  através de sua assessoria de imprensa , informou que:  “São contempladas pelo protocolo do componente especializado (Alto Custo) as insulinas Lantus, cujo princípio ativo é a Glargina, e as insulinas de ação ultrarrápida, que podem ser ou a Apidra ou a Lispro. Esclarece ainda que, como essas insulinas possuem a mesma ação, a Farmácia de Alto Custo realiza a compra apenas de uma insulina de ação ultrarrápida.  Referente à regularização do estoque, informa que a Lantus está com o estoque normalizado no mês de novembro. Quanto à insulina de ação ultrarrápida, o estoque foi zerado no último dia 22, porém a SES já possui empenho do medicamento e está aguardando a entrega por parte do fornecedor, que deve acontecer no prazo de até 15 dias”.

Apesar de não citada na nota, no catálogo oficial de medicamentos da Secretaria de Estado de Saúde constam ainda as insulinas: Aspart  (Novorapid), Detemir (Levemir), Humana NPH (Humulin -N) e Humana Regular (Novolin –R), que são custeados pelo Ministério da Saúde, Estado e Município, porém sua aquisição, distribuição e dispensação é realizada pelo município, através da rede de Atenção Básica, onde, segundo os pacientes, não tem faltado o medicamento.

Há ainda, na Relação Estadual de Medicamentos do Estado de Mato Grosso (Resme), os comprimidos Linagliptina e Cloridrato de Pioglitazona, destinados ao tratamento de diabetes.

De acordo com a Diretoria de Atenção Básica (DAB) e Coordenadoria de Programas Especiais (CPE) da Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá, os pacientes dependentes de insulina têm acesso à Insulina Regular nos 91 Unidades Básicas de Saúde (UBS) , sendo:  21 Centros de Saúde (CS)  e 70 Unidades do Programa Saúde da Família (UPSF).

A Secretaria Municipal de Saúde de Cuiabá, Claudia Maria Ourives Figueiredo de Souza, informou que a quantidade total de Frascos de Insulina Regular distribuída aos pacientes nas UBS varia mensalmente em decorrência de fatores como ausência do paciente na unidade de saúde por mudança de endereço, abandono do tratamento, dentre outras situações.

“Dessa forma não há um número fixo mensal de saída da referida medicação pela unidade de saúde. Entre os meses de agosto, setembro e outubro de 2015 foram disponibilizados o total de 3.230 frascos de Insulina Regular às UBS/SMS, perfazendo aproximadamente uma média de 1.076 frascos mensais para atender”, pontua a secretária.

TIPOS DE INSULINA E SEUS EFEITOS

Diabetes é uma doença crônica. O corpo não produz insulina ou não consegue empregar adequadamente a insulina que produz, perdendo assim o controle da quantidade de glicose no sangue.  Quando a pessoa tem diabetes o organismo não fabrica insulina e não consegue utilizar a glicose adequadamente. O nível de glicose no sangue fica alto, ocorrendo a hiperglicemia. Se esse quadro permanecer por longos períodos, poderá haver danos em órgãos, vasos sanguíneos e nervos.

Para controlar a hiperglicemia o paciente faz uso de um ou mais tipos de insulina, de acordo com a necessidade, como a insulina de ação rápida, ultrarrápida, intermédia ou lenta. 

Veja a reportagem na íntegra na edição 564 do jornal Cicuito Mato Grosso 

Josiane Dalmagro

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