Estatisticamente, como mostram diversas pesquisas de opinião, de forma grosseira dá
para sugerir que a sociedade brasileira está dividida em três grupos: uma parte apoia o
PT e vota no seu demiurgo, o Lula. Outros tantos se identificam com a direita e
elegeriam o Mito. Mas a maioria, conforme a Genial/Quaest, tem medo do Bolsonaro
voltar e também do Lula continuar. Assim quando voltam em um dos dois é pra se
livrar do outro.
As recentes ameaças do Trump de ferrar (desculpem o termo chulo) os brasileiros têm
o poder de prejudicar os que querem se livrar do Bolsonaro ou do Lula, porque,
dependendo do uso que fizerem dela (da ameaça), um ou outro grupo pode levar
vantagem. Se o Bolsonaro e seus adeptos conseguirem convencer os eleitores de que o
Lula é o responsável pelas taxas impostas pelo americano, fortalecerá a candidatura de
seu filho.
Argumentos não lhes faltarão: o Lula cutucou a onça com vara curta ao pregar uma
nova moeda na ordem mundial para substituir o hegemônico dólar, desancou o Pavão
americano e apoiou medidas para limitar o poder das big techs.
Também poderão criar o enredo atribuindo ao Presidente a perseguição que o
Bolsonaro estaria sofrendo aqui no País, embora esta narrativa careça de fundamento
porque o poder executivo, na democracia, nada tem a ver com as ações do judiciário.
Do lado oposto, os governistas poderão divulgar a versão de que o Trump vai taxar o
Brasil, atrapalhando milhões de brasileiros porque o filho do Bolsonaro se dedicou a
essa missão, não se importando com o prejuízo coletivo, desde que conseguisse algum
benefício para o pai.
Mas por que os que não gostam do Lula e do Bolsonaro estariam prejudicados?
Simples, se o discurso dos bolsonaristas vingar estará consolidada a posição do filho 03
que conseguiu a atenção do Trump. Então poderá ser visto como um herói que foi para
os Estados Unidos e conseguiu realizar a missão que se propôs. Nesse caso seria o
candidato perfeito da direita.
Prevalecendo a leitura da esquerda, Eduardo Bolsonaro pode ser considerado um
traidor que trabalha contra o povo brasileiro. Também pode triunfar o discurso que o
Lula cutucou a onça porque não tem medo dela e transformar essa “valentia” em voto.
Não sei ainda como vai terminar essa história de taxação das exportações, se vai
prosperar ou se o Trump desistirá.
Durante a evolução das espécies —conforme Darwin— a natureza tem favorecido
alguns truques intimidatórios usados pelos animais: os cachorros arreganham os
dentes exibindo as armas que têm; os gatos eriçam o pelo para parecerem maiores;
gorilas batem no peito e urram para mostrar força.
O Trump pode estar se valendo desse viés evolutivo. Em muitas outras ocasiões neste
mandato exagerou seu poder para amedrontar os concorrentes.
Com evidente arrogância e incomum vaidade, ele tem uma semelhança incrível com os
pavões. Estes quando querem impressionar ou intimidar os adversários formam um
grande leque com a vistosa cauda. Às vezes conseguem o objetivo, outras, desistem da
exibição e disfarçadamente recuam.
Mas é bom não desmerecer a sua força; ele às vezes bica “bem duro”.
Renato de Paiva Pereira