O bate-cabeça sobre a regra, provocado em parte pela troca de interlocutores governistas no Congresso, mobilizou e quase gerou uma crise entre ministros, parlamentares, empresários, lobistas, o papa e a bancada religiosa.
Quem defende o veto à bebida nos estádios usa como argumento o fato de o país não poder mudar a sua lei para atender aos caprichos de uma entidade privada. Com isso, estaria assegurada nossa soberania.
É uma meia-verdade: querem é jogar para a torcida e fidelizar um eleitorado conservador (para o qual seria melhor se tudo fosse proibido e controlado).
Falou-se muito sobre a bebida nos estádios. Mas na Copa, a maior parte dos expectadores ou terão pago uma fortuna, ou são felizardos que conseguiram ser sorteados para assistir às partidas. Esses caras estarão lá para assistir aos jogos, prioritariamente.
Mas a Fifa criou algo que pode ser potencialmente muito mais perigoso, e que, aí sim, poderia gerar discussão sobre a liberação ou não da bebida alcoólica.
São as Fan Fests. Que reunirão milhões de pessoas (ante os 70 mil de um estádio) que estarão lá para fumar, provocar, vibrar, chorar, se embriagar e, talvez, até brigar…
Por que nossos congressistas não veem problemas em beber nas Fan Fests?
E nas periferias das cidades, onde acontecem crimes diariamente por conta do álcool, existe alguma lei que impeça o consumo de bebidas?
Em 2006, a cerveja oficial da Copa do Mundo de futebol foi tema de grande polêmica. A competição foi realizada na Alemanha, berço da bebida, mas tinha patrocínio da norte-americana Budweiser, o que gerou rejeição de parte do público local.
O Brasil não terá esse problema. Em 2014, a AB-Inbev venderá produtos da marca Brahma em espaços oficiais, perímetro que inclui o interior dos estádios. A Budweiser seguirá como a marca global do grupo associada à Copa do Mundo, mas a Brahma será o foco no mercado nacional.
No Egito, uma briga entre torcidas levou recentemente dezenas de pessoas ao cemitério. No Brasil, onde não há guerra civil declarada, já vi muito torcedor ameaçar arrebentar portões, juízes e jogadores só por causa de um placar adverso. Não consta que tinham tomado cerveja no intervalo.
Por aqui, a bebida é proibida nos estádios com o argumento de que, sob o efeito do álcool, os torcedores ficam mais propensos à violência. Basta analisar o histórico de pancadarias nos estádios para saber que ignoramos há muito tempo as razões reais da violência.
O fato é que a bebida foi banida há anos dos estádios, mas estamos ainda a anos-luz de banir a violência no futebol. É porque segurança, saúde pública e civilidade não combinam com oportunismo nem hipocrisia.
Fonte: Assessoria | Portal2014