De acordo com profissionais do Hemocentro, mesmo que um sangue seja do mesmo tipo do paciente que aguarda a transfusão, faz-se necessário o exame de compatibilidade. Além disso, também é preciso que o sangue passe por exames para detectar doenças como sífilis e Chagas, o que está sendo prejudicado por causa da falta de reagentes. Outro grave problema enfrentado pelo Hemocentro é com relação à falta de seringas e recipientes para armazenagem de material, o que levou a unidade a suspender a coleta de sangue externa por doação.
A dificuldade para garantir a segurança na transfusão de sangue e a agressão a uma servidora da Farmácia de Alto Custo soam como o limite do sucateamento do Sistema Único de Saúde (SUS) em Mato Grosso. Este é mais um item da lista de problemas que desfiguram o SUS, considerado o melhor plano de saúde do mundo. Faltam leitos, usuários esperam até um ano ou mais por cirurgias ou exames mais complexos, o único hospital psiquiátrico está fechando as portas e a gestão de vários hospitais públicos está nas mãos da iniciativa privada que o Governo do Estado insiste em chamar de Organização Social de Saúde (OSS).
Maria Ângela Conceição Martins é conselheira de Saúde de Cuiabá e faz uma retomada sobre a criação do SUS ao lembrar que “a Constituição Federal de 1988 traz todos para o atendimento promovendo a inclusão total dos cidadãos; o povo fez a escolha de um sistema de saúde universal”. A história também relata que na década de 90 apenas quem tinha carteira assinada podia ser atendido no sistema público e assim se excluía metade da população.
Quando da implantação do SUS, a conselheira explicou que o País já entrou na contramão do estava sendo proposto sem definir as fontes de recursos da União para financiar a saúde, o que não ocorre até hoje.
Maria Ângela coloca questões a serem discutidas pelo Governo do Estado: qual a saúde que o governo quer para a população? Mato Grosso quer ser referência em produção de grãos e maior consumidor de agrotóxicos ou quer uma população composta de cidadãos saudáveis?”. Segundo a conselheira, a Lei nº 8142 propõe que a população se organize através de conselhos e associações. “O cidadão é quem deve controlar os serviços prestados e resultados de seus debates devem ser agenda de governo”.
Mesmo pensamento tem Werley Perez, médico que atua no Programa de Saúde da Família: “O desinteresse da população é enorme, pois está descrente do sistema atual. Os cidadãos são meramente figurativos na gestão e suas pautas de reivindicações deveriam se converter em políticas públicas”. O médico também relata o desestímulo que paira sobre a classe médica com os poucos avanços que houve na melhora da infraestrutura para melhorar o atendimento ao cidadão: “É muito mais amplo que um cara com estetoscópio no pescoço e um receituário na mão dizendo que vai melhorar a saúde das pessoas”, ponderou Perez.