A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da USP em Piracicaba (SP), identificou dois alunos suspeitos de serem autores do "ranking sexual", que expôs intimidades de estudantes da instituição em um cartaz fixado no centro de vivência do campus. A informação foi confirmada pelo diretor da universidade, Luiz Gustavo Nussio, durante depoimento à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), na tarde desta quarta-feira (9).
Durante o depoimento, o diretor ainda informou que vai encaminhar o relatório da sindicância aberta para apurar a autoria do cartaz ao Ministério Público, para que a Promotoria avalie os crimes cometidos pelos alunos que criaram o "ranking" e determine se vai levar o caso à Polícia Civil para que eles sejam punidos criminalmente.
Sobre a punição aos autores dentro da universidade, Nússio afirmou que, após o fim da sindicância, agora começa uma nova fase de apuração chamada de Processo Administrativo Disciplinar, onde a comunidade acadêmica vai abrir espaço para que os dois alunos suspeitos apresentem a defesa e, só depois, vai definir quais medidas serão tomadas.
Os depoimentos na Alesp sobre o "ranking sexual" ainda estão em andamento. Até o final da sessão desta quarta, alunas que tiveram os nomes expostos no cartaz ou se posicionaram contra a ação também serão ouvidas.
'Universidade racista e preconceituosa'
Além do diretor da Esalq, o professor Antonio Ribeiro de Almeida Jr., que é pesquisador de temas relacionados ao trote e às violações dos direitos humanos nas universidades, também prestou depoimento à comissão. Ele afirmou que a USP precisa assumir que existe um problema grave de discriminação na universidade.
“É uma universidade racista, sexista e preconceituosa, que prepara alunos que vão lidar com a população, que é, em grande medida, de negros, de mulheres”, disse. Já a aluna da Esalq Élice Botelho, que denunciou o cartaz em sua rede social, afirmou na audiência que há uma “conivência constante em relação aos casos de opressão” no campus. Ela disse que o problema ocorre inclusive com “professores em sala de aula que fazem falas homofóbicas e opressoras sobre mulheres”.
Investigação interna
Segundo Nússio, o prazo para o fim da sindicância aberta pela universidade para apurar os autores do cartaz terminou no dia 24 de agosto, mas a procuradoria-geral da instituição pediu informações adicionais à comissão. A identificação dos estudantes suspeitos da autoria aconteceu na terça-feira (8). Os nomes deles não foram divulgados.
O cartaz, considerado preconceituoso e ofensivo, revoltou um grupo de estudantes no fim de maio deste ano, após ser colocado no mural do Centro de Vivência, pátio onde os universitários se reúnem na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). O material foi retirado depois de causar polêmica e protestos que se espalharam pelos muros da universidade.
A comissão formada por funcionários da Esalq ouviu suspeitos e alunos que denunciaram a existência do "ranking" no campus. Além da apuração interna da instituição, a Secretaria de Políticas para Mulheres, da Presidência da República, repudiou a lista e informou que faria o acompanhamento do caso.
O 'ranking'
O cartaz era dividido em colunas que atribuíam, com palavra de baixo calão e termos como "teta preta", as supostas características das estudantes listadas pelos apelidos com que foram batizadas no campus, além do número de pessoas que teria mantido relações. Os "codinomes" são uma tradição na Esalq e muitos universitários os carregam após o curso.
Crimes
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Piracicaba (SP) avaliou que os responsáveis pelo cartaz incorreram em três crimes: homofobia, difamação e calúnia. O presidente da entidade, Fabio Ferreira de Moura, apontou que os crimes de difamação e calúnia aconteceram pelo ato de expor a intimidade sexual das alunas da instituição e identificá-las por apelidos. Já a homofobia é caracterizada porque a lista também cita homossexuais.
Fonte: G1