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Tratamento oncológico pede atenção em Cuiabá

Entre o início dos sintomas até o diagnóstico de câncer, a espera pode ser de até um ano. Para o senhor Delvair Domingues da Silva foram sete meses. Aproximadamente 200 dias da angústia de uma dor que se estende a familiares e amigos. O resultado, pela demora em identificar o tumor, é de câncer metostático – chamado pela enteada de “câncer maligno”, e em linguagem popular, quando o câncer já se espalhou pela corrente sanguínea por todo o corpo.

Nas policlínicas em Cuiabá o diagnóstico era gripe. Gripe sem fim. Com um pouco de conhecimento sobre tumores, a família procurou investigar e obteve o diagnóstico.  No dia que conseguiu dar entrada no Hospital de Câncer de Cuiabá (Hcan), a angústia da espera tomou conta da esposa e da enteada de Delvair.

“Ele está no balão de oxigênio. Através de muita luta e conversa que conseguimos uma consulta aqui no Hospital [de Câncer]. E agora ele está em estágio terminal e muito avançado”, conta Graziele Albuquerque. Ao fim da entrevista, o grito de dor da mulher ao conversar com a enfermeira ecoava nos corredores do hospital.

Graziele Albuquerque já tratou um tumor na mandíbula em 2010 no Hcan e fez a cirurgia para retirada do tumor em 2014. Hoje, curada, usa uma prótese e agradece o tratamento. “Após a cirurgia, faço acompanhamento de três em três meses. Faço acompanhamento com meu bucomaxilo Fábio Lima. Ele é maravilhoso. Além de ser médico, ele também é meu amigo, e meu psicólogo”, brinca.

Para o Thiago, seis anos, o diagnóstico foi realizado mais cedo. Com um ano e 11 meses o bebê com sangue na urina teve o diagnóstico em alguns dias. A rapidez no atendimento foi primordial para que Thiago sobrevivesse.

“Nós primeiros exames não acusaram nada. Fui a um urologista particular, fizemos outros exames de sangue que também não acusaram nada. Apenas no ultrassom acusou uma espécie de massa na bexiga dele. Fomos para Curitiba com a ajuda de amigos da cidade. 10 dias após o descobrimento do tumor, 60% do canal da urina do meu filho já estava obstruído”, revela a mãe do Thiago, Lucimar Tatiane Schulke, 28 anos.

As batalhas que Thiago enfrenta é coisa de gente grande. Moradores de Rondonópolis, mas à época da descoberta da doença em Sinop, o tumor que ele tem é raríssimo. Apenas em Curitiba, Paraná, havia o aparelho para fazer biópsia. “Foi a população de Sinop que doou dinheiro, pois se solidarizou com o caso do Thiago e conseguimos levá-lo”, diz a mãe.

O pequeno fez quimioterapia durante um ano para eliminar o tumor na bexiga, e durante os retornos, 1 ano e 3 meses depois, o tumor voltou, desta vez na próstata. “Nós descobrimos nos exames de rotina, que fazíamos de dois em dois meses. Depois ele fez de dezembro a março quimioterapia e o tumor dobrou de tamanho, mesmo com a quimioterapia”.

O menino, de apenas quatro anos, foi encaminhado para cirurgia em São Paulo, já que não obteve resposta à quimioterapia. Como consequência da complexa cirurgia, ele acabou perdendo a bexiga, a próstata e o canal da urina. Hoje, usa bolsa de urostomia e continua com o tratamento quimioterápico.

“As crianças não têm noção do risco de vida que eles correm. Quem sofre, somos nós. No começo ele questionou, porque ele tinha que levar aquela ‘bolsinha’ para casa? Nós explicamos que aquilo ia fazer parte do dia a dia dele, e ele não questionou mais. Corre, pula, brinca, normalmente”, conta a mãe.

TRATAMENTO

O tratamento oncológico é considerado um dos mais caros na medicina. E não há fórmula matemática que consiga sistematizar a complexidade dos custos de um tratamento, entre custos de viagens para consultas com especialista e cirurgias, medicamentos, homecare, e até nutricionista, psicólogos e fisioterapeutas.

Na saúde privada, os planos de saúde fazem o básico. A Unimed Cuiabá, por exemplo, cobre apenas os tratamentos obrigatórios da tabela da Agencia Nacional de Saúde (ANS). Em janeiro e fevereiro de 2016, a empresa fez 718 e 609 procedimentos de quimioterapia, respectivamente.

Para o vice-presidente do plano de saúde, Arlan Azevedo, a cooperativa cumpre com o que é imposto pela ANS, mas não se sustentaria se custeasse tratamentos de alto custo.

“É uma empresa privada. Temos que lembrar que um plano de saúde é chamado de saúde suplementar. Então, se um cidadão não se sente acolhido por conta da dificuldade do sistema público, nós, da classe médica, somos praticamente obrigados a recorrer à saúde suplementar. Mas ela não tem esse apelo do SUS, porque ela não consegue se sustentar assim”, afirma o presidente.

Na saúde pública, o Hospital de Câncer de Mato Grosso é referência nacional em cirurgia oncológica e regional no tratamento de câncer. Segundo o presidente do hospital Laudemi Nogueira, a instituição deve ficar atenta a todos o público, pois “o paciente não adoece sozinho”. “Ele adoece todo o entorno dele. O melhor provedor https://22bet-pt.org/ oferece ótimos jogos e promoções Adoce a família, os vizinhos, o colega de trabalho”.

O hospital disponibiliza alas para tratamento, inclusive, psicólogo para auxiliar os acompanhantes.

Segundo o presidente, a maior angústia que a instituição enfrenta é “a pessoa que está em casa que tiver uma pequena suspeita que um familiar, ou si próprio, tem alguma alteração metabólica deveria vir aqui. Mas o que acontece é que esses pacientes vão ao ‘postinho’”.

