A pandemia da Covid-19 impôs à grande parte da população mundial uma série de cuidados, entre eles o isolamento social. No ano passado, muito se discutiu sobre a qualidade de vida que é possível ter nas moradias, a necessidade de janelas, de um ambiente arejado, da luz solar. Agora, quando o turismo começa a retomar, lentamente, a sua força, por meio de modalidades em que não são necessárias as aglomerações, percebe-se que quem vai viajar também tem sido mais criterioso, desejando encontrar tranquilidade e paz, algo que o turismo de saúde e bem-estar sempre ofereceu.
Viajar de férias não é mais apenas conhecer novos lugares, museus e praias. Nunca foi apenas isso. Entretanto, agora outros critérios passam a ser considerados importantes por turistas de todo o mundo ao planejar uma viagem, como higiene, segurança e estrutura para receber o turista de forma agradável.
Segundo a vice-coordenadora do mestrado em turismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), Verônica Mayer, que coordena pesquisas sobre bem-estar em viagens, o turismo de saúde é uma modalidade de viagem na qual as pessoas buscam melhorias pessoais, sejam físicas, psíquicas ou emocionais.
“O turismo de saúde envolve o deslocamento de pessoas que tão interessadas na prevenção de doenças, na manutenção da saúde ou na recuperação e até na cura e reabilitação de problemas de saúde. Na prevenção, há pessoas buscando aliar o estresse do dia a dia, por exemplo. Buscando novas possibilidades, patamares na sua saúde física, mental, emocional e espiritual”, afirma Verônica.
Essa busca por um tratamento de saúde holístico, que se cuida não com remédios, mas com qualidade de vida e tratamentos difusos, que façam os indivíduos se sentirem mais felizes, demanda por serviços específicos de profissionais especializados, como terapeutas, por exemplo.
“Podem ser terapias que vão envolver tanto o corpo físico, como massagens, ou que melhorem a saúde a partir da nutrição. Os serviços que os turistas buscam podem envolver uma série de coisas diferentes. Isso porque a saúde é encarada [nessa modalidade turística] como holística, com muitas dimensões”, explica a pesquisadora.
Verônica Mayer explica que o turismo de saúde tem a ver com a vontade de prevenir doenças, manter uma boa condição de saúde ou se curar ou reabilitação de algum problema
E tais serviços geralmente contam com uma forte infraestrutura para receber o turista. São hotéis com spa, serviços turísticos agregados, combinação de estruturas artificiais com os recursos naturais, como spas que funcionam em regiões de águas termais, que utilizam propriedades especiais da natureza. “Tudo isso é bastante tradicional. O turismo de saúde, que pode englobar o turismo de bem-estar e o turismo médico também, é bastante tradicional e histórico. Há muitos exemplos de lugares e estabelecimentos capacitados para receber esse turista”, afirma Verônica.
No Brasil, esse tipo de turismo não só é tradicional como também lucrativo. Segundo Ministério do Turismo, o estrangeiro que vem ao país para cuidar da saúde é o que permanece mais tempo, aproximadamente 22 dias, além de ser o que mais gasta, em torno de R$ 660 por dia.
“Como tudo no turismo, essa modalidade é movida pelo comportamento das pessoas, pelas tendências. A busca pela saúde, melhoria da saúde física, emocional, mental e até espiritual é o que funciona como um norte para a modalidade e os serviços que serão ofertados. Há turistas interessados em práticas mentais como meditação, outros podem estar mais preocupados com questões físicas, melhoria da performance ou o relaxamento físico”, explica a pesquisadora, ao falar sobre o que os destinos e estabelecimentos desses destinos precisam desenvolver para receber bem o turista dessa modalidade.
A ideia é que os espaços estejam preparados para oferecer valor ao turista, destacando-se da concorrência ao poder proporcionar ao viajante mais conforto e serviços especializados na cura, no relaxamento e no bem-estar.
“Uma coisa é ficar hospedado em um hotel, outra coisa é estar em um spa e poder usufruir de uma série de serviços especializados que, em geral, têm valores diferenciados, como terapias corporais ou com chás, massagens, aromoterapia, formas de nutrição diferenciadas”, opina Verônica. “Existe uma valorização de práticas milenares. Práticas que são reconhecidas em muitos países, como o Japão e Índia, como a meditação”.
Para a pesquisadora da UFF, a pandemia da Covid-19 vem transformando o turismo de saúde, fazendo com que o bem-estar se torne algo mais amplo, desejado por todos, mesmo em outras modalidades turísticas.
“O momento que a gente está vivendo é muito importante, muito único, o bem-estar tem que começar a ser visto não apenas como um segmento muito específico, mas todos os hotéis e prestadores de serviço nesse momento precisam tomar esse cuidado em oferecer um ambiente que leve tranquilidade para as pessoas. É necessário, mais do que nunca, ter cuidado com o acolhimento, com a hospitalidade e, eventualmente, até com a oferta de práticas que podem não ser muito especializadas, mas que podem diminuir o nível de estresse e de desconforto que algumas pessoas podem estar vivendo nesse momento”, afirma a pesquisadora.
“Muitas pessoas não estão querendo viajar, mas quando o fazem, estão escolhendo lugares não apenas em que elas confiam, mas também que tenham a possibilidade de acesso ao ar livre, o contato com a natureza. E isso representa uma vantagem competitiva neste momento”, completa.
Além os serviços oferecidos e o cuidado no acolhimento do turista, a professora destaca a importância da capacitação dos empreendedores e funcionários de estabelecimentos que lidam diretamente com os turistas, principalmente neste momento da pandemia, quando tudo está muito delicado, a saúde mental, o cuidado com higiene e o distanciamento, para evitar infecções pelo novo coronavírus. “É preciso capacitação porque fala-se muito pouco sobre esse tema, apesar da modalidade ser tradicional”.