As teorias da conspiração são fenômenos que desde sempre se espalharam nas sociedades humanas, provocando perseguições, atiçando violências e causando mortes. No final do século XV, por exemplo, a Europa mergulhou na chamada caça às bruxas, uma das mais brutais perseguições e execuções de pessoas – principalmente mulheres – acusadas de satanismo.
Esse movimento foi incentivado pelo livro O Martelo das Bruxas, escrito em 1487 pelos religiosos inquisidores Heinrich Kramer e James Sprenger. A obra serviu como um manual de identificação, julgamento e punição de supostas bruxas, promovendo a ideia de que certas pessoas praticavam atos a mando de satanás, prejudicavam colheitas, traziam doenças e conspiravam contra o cristianismo.
A partir daí, milhares de mulheres foram torturadas e executadas, consideradas culpadas por associações com o diabo. Esta teoria gerou uma onda de extermínio de mulheres suspeitas, quase sempre queimadas vivas, sob aplauso da multidão.
No início do século XX, outro livro estimulou uma nova onda de teorias conspiratórias: os Protocolos dos Sábios de Sião (eu o li na década de 1980). Este texto falsificado, supostamente originado de um plano judeu para dominar o mundo, circulou intensamente na Europa e contribuiu para alimentar o antissemitismo já latente.
Propagado como prova de uma conspiração judaica global, os Protocolos foram amplamente desmentidos, mas continuaram a influenciar movimentos antissemitas, especialmente na Alemanha nazista, que usou o documento para justificar políticas de perseguição e extermínio contra os judeus. O impacto dessa teoria foi devastador, servindo de base para uma ideologia que culminou no Holocausto e que continua a ser um símbolo sombrio do poder de narrativas conspiratórias.
Nos anos 1960, surge um novo tipo de teoria conspiratória, menos violenta, mas igualmente controversa: a hipótese de que antigas civilizações humanas teriam sido visitadas e influenciadas por extraterrestres. Essa ideia foi popularizada pelo escritor suíço Erich von Däniken em seu livro Eram os Deuses Astronautas? (Eu o li em 1971), onde sugere que seres de outros planetas teriam contribuído para a construção de monumentos como as pirâmides do Egito.
Muito depois surgiu a NOM, teoria ainda em voga, que sugere um plano contínuo de domínio global. Sua filha, a QAnon, nascida em 2017, narra a luta entre o ex-presidente Donald Trump e uma suposta rede de elites maléficas.
Muitas pessoas que acreditam na NOM também acabam acreditando no QAnon, e vice-versa. A internet permitiu que ambas as teorias se misturassem, e, muitas vezes, os conteúdos sobre NOM e QAnon andam juntos, sempre promovendo a desconfiança nas instituições e na democracia.
Teorias da conspiração possuem uma capacidade de influenciar comportamentos, gerar suspeitas e provocar reações extremas. Os exemplos do Martelo das Bruxas e do Protocolos dos Sábios do Sião mostram o poder que elas têm de desencadear tragédias.
Hoje, a internet facilita a criação e divulgação dessas teorias, que em poucas horas alcançam o mundo inteiro. E não faltam pessoas que acreditem nelas e as repliquem, por mais absurdas e grotescas que sejam.
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