Opinião

Ubirajara no Museu da República

Férias são favoráveis à intensificação de visitas aos museus. Em viagem à terra natal, revisitei o Museu da República ou Palácio do Catete, do século XIX, do cafeicultor Antônio Clemente Pinto. Erguido no “Caminho do Catete”, atual bairro do Catete, região que surgiu do aterramento de uma área de manguezal, somente em 1896 foi adquirido pelo governo de Prudente de Moraes para sediar a Presidência da República. Passou por ampla reforma, inclusa a remodelação dos jardins, hoje um oásis em meio ao tráfego intenso de veículos.

Palco de inúmeras articulações políticas, talvez a mais emblemática seja o suicídio de Getúlio Vargas, em 1954, epílogo de uma das mais incisivas crises político-militares. Pode-se visitar no palácio o quarto presidencial onde Vargas cometeu suicídio. Nesse cômodo, dentre o conjunto mobiliário daquela época, dois móveis destacam-se: a vitrine onde se encontra a carta-testamento do presidente – com a famosa frase “Saio da vida para entrar para a História”; o outro – como não poderia deixar de ser –, a cama de casal onde jazeu o corpo presidencial.

Para além do cômodo de Getúlio, o Palácio do Catete também merece ser visitado por seus magníficos acervos, ainda que muitas das obras de artes estejam sem textos explicativos. Destaco, na entrada do Palácio, a escultura “Ubirajara” a empunhar sua lança, de autoria, ainda que duvidosa, de Francisco Manoel Chaves Pinheiro. Famoso personagem indígena do romance de José de Alencar, publicado em 1874, foi um guerreiro da “tribo dos araguaias, antes de se tornar o senhor da lança”. Na escultura, Ubirajara está entre uma serpente que sai de uma bromélia e uma indígena com o filho aos braços.

Sem dúvida, o Palácio do Catete retrata importantes episódios republicanos. Em uma de suas paredes pode-se ler uma citação de Floriano Peixoto: “Amigo, quando a situação e as instituições correm perigo, o meu dever é guardar a Constituição em uma gaveta, livrá-la da rebeldia e, no dia seguinte, entregá-la ao povo limpa e imaculada”.

E ainda dizem que museus são para conhecer o passado…

Redação

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