Cidades

Unidade de Pronto Atendimento atrasada a mais de um ano

Fotos Ahmad Jarrah

As reportagens realizadas há várias edições pelo jornal Circuito Mato Grosso na área da saúde pública na Grande Cuiabá não trazem outra conclusão: a população precisa muito de mais assistência.

Imaginem, então, uma unidade de saúde que tem capacidade para atender 300 mil pessoas por mês, 24 horas por dia. Esta é a promessa da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Pascoal Ramos, na Capital.

A Unidade deveria atender toda a região Sul de Cuiabá, com cerca de 100 bairros, com quase 170 mil habitantes, e ainda a população da Baixada cuiabana. Poderia, ainda, desafogar os atendimentos feitos na policlínica do Coxipó e Pronto Socorro Municipal. Promessa! A população da região espera pela UPA desde agosto de 2015, primeiro prazo para a entrega. O último prazo foi no dia 29 de abril deste ano. Também não cumprido.

A nova estimativa é de que até o fim deste mês ou, na melhor das hipóteses, na quarta semana de maio, a unidade deve ser entregue. Entretanto, ao visitar a obra, a reportagem ouviu populares com receio da inauguração. Eles disseram temer que os problemas da unidade apareçam aos poucos, tanto de superlotação, como problemas estruturais do prédio.

Isso porque o acesso à UPA é difícil. A obra é feita em uma rua de largura mediana, no meio do Bairro Pascoal Ramos. À época da aprovação da Obra, o prefeito Mauro Mendes (PSB) apontou que o melhor local para se implantar uma UPA para a região Sul era na Avenida das Torres, um local mais conhecido e acessível à população.

“Pela lógica, a UPA deveria ser feita em lugar mais aberto e de fácil acesso. Nós fizemos uma reunião com a Prefeitura para que haja melhor trafegabilidade na região. Precisamos de placas de identificação nas ruas, para melhorar a chegada lá aos não moradores da região”, afirma o presidente da União Coxiponense de Associação de Moradores (UCAM), José Mauricio Pereira.

Durante o início da construção, a UPA ainda obteve problemas com irregularidades geológicas do terreno. O que aumentou em 22% seu valor total.

Para o presidente da UCAM o grande entrave nas obras públicas é o atraso de repasses do governo federal devido à crise econômica do País. “Nós tivemos problemas nas UPAs, problemas no Cemei [Centro Municipal de Educação Infantil], UBS [Unidade Básica de Saúde]… Em muitas obras que dependemos do departamento federal para cumprimento das leis, em praticamente todas elas, não conseguimos cumprir o cronograma”.

“O povo está com a expectativa muito grande que funcione, que dê certo e que ande rápido. E que venha atender de fato a demanda que precisa, porque atualmente a população está adoecendo muito, e muito cedo. Crianças, jovens, idosos… E nós precisamos, principalmente, de médicos especialistas. A policlínica do Coxipó não tem médico psiquiatra. Muitos pacientes em surto psicológico, ficam no meio do caminho, pois não têm onde renovar receita. Então, esperamos esse atendimento da UPA”, declara o presidente.

Uma das preocupações da população é de que com a UPA Pascoal Ramos acarrete o fechamento da Policlínica do Coxipó e seja inaugurada sem as alas de urgência e emergência. De acordo com a Prefeitura nada disso irá acontecer.

A Policlínica do Coxipó funcionará como um PSF – Programa da Saúde da Família, em que o atendimento inclui ações de prevenção, recuperação, reabilitação de doenças mais frequentes.

Para o presidente da Comissão de Saúde da Câmara dos Vereadores de Cuiabá, Ricardo Saad (PSDB), “a UPA não foi feita para atender consultas e, se desativarem a Policlínica, estarão desvirtuando as suas finalidades”.

O vereador é autor da lei 6.012/2015 publicada em dezembro de 2015, em que proíbe a inauguração e entrega de obras públicas incompletas ou que não estejam em condições de atender a população.

