No que foi batizado de “Dia da Libertação”, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou ontem a imposição de tarifas que ele considera recíprocas sobre produtos comprados de todos os outros países. O pacote estabelece uma sobretaxa mínima geral de 10%, mas foram estabelecidos também porcentuais individualizados, com valores que chegam a 46%, no caso do Vietnã; 34% da China; 30% da África do Sul; 24% do Japão; e 20% da Europa. Os produtos brasileiros não escaparam da investida americana, e vão pagar taxa de 10%, em lista que inclui também países como Arábia Saudita, Argentina e Chile.
Trump rejeitou o alerta de analistas de que as tarifas poderão prejudicar a própria economia americana, com o risco de provocar o aumento da inflação interna, e desencadear uma guerra comercial, desmantelando um sistema comercial global que os EUA ajudaram a construir nas últimas décadas.
“Estamos sendo muito gentis. Vamos cobrar aproximadamente metade daquilo que eles nos cobram”, disse o presidente americano, em evento organizado nos jardins da Casa Branca. Trump levou para o anúncio um cartaz com a indicação da taxa supostamente cobrada hoje por diversos países na importação de produtos americanos e o porcentual que os EUA vão passar a adotar no comércio com cada um desses países. As novas tarifas vão entrar em vigor entre o sábado e a próxima quarta-feira.
Ele acusa seus parceiros comerciais de prejudicarem os EUA por décadas, dizendo que eles se engajaram em práticas comerciais desleais para roubar a riqueza do país e enriquecer suas próprias economias. Nesse processo, ele voltou sua atenção não apenas para adversários como a China, mas também para aliados tradicionais como o Canadá e a Europa.
Ao erguer uma barreira tarifária ao redor da maior economia do mundo, Trump procurou a reação dos parceiros comerciais. No Canadá, comerciantes fazem campanha para boicotar produtos americanos e valorizar a produção local. No Brasil, o Senado aprovou projeto que estabelece critérios para que o Brasil responda a “medidas unilaterais” de países e blocos econômicos – tema que começou a ser avaliado ontem pela Câmara.
Integrantes do governo defendem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não pode fazer o embate sozinho e deve trazer consigo o Legislativo, governadores e o setor privado, para que a resposta seja unificada e de Estado.
Já a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse que, em um momento em que as principais economias do mundo estão usando tarifas para extrair concessões em outros objetivos estratégicos, a Europa não pode “se dar ao luxo de ser desunida”, em discurso preparado para a entrega do Prêmio Sutherland de Liderança em Dublin, na Irlanda. “Se não pudermos tomar decisões de uma forma europeia, então outros usarão isso contra nós.”