Num dia marcado por forte venda nos mercados de títulos do governo dos Estados Unidos – geralmente, vistos como um porto seguro para os investidores em momentos de tensão -, o presidente Donald Trump anunciou que vai adiar por 90 dias a imposição de “tarifas recíprocas” para a maioria dos parceiros comerciais do país, recuando de política que havia lançado os mercados em uma espiral descendente e ameaçado desestabilizar o comércio global.
Ao mesmo tempo, Trump decidiu aumentar o imposto sobre as importações chinesas de 104% para 125%, depois de o país asiático retaliar os produtos americanos em 84%.
O anúncio de trégua nas tarifas, feito pouco depois da hora do almoço, provocou uma reviravolta nas Bolsas nos EUA e também no Brasil, que passaram a subir com força. A B3 fechou em alta de 3,12%. Já o dólar recuou 2,51%, para R$ 5,84, depois de ter batido em R$ 6,06 no começo do dia.
Secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt esclareceu que a medida não mudaria a imposição de uma tarifa linear de 10% – que está valendo desde sábado, 5. Para o Brasil, que estava no piso tarifário, nada muda, ou seja, as tarifas de 10% seguem em vigor. Ao anunciar a pausa, a Casa Branca tentou repetidamente sugerir que era parte de uma estratégia premeditada. Karoline chegou a acusar os repórteres de terem “falhado em ver o que o presidente Trump está fazendo aqui”, enquanto Scott Bessent, secretário do Tesouro, disse que essa foi a “estratégia de Trump desde o começo”.
Mas a mudança abrupta de curso ocorreu em meio a uma venda massiva de títulos dos EUA e após dias de grandes perdas nos mercados financeiros ao redor do globo. Economistas expressaram preocupações de que os EUA poderiam estar caminhando para uma recessão, com impactos no resto do mundo. Depois, o próprio Trump reconheceu que sua decisão foi feita em resposta à turbulência do mercado, dizendo aos repórteres que “você tem de ser flexível” e que “nos últimos dias a situação parecia bastante sombria”. No fim do dia, ele voltou a falar a jornalistas e, questionado sobre o mercado de ações, disse que estava “extremamente bom”.
Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Trump parece ter percebido que “passou do ponto” com o tarifaço, cujo resultado poderia ser o mergulho da economia americana na recessão. “Em um primeiro momento, a sensação é de alívio nos mercados. Mas ainda é preciso ver se a China está disposta sentar à mesa e negociar, cedendo em alguns pontos.”
Ainda falando sobre as tarifas, Trump disse que “nada está terminado ainda” e que “as pessoas estavam saindo da linha, por isso pausei as tarifas”, mas destacou que a suspensão da medida será temporária. “Reverti as taxas só por um curto período de tempo”, disse, defendendo que é preciso certa “flexibilidade” nas decisões. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)