Cidades

UFMT guarda 28 mil animais taxidermizados em coleção zoológica destinada à pesquisa

Uma sala climatizada dentro do Instituto de Biociências, da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá, guarda cerca de cinco mil mamíferos, 20 mil répteis e anfíbios, além de cerca de três mil aves em uma coleção zoológica. O local mantém os animais taxidermizados, ou seja, empalhados, desde a década de 1980 e ali são realizadas as pesquisas que descobrem novas espécies de animais, entre outros fatores biológicos.

O professor Rogério Rossi, biólogo que leciona zoologia na UFMT, conta ao Circuito Mato Grosso que trabalha em uma área que tem como objetivo pesquisar a biodiversidade, no sentido de descobrir as novas espécies e descobrir relações de parentesco entre diferentes animais.

Para que uma pesquisa possa se iniciar, um projeto é desenvolvido e submetido aos editais como o da Fapemat (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado De Mato Grosso) e aos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), ligado ao governo federal.

O projeto submetido é analisado por outros pesquisadores do Brasil, de modo sigiloso, e caso aprovado, as equipes conquistam verbas destinadas ao desenvolvimento de sua pesquisa.

Em 2014, Rossi e outros pesquisadores passaram 25 dias em Alta Floresta (791 Km de Cuiabá). A equipe foi a campo para coletar material biológico.

 “O meu foco desse projeto era estudar a fauna de mamíferos silvestres na região norte de Mato Grosso”, conta o professor.

O local escolhido é uma área de desmatamento. No meio da mata, os pesquisadores colocam armadilhas, com iscas, para atrair os animais. Toda manhã eles voltam aos mesmos locais para verificar e recolher os animais que caíram.

“Como eu trabalho nessa parte sistemática de estudo da biodiversidade, é inevitável que a gente tenha que recolher esses animais capturados, significa trazer para laboratório e a gente eutanásia, ou seja, eles são mortos, considerando todos os procedimentos éticos envolvidos nesse processo. E ai o animal é aproveitado da forma mais completa possível”, explica Rossi.

Animais taxidermizados para pesquisa científica na UFMT
(Foto: Juliana Alves)

Tudo que for possível é aproveitado dos animais. O grupo coleta e analisa parasitas, como pulgas e carrapatos, são estudadas as coletas de amostra de sangue, amostra de tecido do fígado, do pulmão e da musculatura. São trabalhos genéticos e morfológicos. “É um estudo o mais completo possível. A gente busca o maior aproveitamento possível”.

O professor comenta que não é possível estudar a biodiversidade a fundo, se não trabalhar dessa forma.

Após esse tempo de coleta e análise em laboratório, os dados conquistados são transformados em artigos científicos, que caso aprovados por analise de outros pesquisadores, podem ser publicados em revistas cientificas de renome nacional e internacional.

O Plecturocebus grovesi
(Foto: Divugação)

Entre os achados dessa pesquisa de 2014, está a nova espécie de macaco. Batizado de Plecturocebus grovesi, a espécie faz parte de um grupo conhecido como sauás ou zogue-zogues. Com tamanho próximo ao de um macaco-prego, a nova espécie é mais peluda e com cores mais vistosas. Conhecidos por serem barulhentos, eles se alimentam de frutos e insetos.

Todos esses animais coletados para estudo estão taxidermizados na coleção zoológica da UFMT, mas nem todos ali foram eutanasiados para a pesquisa. Muitos deles já chegaram à universidade doentes, atropelados ou mortos. E os pesquisadores os utilizam para seus estudos.

Rossi, e outros pesquisadores do Pará e do Amazonas, busca analisar a fauna de áreas de desmatamento. Locais com maiores chances de extinção de animais e plantas.

“A importância desse tipo de pesquisa é justamente o levantamento da biodiversidade e descrição das novas espécies, para tentar compreender onde elas estão e quais são os riscos de serem extintas elas estão sofrendo. O Brasil é considerado o país com a maior biodiversidade do planeta e muitos estudos têm sido realizados com plantas e com os animais, e, por exemplo, uma série de fármacos está sendo descoberta a partir da biodiversidade”.

O professor também aponta que uma das justificativas para essa pesquisa são os estudos das bactérias e protozoários que estão presentes nesses animais silvestres. Eles buscam conhecer e compreender se essas espécies, em áreas rurais, por exemplo, podem apresentar algum risco para a população em volta. “Nós também remos essa parte voltada para as zoonoses, que são as doenças causadas pelos animais”.

O futuro da pesquisa

Com os cortes e contingenciamentos que vem ocorrendo ao longo dos anos com a educação pública e consequentemente às pesquisas desenvolvidas nas instituições federais, Rogério Rossi, que é coordenador do programa de Pós-Graduação em Zoologia da UFMT, que essas decisões governamentais já afetam o trabalho.

Ele cita como exemplo a Fapemat, do governo estadual, que todos os anos oferta bolsa de pesquisa para alunos de mestrado e doutorado, mas esse ano nenhuma foi ofertada.

“Foi o primeiro ano, desde que eu estou aqui, que os alunos não receberam a bolsa. Quatro daqui que estão usando recursos próprios para tentar se manter e manter o mestrado. E essas bolsas são fundamentais para aqueles que desejam seguir uma carreira acadêmica”.

O professor ressalta que esse é o corte sentido no primeiro momento. Todavia, desde o ano passado, 2018, ele alega não estar recebendo as verbas destinadas a pesquisa do grupo. Órgãos federais e do estado, segundo Rossi, lançam editais, mas não conseguem disponibilizar as verbas.

“Creio que em dois ou três anos vamos sentir com mais intensidade esse problema do corte de verbas. Os projetos de pesquisa estão parando e isso significa que as produções cientificas estão parando. É um dinheiro que gera conhecimento cientifico, que gera formação de recursos humanos. Esse dinheiro não é um dinheiro desperdiçado.”.

Parte dos animais da coleção zoológica do Instituto de Biociências da UFMT
(Foto: Juliana Alves)
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Reportagens realizada pelos colaboradores, em conjunto, ou com assessorias de imprensa.

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