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“Tudo foi feito as claras, sem lavagem de dinheiro”, afirma João Emanuel

Foto: Marcus Mesquita-MidiaNews

Com Valquiria Castil

O ex-vereador de Cuiabá João Emanuel negou que tenha utilizado dinheiro desviado da Câmara Municipal da Capital para “satisfazer seus desejos de ostentação”, quando era presidente do Legislativo municipal.

Na tarde desta sexta-feira (17), o político – que está preso desde setembro do ano passado no Centro de Custódia da Capital (CCC), por conta da operação – foi ouvido pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, em audiência referente a ação penal derivada do desdobramento da Operação Aprendiz, que apura o crime de lavagem de dinheiro.

Na ação, Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado (Gaeco) denunciou que parte do dinheiro supostamente desviado foi utilizado para a compra de um carro importado, da marca Porshe, modelo Boxter, ano 2013, avaliado em R$ 316 mil, a quitação de uma reforma realizada na casa de seu ex-sogro, o ex-deputado José Geraldo Riva, e a compra de três pacotes de viagens para a Disney, que teriam sido usufruídos por ele, pela ex-esposa, a deputada estadual Janaina Riva (PSD), e a irmã dela.

Além disso, de acordo com o Gaeco, outra tática adotada pelo ex-vereador para em tese dissimular a origem dos recursos foi a simulação da compra de uma caminhonete importada. A prática, segundo o MPE, contou com a participação dos últimos dois indiciados, Luciano Cândido Amaral e Lucas Henrique do Amaral.

Ainda de acordo com a denúncia, João Emanuel teria repassado um cheque de R$ 50 mil para uma loja de carros importados. Outro cheque, de R$ 10 mil, foi entregue a um empreiteiro, que realizou obras na casa do ex-sogro.

Segundo o MPE, para realizar o esquema para a lavagem de dinheiro, foi utilizada Gráfica Documentos, razão social Propel Comércio de Materiais Ltda. ME, de propriedade do ex-deputado estadual Maksuês Leite em sociedade com o empresário Gleisy Ferreira de Souza.

"Tudo foi feito as claras, sem lavagem de dinheiro sem esconder nada aqui”, disse o ex-vereador, durante a audiência.

Empréstimo 

Ao promotor de Justiça do Gaeco, Samuel Frungilo, João Emanuel disse que pegou um empréstimo de R$ 140 mil com Júlio César Americano – que seria seu segurança e morreu em 2014, em uma discussão familiar -, para pagar algumas contas.

De acordo com o réu, parte desse dinheiro foi usada para pagar o Porshe que estava em seu nome. Além disso, ele declarou que pegou apenas R$ 65 mil do empréstimo, para pagar a caminhonete de propriedade de Luciano Cândido Amaral e Lucas Henrique do Amaral – pai e filho.

João Emanuel disse que até hoje não quitou todas as dívidas. 

Viagem internacional 

Quanto a viagem a Orlando, na Flórida (EUA), João Emanuel declarou que pagou R$ 25 mil do pacote internacional, por meio de um empréstimo feito em uma factoring.

Questionado pelo promotor se teria utilizado cheques de uma das gráficas envolvidas no suposto esquema na Câmara Municipal, o ex-vereador disse que não poderia responder a pergunta.

Inocentou outros réus

João Emanuel ainda inocentou os outros réus na ação penal: Luciano Cândido Amaral, Lucas Henrique do Amaral e Gleisy Ferreira de Souza, que era servidor da Câmara Municipal, quando era o presidente do Legislativo.

“Gleisy só foi lá e pagou as contas que eu pedi, não sabia dá procedência do dinheiro", declarou.

Empresário declara que sofreu calote com venda de caminhonete

Luciano Cândino Amaral, empresário do agronegócio, confirmou a venda de sua caminhonete, mas negou se tratar de lavagem de dinheiro. Em depoimento afirmou que conheceu João Emanuel durante a campanha eleitoral de 2012, através de seu filho que trabalhava na Câmara de Cuiabá.

João Emanuel teria procurado Luciano para realizar um empréstimo, no entanto, dias depois acabou dando um cheque de R$20 mil de entrada para a compra de uma caminhonete Toyota SW4. Segundo Luciano, uma parte havia sido paga em dinheiro e outra em cheque, mas não soube afirmar se eram da empresa Propel.

“Com isso tudo ainda não recebi R$150 mil. Perdi um carro e agora tenho um processo pra responder”, lamentou o empresário.

Servidor da Câmara Municipal diz que “só apresentou pai a João Emanuel”

Filho de Luciano, Lucas Henrique do Amaral prestou o depoimento rapidamente. À juíza ele afirmou que apenas apresentou o pai a João Emanuel porque sabia das necessidades de ambos. “Meu pai queria vender o carro e João queria comprar, só apresentei eles”, declarou ao negar que não participou da negociação.

Quanto a um dinheiro que teria sacado para João Emanuel no valor R$15 mil, ele afirmou que não sabia do que se tratava. “O Castelo (Guedey) me deu o cheque e pediu pra eu sacar e devolver pro João Emanuel. Não era minha atribuição, fiz um favor. Na época eu não sabia do que cheque era esse, agora sei que é da Propel”, afirmou.

Após trabalhar para João Emanuel, motorista diz passar por dificuldades

O ex-motorista de João Emanuel, Guedey Araújo, que atualmente trabalha em uma loja de colchões diz que desde que o Gaeco apareceu na casa de sua mãe para busca-lo vem passando por dificuldades.

“Fui buscar ajuda na casa de João Emanuel, mas fui maltrado e humilhado, desde então foi uma dificuldade atrás da outra, sem ter com quem contar”, desabafou o motorista emocionado.

Em depoimento ele disse era subalterno do ex-presidente da Câmara de Cuiabá e que como tal fazia muitos serviços sem questionar, como pagamento, serviços bancários, entrega de presentes. “Não cabia a mim perguntar da onde saia o dinheiro, de onde era o cheque, eu acho que é falta de ética e também nunca tive curiosidade”, disse ele ao confirmar as trocas de cheque que fazia, inclusive, para Júlio Americano.

Ele declarou que certa vez perguntou sobre os cheques para Júlio. “Ele disse que eram doações de Maksuês [Leite]. Não perguntei mais porque vi que ele não gostou”, afirmou Guedey.

No depoimento, o motorista disse também que nunca presenciou o encontro ou contato entre João Emanuel e Maksuês Leite. “Só se for final de semana, eu nunca vi os dois conversando juntos. Eu quase sempre tava junto”, declarou.

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