Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.
(Quando, Sophia de Mello Breyner Andresen)
Eu passarei, mas tudo há de ficar
O mar que, solitário, beija a areia
O pássaro que encanta, que chilreia
E bica os novos frutos do pomar.
E tantos amarão, também, o mar,
Como eu amei, floresta e lua cheia,
O belo por de sol na minha aldeia,
E tudo o mais que canto hão de cantar.
Rumores dos pinhais, as primaveras,
O porto, o cais, a angústia das esperas,
Até o mesmo jardim à minha porta…
E tudo viverá sem mim, por certo,
O sol a renascer no céu aberto
A própria morte, se eu estivesse morta.
Edir Pina de Barros é membro da Academia Brasileira de Sonetistas e da Academia Virtual de Poetas de Língua Portuguesa. Seus poemas estão disponíveis em vários livros, antologias, revistas eletrônicas e nas mídias sociais. É doutora e pós-doutora em Antropologia pela USP, professora aposentada (UFMT). Nasceu no Mato Grosso do Sul e hoje reside em Brasília.