O presidente Donald Trump clamou ao Irã na sexta-feira, 13, para que se chegue logo a um acordo sobre a redução de seu programa nuclear. Enquanto isso, Israel prometeu continuar bombardeando o país.
Trump caracterizou o momento instável no Oriente Médio como uma possível “segunda chance” para a liderança iraniana evitar mais destruição “antes que não reste nada e salvar o que antes era conhecido como Império Iraniano”.
O presidente americano pressionou o Irã ao se reunir com sua equipe em um gabinete de crise para discutir o difícil caminho a seguir após os ataques devastadores de Israel ao Irã. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu manter a ofensiva por “quantos dias forem necessários” para destruir o programa nuclear iraniano.
A Casa Branca afirma que não teve envolvimento nos ataques, mas Trump destacou que Israel usou um vasto arsenal de armas fornecido pelos Estados Unidos para atingir a principal instalação de enriquecimento do Irã, localizada em Natanz, bem como os principais cientistas e autoridades para o programa nuclear do país.
Trump disse em sua plataforma de mídia social, a Truth Social, que havia alertado os líderes do Irã de que “seria muito pior do que qualquer coisa que eles conhecem, antecipam ou foram informados, pois os Estados Unidos fabricam o melhor e mais letal equipamento militar do mundo, DE LONGE, e que Israel tem muito disso, com muito mais por vir – e eles sabem como usá-lo”.
Poucas horas antes de Israel lançar seus ataques ao Irã na madrugada de sexta, Trump ainda mantinha uma tênue esperança de que a longa disputa pudesse ser resolvida sem ação militar. Agora, ele será testado novamente em sua capacidade de cumprir sua promessa de campanha de livrar os Estados Unidos de conflitos estrangeiros.
Após os ataques israelenses, os Estados Unidos estão transferindo seus recursos militares, incluindo navios, para o Oriente Médio, a fim de se proteger contra possíveis ataques retaliatórios do Irã, de acordo com dois funcionários americanos que falaram sob condição de anonimato à AP.
A Marinha americana ordenou que o contratorpedeiro USS Thomas Hudner começasse a navegar em direção ao Mediterrâneo Oriental e ordenou que um segundo contratorpedeiro começasse a avançar, para que estivesse disponível se solicitado pela Casa Branca.
À medida que Israel intensificava os planos para ataques nas últimas semanas, o Irã sinalizou que os Estados Unidos seriam responsabilizados no caso de um ataque israelense. O aviso foi emitido pelo ministro das Relações Exteriores do país, Abbas Araghchi, enquanto ele participava de negociações com um enviado especial de Trump, Steve Witkoff.
Os ataques de sexta ocorreram quando Trump planejava enviar Witkoff a Omã no domingo, 15, para a próxima rodada de negociações com o ministro das Relações Exteriores do Irã.
Witkoff ainda planeja ir a Omã para conversar sobre o programa nuclear de Teerã, mas não está claro se os iranianos participarão, de acordo com autoridades americanas que falaram sob condição de anonimato.
Trump entra em contato com líderes globais
O presidente fez uma série de telefonemas na sexta para âncoras de noticiários de televisão para renovar seus apelos ao Irã para que reduza seu programa nuclear.
O jornalista Dana Bash, da CNN, afirmou que Trump lhe disse que os iranianos “devem agora sentar-se à mesa” e chegar a um acordo. Trump, por sua vez, disse à NBC News que autoridades iranianas estão “me ligando para conversar”, mas não forneceu mais detalhes.
Na sexta, Trump também conversou com o primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, e o presidente francês, Emmanuel Macron, além do próprio Netanyahu.
Enquanto isso, os preços do petróleo subiram e as ações caíram devido às preocupações de que a escalada da violência pudesse afetar o fluxo de petróleo bruto em todo o mundo.
Políticos democratas elogiam Trump por diplomacia
Senador do Partido Democrata, Tim Kaine, da Virgínia, ofereceu palavras raras de elogio ao governo Trump após o ataque “por priorizar a diplomacia” e “abster-se de participar” dos ataques militares. O político também expressou profunda preocupação com o que os ataques israelenses poderiam significar para os americanos sitiados na região.
O governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, também filiado ao Partido Democrata, disse que se Israel conseguir atrasar o programa nuclear do Irã com os ataques, “provavelmente será um bom dia para o mundo”.
“Mas não se enganem: não queremos uma guerra total no Oriente Médio”, disse o governador. “Isso não é apenas ruim para o Oriente Médio, é desestabilizador para o mundo, e é algo que espero que não ocorra.”
Israel lançou ataques violentos contra o coração da estrutura nuclear e militar do Irã na sexta-feira, empregando aviões de guerra e drones previamente contrabandeados para o país para atacar instalações importantes e matar generais e cientistas de alto escalão – uma barragem que, segundo Israel, era necessária antes que seu adversário se aproximasse ainda mais da construção de uma arma atômica.
O Irã retaliou lançando dezenas de mísseis balísticos contra Israel, onde explosões iluminaram os céus de Jerusalém e Tel Aviv e abalaram os edifícios abaixo. As Forças Armadas dos EUA ajudaram Israel a interceptar os mísseis disparados pelo Irã no ataque retaliatório.
Governo americano já previa ação de Israel
Nas horas que antecederam o ataque israelense ao Irã, Trump ainda parecia esperançoso de que haveria mais tempo para a diplomacia.
Por outro lado, já estava claro para o governo americano que Israel estava se aproximando de uma ação militar contra o Irã. O Departamento de Estado e as Forças Armadas ordenaram na quarta-feira, 11, a evacuação voluntária de pessoal não essencial e seus familiares de certos postos diplomáticos dos Estados Unidos no Oriente Médio.
Antes de Israel lançar os ataques, alguns dos mais fortes apoiadores de Trump estavam levantando preocupações sobre o que outro conflito expansivo no Oriente Médio poderia significar para o presidente, que se elegeu com a promessa de acabar rapidamente com as guerras em Gaza e na Ucrânia.
Durante a campanha, Trump criticou o então presidente Joe Biden por impedir Israel de realizar ataques a instalações nucleares iranianas. Agora, Trump se viu clamando aos israelenses para que dessem uma chance à diplomacia.
Trump retirou-se de acordo por programa nuclear
A pressão do governo Trump para persuadir Teerã a desistir de seu programa nuclear veio depois que os Estados Unidos e outras potências mundiais chegaram, em 2015, a um acordo nuclear abrangente e de longo prazo que limitava o enriquecimento de urânio do Irã em troca da cessão de sanções econômicas.
Trump, porém, retirou os Estados Unidos do acordo de forma unilateral em 2018, chamando-o de “o pior acordo de todos os tempos”. O caminho a seguir está ainda mais nebuloso agora.
“Nenhuma questão divide tanto a direita atualmente quanto a política externa”, publicou no X (antigo Twitter) o analista Charlie Kirk, fundador da Turning Point USA e aliado de Trump. “Estou muito preocupado com base em (tudo) o que vi nas bases nos últimos meses, que isso causará um grande cisma no MAGA e poderá atrapalhar nosso impulso e nossa presidência incrivelmente bem-sucedida”, completou Kirk.
*com colaborações de Tara Copp, Seung Min Kim, Matthew Lee, Lisa Mascaro, Chris Megerian, Noah Trister e Jon Gambrell.