O Instituto Corrida Amiga, em resposta a uma declaração dada pela Prefeitura de São Paulo, após a publicação da reportagem “Mortes de pedestres crescem em ruas e estradas brasileiras em 2024”, no portal Mobilidade Estadão, no dia 21 de maio, verificou 25 travessias para pedestres apontadas como críticas na última campanha Travessia Cilada.
A ação identifica pontos com tempo insuficiente para travessia por diversos perfis de pedestres. Ao contrário do que foi divulgado pela gestão municipal, ao afirmar que todos os locais haviam passado por manutenção, o instituto identificou que 90% deles continuam inseguros para crianças e pessoas com deficiência.
A pesquisa batiza esses locais críticos de “ciladas”. Em 2024, ano da última da campanha, 167 travessias inseguras foram mapeadas em 21 cidades brasileiras. O Estatuto do Pedestre de São Paulo determina que o tempo suficiente para uma travessia deve levar em conta velocidades seguras. Elas são de 0,6 m/s para crianças e pessoas com deficiência, 0,8 m/s para idosos e 1 m/s para adultos. Ou seja, em um cruzamento de 10 metros, o tempo mínimo deveria ser de seis segundos. Segundo verificou o Instituto Corrida Amiga, 44% dos semáforos que a Prefeitura teria “ajustado” mantêm entre 4 e 5 segundos no sinal verde para pedestres. É, assim, o mesmo valor encontrado no estudo realizado em 2024.
Em todos os locais avaliados, a largura da via é maior que 10 metros. Em um deles, na faixa de pedestres entre a Av. Sumaré e a Rua Turiaçu, na zona oeste da capital paulista, a distância é de 32 metros. Seriam necessários 53 segundos para uma pessoa com deficiência atravessar em segurança. Atualmente, o tempo total entre sinal verde e piscante é de 13 segundos.
Outro problema é o tempo muito longo de sinal vermelho. A espera excessiva estimula comportamentos de risco entre os pedestres, afirma o estudo. Em 2024, o tempo médio de espera do pedestre foi de 2 minutos e 11 segundos, o que contrasta o tempo médio de travessia de 7 segundos. No caso das 25 travessias analisadas outra vez pelo instituto, esse período médio de espera caiu de 120 para 98 segundos, mas mais da metade delas ainda ultrapassa 90 segundos e uma delas superou 3 minutos. Os ciclos de curta duração ideais variam entre 60 e 90 segundos, conforme relatório de uma agência de transporte de São Francisco (EUA), de 2013.
Prefeitura
Por meio de nota, a Prefeitura informou que a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) implementa várias ações para melhorar a segurança dos usuários, principalmente de pedestres. “O tempo de travessia para pedestres foi ampliado em 32 importantes corredores e a manutenção semafórica é feita com base nas rondas dos agentes e registros da Central SP 156. A CET adota critérios do Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito (Volume V) Sinalização Semafórica, do Contran, e recomendações do Manual de Desenho Urbano e Obras Viárias do Município de São Paulo, de 2020. A CET incluirá os endereços citados no levantamento do Instituto Corrida Amiga no cronograma de manutenção”.
Para Silvia Stuchi, diretora-fundadora do Instituto Corrida Amiga, coordenadora da pesquisa de 2024 e da última atualização, porém, a readequação anunciada pela CET é insatisfatória. “Mantém a lógica da regulação semafórica que privilegia a fluidez dos veículos, em detrimento do deslocamento a pé”, diz . “Crianças, idosos e pessoas com deficiência seguem desassistidas em quase 90% das travessias analisadas”, acrescenta Silvia.