A porcentagem da população brasileira com ensino superior completo praticamente triplicou nas últimas décadas, passando de 6,8% para 18,4%, entre 2000 e 2022. Os dados do Censo 2022 foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
“Em 22 anos, tivemos uma evolução surpreendente (no ensino superior); e o número daqueles com ensino médio completo chegou a dobrar”, afirmou o pesquisador Bruno Mandelli, do IBGE. “Mas o grupo dos graduados ainda é minoritário, abaixo dos 20%. No grupo dos mais envelhecidos, o acesso à educação foi mais difícil na juventude; e isso ainda tem um peso considerável na porcentagem final.”
O aumento no porcentual de brasileiros com ensino superior completo coincide com o período de explosão no número de matrículas na modalidade a distância no Brasil.
De acordo com os dados do Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), em 2000 o País tinha 1.682 estudantes matriculados no ensino superior na modalidade a distância. Em 2022, esse número teve um aumento para 4,3 milhões.
Como o Estadão também mostrou recentemente, os cursos remotos ganharam mais alunos diante da facilidade logística e dos custos mais baixos. A estatística mostra ainda que, ao mesmo tempo que o número de matrículas a distância cresce, a quantidade de alunos no presencial vem caindo. A qualidade dos programas, porém, preocupa governo e especialistas.
DETALHAMENTO DE DESIGUALDADES
A área que concentra o maior número de pessoas com curso superior completo no Brasil é a de Negócios, Administração e Direito (8.408.722), seguida de Saúde e Bem-Estar (4.146.840) e Educação (3.601.124). A porcentagem de pessoas com ensino superior completo aumentou entre brancos e negros (pretos e pardos), mas ainda há diferenças significativas entre as etnias.
Na população preta, o aumento foi de 5,8 vezes no período, saindo de 2,1% para 11,7%. Entre os pardos, o nível cresceu um pouco menos, 5,2 vezes, passando de 2,4% para 12,3%. O maior aumento foi entre os brancos, de 9,9% para 25,8%. Enquanto 16 milhões de pessoas graduadas são brancas, 7,5 milhões são pardas e há 1,8 milhão de pretas. Amarelas são 300,4 mil e indígenas, 54 mil.
Para se ter ideia, entre os graduados em Serviço Social, 47,2% eram brancos, 40,2% pardos e 11,8% pretos. A outra única área em que a porcentagem de negros (pretos e pardos) ultrapassa a de brancos é a de Religião e Teologia, em que 48,2% são brancos, 11% pretos e 39,8% pardos.
Um recorte que chama a atenção é quando se pega o tradicional curso de Medicina. Em 2022, o Brasil tinha 553.538 pessoas graduadas na área. Desse montante, cerca de 3 em cada 4 eram brancos, com 22% de negros (somados pretos e pardos). Indígenas representam apenas 0,1% dos formados na profissão e amarelos, 2,5%.
Medicina é o curso com a maior proporção de brancos do País, mas outros cursos como Odontologia e Economia têm números semelhantes – 75,4% e 75,2% de graduados brancos, respectivamente.
A distribuição geográfica dos médicos, como já mostravam estudos diversos, também é desigual, comprova o Censo de 2022. Enquanto no Distrito Federal está a maior concentração de médicos por habitantes – uma pessoa graduada em Medicina para cada 186,9 moradores -, no Maranhão está a menor concentração – um médico para cada 921,7 moradores.
Já a divisão entre homens e mulheres na Medicina é proporcional – praticamente metade para cada gênero.
POR GÊNERO
No recorte por gênero, aliás, os números mostram que já há mais mulheres com superior completo do que homens: em 2022, elas eram 20,7% do total de graduados, ante 15,8% de homens. Já a proporção da população com 25 anos ou mais “sem instrução e fundamental incompleto” era de 37,3% entre eles e 33,4% entre elas.
Um outro indicador usado pelo IBGE, de anos de estudo, também tem vantagem feminina. Na população de 25 anos ou mais, a média de anos de estudo entre elas é de 9,8 anos, e a deles é de 9,3 anos.
Mas há variações muito expressivas entre as áreas de graduação. Dentre as 40 áreas selecionadas especificamente pelo IBGE, a de Serviço Social foi a que mais registrou a participação feminina. Em 2022, 93% das pessoas com curso de graduação concluído nessa área eram mulheres.
Elas registravam também participação expressiva em cursos concluídos em Enfermagem (86,3%) e formação de professores sem áreas específicas (92,8%). No polo oposto, só 7,4% das pessoas com graduação concluída em Engenharia Mecânica e Metalurgia eram mulheres.