A complicação, de acordo com Laudemi, começa nessa burocracia. “Os postos de saúde não têm profissionais qualificados tecnicamente para detectar esse tipo de doença. Por exemplo, o câncer de próstata”

“O câncer só chega no hospital especializado na fase final. É preciso mudar o conceito. O Hospital de Câncer tem que ser a porta de toda e qualquer desconfiança que o paciente tem dessa doença”.

Isso porque um tumor descoberto na fase inicial não traz consigo somente mais chance de cura e um tratamento com menos consequência. Aliado a isso, o tratamento tem um custo até duas vezes menor. “A prevenção é a palavra chave quando falamos de câncer. Porque se descoberto em estágio inicial, 90% dos cânceres têm cura, mas a maioria das pessoas não tem essa oportunidade”, revela.

O Hospital de Câncer realizou 70 mil atendimentos em 2015 e 20 mil atendimentos nos mutirões no interior, com um custo anual médio de R$ 45 milhões. Um paciente no Hospital de Câncer custa, em média, R$700 por mês. Um custo baixíssimo, visto que, um tratamento feito de forma particular pode chegar a custar R$8 mil por mês.

A lei 12.732 de 2012 diz que o tratamento oncológico deve ser realizado em até 60 dias após o diagnostico. “Aqui no Hospital de Câncer, se dependesse exclusivamente da instituição, nós iniciávamos ato continuo. Mas ai é que entra a maldade dos governos. Mesmo com o pedido de exames em mãos, o Hospital não tem autonomia para realiza-los. É preciso encaminhar a solicitação para uma central de regulação que autoriza. Esse exame demora muito… Temos pacientes com pedido de endoscopia com mais de ano em espera”, revela Laudemi.

A angústia dos pacientes fica por conta dessa demora. Um tumor pode passar de fase inicial para grande, em semanas. “Não adianta fazer campanha para que Barretos venha para cá. Isso não beneficia Mato Grosso em nada. A unidade de Barretos é referência, sim, mas nós temos condições de crescer aqui no Estado para ter o mesmo padrão. Com o dinheiro da vinda desse hospital, por que não investir na unidade que já existe?”, alfineta.

ASSISTÊNCIA

Thiago e a mãe se hospedam semanalmente na Associação dos Amigos das Crianças com Câncer (AACC) Mato Grosso. Há 17 anos, a casa hospeda crianças e adolescentes em tratamento oncológico, e seus acompanhantes de todo o Estado. Esse apoio diminui os custos que a família teria com hospedagem, e viabiliza o tratamento na capital.

Contudo, as crianças e adolescentes da Grande Cuiabá também são assistidas pela instituição e fazem parte da programação da casa. A instituição oferece ainda transporte para os hospitais, clinica, laboratório, medicamentos e até ajuda direta como cesta básica.

 As crianças do interior, por exemplo, vão rotineiramente a casa, têm apoio escolar da instituição. Isso possibilita o acompanhamento do ano letivo, mesmo fora da escola onde estuda. 

Para o tratamento quimioterápico do pequeno Thiago, por exemplo, foram indicadas 50 sessões de quimioterapia – pouco mais de um ano. Dessas, ainda faltam 29. Para que tenha uma qualidade fora de casa, a instituição disponibiliza um plano de atividades com música, passeios, exercícios, cinema, e até equoterapia.

“Tudo que nós pudermos oferecer a eles para poder melhorar a qualidade de vida, nós faremos. Ainda possibilitar um momento de distração, enquanto brincam uns com os outros, saem do mundo de enfermidade, para ir a um mundo de criança. Nossa missão é contribuir para que eles recuperem a saúde e tenham direito à vida, e uma vida de qualidade”, afirma o presidente da AACC Benildes Firmo.

A AACC também já ajudou famílias inteiras a fazer pequenas reformas em suas residências. Benildes explica que “não adianta nós fazermos um trabalho aqui dentro se quando ela chega a casa, não possui banheiro, não tem filtro para tomar uma água… Totalmente sem estrutura”.

Para que isso seja viável, a casa sobrevive de doações e voluntariados por meio da população mato-grossense. Caso tenha interesse, ligue no (65) 3025-0800 para informações.

PÍLULA DA CURA

O composto fosfoetanolamina ficou conhecido pela maioria dos brasileiros em 2015. A pílula, criada com composto presente no organismo de diversos mamíferos, foi sintetizada pelo químico Gilberto Orivaldo Chierice, em 1980. O professor do Instituto de Química de São Carlos alega que há eficiência da droga em combater, reduzir e até curar tumores, naturalmente.

Entretanto, a comunidade médica é contra a distribuição do produto, visto que foi testado apenas em fase inicial. O coordenador do centro de cirurgia oncológica do Hospital de Câncer, Gustavo Rondelo, diz que a droga não tem eficácia comprovada. 

“Em uma análise do ponto de vista biomolecular, todas as alterações genéticas que ocorrem para as células malignas conseguirem se proliferar, os milhares de receptores de membrana, vai constatar que não é um simples remédio que dará a cura para todos os tipos de câncer”, afirma o médico.

São mais de 200 tipos diferentes de câncer. E para cada tipo, uma dose e medicamento específico. A quimioterapia, por exemplo, é feita por meio de combinações de drogas para cada tipo de câncer e quadro do paciente.  “Não há como dizer que é a salvação do câncer”.

Para o especialista o risco maior é ser distribuído de forma política e não médica. “O risco é o paciente substituir o tratamento convencional e ter algum efeito adverso. Que possam ocorrer alergiase levar à morte. Não sabemos os efeitos colaterais”, alerta.

Veja mais na edição 579 do jornal impresso.

Cintia Borges

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