O casamento infantil e a mutilação genital são dois dos maiores problemas que meninas do mundo inteiro enfrentam. No dia 22 setembro, o Reino Unido e a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) discutiram em um encontro os direitos das crianças atingidas e buscaram formas para conscientizar as pessoas sobre essa triste realidade.
De acordo com os responsáveis pelo evento, uma a cada três meninas se casa com menos de 18 anos em países subdesenvolvidos. Algumas são entregues aos maridos com apenas oito anos.
Além dos abusos físicos, psicológicos, emocionais, financeiros e sexuais, muitas meninas têm a vida colocada em risco durante uma provável gravidez ou parto, já que seus corpos ainda não estão preparados para gerarem outra vida.
Todo tipo de união, formal ou informal, em que algum dos envolvidos tem menos de 18 anos é considerada casamento infantil. Apesar da prática ser uma realidade para ambos os sexos, as meninas são as mais afetadas.
Segundo a Unicef, cerca de um terço das mulheres com idade entre 20 e 24 anos se casaram quando eram crianças, nos países subdesenvolvidos.
A prática é mais comum em países do sul da Ásia e da África subsaariana, porém, meninas do mundo inteiro sofrem com as obrigações do matrimônio, não desejado em quase cem por cento dos casos, quando ainda não chegaram aos 18. Os dez países com maior incidência de caso estão nas regiões citadas.
Apesar dos dados gerais dos países mostrarem que a idade média para o primeiro casamento está aumentando, essa realidade se restringe apenas para famílias com maior poder aquisitivo.
Enquanto 48% das mulheres com idade entre 45 e 49 anos se casaram antes dos 18, cerca de 35% entre 20 e 24 anos ainda vivem esse problema. Mesmo com a baixa geral nos números, a Unicef alerta para a existência do casamento infantil, que deveria ser proibido por ferir o direito das crianças.
As evidências mostram que a maioria das meninas que se casam abandonam a educação formal porque engravidam.
De acordo com a ONU, as mortes maternas relacionadas as dificuldades na gestação e no parto são as principais causas da morte de meninas entre 15 e 19 anos no mundo todo. Segundo a Unicef, 70 mil meninas nesta idade morrem em decorrência da falta de estrutura do corpo para gravidez e por serem forçadas a ter relações sexuais.
As chances de um bebê de uma menina com menos de 18 anos morrer em seu primeiro ano de vida é 60% maior do que um bebê de uma mãe maior da idade.
Ainda que sobreviva, a criança é mais propensa a sofrer com baixo peso, desnutrição e desenvolvimento físico e cognitivo tardio.
Crianças que vivem em casamentos infantis correm riscos diários de violência, abuso e exploração.
O casamento infantil resulta, muitas vezes, em separação da criança de seus familiares e amigos, além da falta de liberdade para participação de atividades comunitárias, prejudicando todo o futuro da criança e seu desenvolvimento como pessoa.
O bem-estar das meninas é afetado e muitas passam a viver como escravas de seus maridos.
De acordo com a Unicef, o casamento infantil está ligado à discriminação de gênero, incentivando a cultura que reprime mulheres e dá preferência à educação de meninos.
Mas o casamento é, para muitas famílias, uma estratégia para a sobrevivência econômica, seja para reduzir os gastos da casa ou ganhar dinheiro em cima da sexualidade das filhas.
Além das consequências na formação das crianças casadas, muitas passam por graves problemas de saúde.
As meninas ficam mais vulneráveis às infecções genitais e doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV. Elas não recebem tratamento médico adequado durante a gestação, o que pode comprometer seu corpo ou do bebê.
Depois do casamento infantil, as meninas são pressionadas para terem filhos, o que tira ainda mais sua autonomia, principalmente se o bebê for do sexo feminino.
Quanto mais novas são as noivas, mais novas serão as mães. De acordo com a Unicef, no Nepal, um terço das mulheres com idades entre 20 e 24 anos e que se casaram antes dos 15 já têm três ou mais filhos.
Apesar de ainda apresentar números alarmantes, a prática do casamento infantil está em declínio. Em 2014, uma em cada quatro meninas já se casou ou ainda se casará antes dos 18 anos e na década de 80, a proporção era de uma a cada três.
De 1,1 bilhão de crianças do sexo feminino no mundo, 22 milhões estão casadas. De acordo com a ONU, 280 milhões de meninas correm o risco de serem entregues aos maridos só em 2014. A preocupante estimativa aponta que até 2050, o número seja de 320 milhões.
R7