Ainda no mês de abril, o secretario de Saúde de Cuiabá, Ary Soares, disse estar acompanhando de perto a fase final da obra da unidade. “Com esta obra iremos atender a população de uma forma digna, desafogando outras unidades como a UPA Norte, localizada no bairro Morada do Ouro e o Pronto Socorro de Cuiabá”, afirmou o Ary Soares.

UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO

A obra da UPA Pascoal Ramos está sob a responsabilidade da Secretaria de Obras Públicas e tem 1.527 metros quadrados de área construída em um terreno de 4,5 mil metros quadrados. O valor inicial estimado da UPA é de R$ 3,1 milhões. O Governo Federal contribuirá com R$ 2,6 milhões e contrapartida da Prefeitura de Cuiabá é de R$ 560 mil. Sendo que, até meados de 2014, havia aditivos de 22% do valor.

Segundo o Ministério da Saúde, as UPAs devem funcionar durante 24 horas, sete dias por semana e resolverem grande parte das urgências e emergências como pressão e febre alta, fraturas, cortes, infarto e derrame. Possuem de 13 a 20 leitos de observação e capacidade para atender até 450 pacientes por dia.

Ela se caracteriza como uma unidade que trata de urgência e emergência para serviços de média a alta complexidade, o que seria um meio-termo entre PSFs e o Pronto-Socorro.

A UPA porte 3, a que deve ser o Pascoal Ramos, abrange uma região de até 300 mil habitantes e tem capacidade para fazer pequenas cirurgias, e também oferece serviços de raios-X, eletrocardiografia, pediatria e laboratório de exames. Segundo a secretária de Saúde de Cuiabá, novos médicos já estão sendo contratados para suprir as demandas.

ENQUANTO ISSO …

Além da UPA Pascoal Ramos que está em construção, já funciona na capital a UPA Morada do Ouro. Há ainda em construção a UPA Verdão, em obras onde funcionava o Terminal Atacadista de Cuiabá. Próximo ao local funciona a Policlínica do Verdão.

Enquanto a unidade não fica pronta, os pacientes esperam.  A espera na fila para atendimento médico chega a ser de 10h. Enfrentam a dor, a fome e o desconforto da expectativa para tentar a cura da enfermidade.

A autônoma, Edna Camargo, 47 anos, chegou à Policlínica às 15h de uma quinta-feira, com tosse, dores no corpo e febre e não conseguiu atendimento. “Demorou demais”. No outro dia, a vendedora retornou à policlínica às 9h da manhã e foi atendida apenas às 17h – 8h depois.

“Aí dentro é péssimo. O atendimento é ruim. Faltam médicos. Não reclamo de esperar, mas esperar tanto? Estou com suspeita de pneumonia. Apesar de ter farmácia lá dentro, eu vou comprar meus medicamentos, porque o que eu preciso não tem. É triste precisar disso aí. Teve gente que chegou aqui às 7h e foi atendido junto comigo”, revela a Edna. O remédio prescrito é amoxilina, e continha na farmácia, contudo, a sua medida, não.

Nas sextas-feiras a Policlínica do Verdão conta com três clínicos gerais e dois pediatras, tanto no período da tarde quanto de manhã.

O senhor Valter Dias de Lara, 59 anos, acompanhava a filha Alessandra dos Reis Lara, 17 anos, na policlínica. A adolescente estava com fortes dores no estômago, e chegou à unidade às 14h. “São 17h30 e ainda tem umas 15 pessoas na nossa frente ainda”, diz a menina.

“Nós moramos aqui perto, viemos sempre aqui. Os médicos nos atendem bem. Mas a demora no atendimento é desde sempre. Já cheguei aqui 7h, e fui embora 22h, 23h da noite”, revela Valter.

A prefeitura afirma que cerca de 30% da obra da UPA que irá atender a região está executada. A unidade, mais cara que a do Pascoal Ramos, custará R$ 4,9 milhões, e tem previsão de entrega em dezembro deste ano.

Veja mais na edição 584 do hornal impresso

Cintia Borges

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