Adoradores de Ídolos são aqueles fãs que esperam por horas a chegada do momento glorioso, quando, em êxtase, ouvirão a voz de seus artistas preferidos.
Muitos saem dos espetáculos convencidos de que em algum momento o cantor dirigiu-lhes um olhar especial ou fez um gesto para eles. Este mínimo, ainda que ilusório gesto, é o suficiente para acalentar seus sonhos juvenis.
A posse do Trump fez lembrar estes eventos. Milhares de pessoas do mundo inteiro, entre eles figurões da política em seus países, foram lá ver o velho e arrogante pavão, mendigando um olhar ou uma palavra.
Uma coisa chamou a atenção. Era de se supor que tendo passado por tantos momentos de glória, o Trump não precisasse mais de aplausos para acalentar o ego. Mas o que vimos foi uma manifestação de busca contínua de palmas, tal qual um artista de circo que a cada performance estimula o público a aplaudi-lo. O Trump – que tem total domínio das câmaras e do discurso – fazia pausas estratégicas, convidando seus bajuladores a aclamá-lo.
Tem uma história – não sei se verdadeira – que um imperador, anormalmente chegado aos aplausos, teria mandado prender um súdito porque ele parou de bater palmas enquanto os outros continuavam a fazê-lo. Deste episódio surgiu a recomendação “não seja o primeiro a parar de aplaudir”, que os presentes no ritual de posse pareciam conhecer.
Dos brasileiros que foram lá, quantos conseguirão voltar com uma self que registre, ainda que em um fundo distante, a imagem do presidente empossado? Ou, como os adolescentes citados acima, se sentirão privilegiados imaginando que o mito sabia da presença deles ali?
Fora essas bizarrices, algumas coisas citadas no discurso de posse merecerem registro. A deportação de imigrantes ilegais, por exemplo, é um caso sensível, mas não se pode negar a um país o direito de controlar a entrada de estrangeiros.
O problema do petróleo, que ele quer explorar até o último barril, é um daqueles casos que escolhemos acreditar na teoria que mais nos convém. O Trump fica do lado dos ditos negacionistas do clima e empurra para os outros 194 países do mundo, o custo de preservar a natureza.
Mas, três coisas na fala do novo presidente se mostram muito perigosas: a primeira é a anunciada intervenção para dominar o Canal do Panamá e comprar a Groenlândia.
A segunda é o foco total na supremacia americana, sem nenhuma menção à paz mundial, à cooperação entre as nações ou combate à fome.
A última: dar especial destaque às trilionárias Big Techs que dominam o mundo. Lá estavam os donos do Facebook e Instagram; X; Amazon; Google; Apple; TikTok e OpenAi. De presente, deu-lhes o direito de publicar o que bem entenderem, sem nenhum controle ou moderação. Agora, com seu ilimitado poder financeiro e domínio total das redes sociais, eles elegerão parlamentares com a missão de aprovar leis que os favoreçam.
Lembro aos brasileiros que se empolgaram com o MAGA (Fazer a América grande novamente, em inglês) que eles não terão qualquer vantagem na “Era de ouro dos EUA”.
Renato de Paiva Pereira
Foto: Reprodução https://www.metropoles.com/mundo/deportacao-ameaca-tarifaria-veja-como-foi-1a-semana-do-governo-trump