Caso foi encaminhado para a Delegacia de Defesa da Mulher de São Carlos (Foto: Fabio Rodrigues/G1)
O técnico de futebol Carlos Alberto Tomas, que comandou equipes de base da Ponte Preta e do Velo Clube, entre outros times, teve a prisão preventiva solicitada na quarta-feira (21), após uma denúncia de estupro de um jovem de 16 anos. Em interrogatório, o instrutor negou o crime, mas foi preso e levado para o Centro de Detenção Provisória de Serra Azul. De acordo com seu advogado, um pedido de liberdade provisória vai ser apresentado nos próximos dias.
A prisão ocorreu no último sábado (17), quando a Polícia Militar de São Carlos (SP) foi chamada para comparecer ao condomínio onde mora o treinador. A princípio, a ocorrência foi comunicada como "desentendimento", mas, após averiguação, o delegado Gilberto de Aquino percebeu que se tratava de um caso de suspeita de abuso
Socorro por mensagem
Em conversa com os pais do adolescente e com o próprio garoto, ele foi informado que o menino compunha a equipe treinada por Carlos em Rio Claro e que, na sexta, o instrutor havia convidado o jogador para passar o fim de semana na casa dele. O jovem pediu autorização para a família, que mora em uma cidade distante, e viajou com o treinador.
"Na casa, estavam os pais do agressor, que são idosos. Eles jantaram e, na hora de dormir, o instrutor começou a investir contra o garoto", afirmou Aquino. O delegado contou que o menino foi trancado no quarto, agredido e estuprado, e, quando conseguiu se desvencilhar, foi ao banheiro e mandou uma mensagem escondida para o pai.
Segundo o delegado, a família só viu o recado na manhã do dia seguinte, quando viajou para São Carlos, e, nesse intervalo, Carlos tentou convencer o adolescente a permanecer em silêncio.
"Falou para não dizer nada, para ficar quieto que ele iria comprar presentes, que ia colocar o menino para jogar no Guarani", afirmou Aquino.
Quando a família do adolescente chegou, houve o desentendimento e a PM foi chamada.
Depoimentos
Todos foram levados para o Plantão Policial e ouvidos. Os pais do adolescente mostraram as mensagens do filho e o menino foi submetido a um exame de corpo de delito que, de acordo com o delegado, comprovou o estupro e o uso de violência.
Segundo Aquino, a princípio, Carlos teria afirmado que a relação foi consensual, mas, negou o ato no interrogatório. Mesmo assim, o delegado disse que não tem dúvidas quanto à autoria do crime e pediu que, caso outros garotos tenham passado pelo mesmo, procurem a polícia.
"Mesmo que tenha ocorrido em outra época, que não tenham vergonha. Às vezes, pessoas nessa situação preferem se calar porque já sofreram um trauma, mas elas são vítimas. Elas terão a imagem preservada e os dados protegidos", contou. "O trauma pode diminuir quando o crime é relatado e é imposta uma pena ao agressor. Procurem a DIG, a DDM", pediu.
Prisão preventiva
O caso foi encaminhado para a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), que na quarta-feira (21) pediu a prisão preventiva do instrutor por estupro, crime definido como “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”.
A delegada responsável, Denise Gobbi Szakal, explicou que, como o garoto tem 16 anos, o caso não se enquadraria em “estupro de vulnerável”, quando a vítima tem menos de 14 anos, e que aguarda os laudos do Instituto de Criminalística para anexá-los ao processo.
Defesa
Advogado de Carlos, Marcos Rogério Zangotti informou que a prioridade, neste momento, é pedir a liberdade provisória do treinador. “É uma pessoa que tem emprego, endereço fixo, não tem antecedentes criminais”, justificou.
Ele disse que está juntando documentos para entrar com o pedido e que, após essa fase, poderá conversar melhor com o cliente e apurar o que aconteceu. “Ele está abalado, nunca passou por isso. É difícil ter essa conversa dentro de uma penitenciária”, comentou.
Zangotti também afirmou que a família e a namorada de Carlos estão do lado dele e que está confiante na aceitação do pedido de liberdade.
Velo e Centro de Treinamento
O presidente do Velo, Adalberto Irineu Borges, informou que ficou bastante chateado com o caso, mas reforçou que o clube não possui qualquer vínculo com o jogador e com Carlos, funcionário de uma empresa terceirizada de Rio Claro com a qual o time manteve contrato até setembro.
“Nossa parceria com os gestores das categorias de base sub 15 e sub 17 findou-se em 4 de setembro último, quando encerrou-se o campeonato até então disputado”, detalhou o Velo em um comunicado, no qual classificou os fatos relatados em São Carlos como “absurdos” e “totalmente reprováveis”.
O Centro de Treinamento em que Carlos atuava, por sua vez, informou que a notícia foi recebida com surpresa e que a empresa, que seleciona e treina meninos para diferentes clubes, vai ajudar a polícia no que for necessário.
Representante do local, Allan Ricardo Fernandes de Oliveira contou que, apesar de o contrato com o Velo ter terminado, o treinamento com os garotos prosseguiu com o intuito de prepará-los para disputas no ano que vem, daí o menino continuar na cidade. Também informou que, depois da denúncia, houve uma conversa com os garotos e eles estão sendo acompanhados por uma psicóloga.
“É a primeira vez que a gente tem esse tipo de problema”, afirmou. “A gente não traz qualquer um, optamos por pessoas com experiência no futebol e ele tem. O comportamento dele nunca despertou nenhuma dúvida”, disse o empresário e auxiliar técnico.
Cuidados
A pedido do G1, a delegada Denise Szakal deu alguns conselhos para pais de crianças e adolescentes que ficam longe de casa, caso de atletas e modelos, por exemplo.
“Primeiro, antes de autorizar que o filho fique longe, é preciso orientar, conversar sobre sexo, álcool, drogas. Orientar muito para que depois não ocorra um problema”, aconselhou. “Também é importante ir aos locais onde o filho vai ficar durante a semana e no fim de semana, saber como funcionam, conversar com as pessoas”, disse.
Fonte: G1