A tenente do Corpo de Bombeiros, Izadora Ledur, principal ré do processo que apura a morte do aluno Rodrigo Claro, de 21 anos, não compareceu ao primeiro dia de audiência no Fórum de Cuiabá. A ré foi representada pelo advogado de defesa Hundel Rolim.
A mãe do soldado, Jane Claro, disse à imprensa que já esperava por isso e chamou Ledur de covarde. O processo tramita na 7ª Vara Criminal de Cuiabá, sob a responsabilidade do juiz Marcos Faleiros da Silva, mas o Ministério Público Estadual pediu para que os autos sejam remetidos à 11ª Vara Criminal da Capital, que atua especificamente com processos contra militares.
Segundo Jane, ela espera que o julgamento seja feito na Justiça Comum, pois acredita que, caso a tenente seja condenada, poderia ter uma pena mais branda. Bombeiros colegas do aluno no curso de formação estão no Fórum para dar apoio à família de Rodrigo Claro. Representantes da Associação de Vítimas de Violência de Mato Grosso também compareceram à audiência
Para a mãe do soldado, a possível condenação da tenente significa a “preservação de outras vidas”. “Servirá para que outras famílias não passem pelo o que a gente passou”, disse.
Além de Ledur, todos os demais réus são militares, o que justificaria o pedido de remessa feita pelo Ministério Público do Estado (MPE). Os réus são: tenente-coronel Marcelo Augusto Revéles Carvalho, tenente Thales Emmanuel da Silva Pereira, os sargentos Diones Nunes Sirqueira e Eneas de Oliveira Xavier e o cabo Francisco Alves de Barros.
MPE propõe acordo e juiz acata decisão
A ação penal contra os cinco réus acusados de envolvimento na morte do soldado do Corpo de Bombeiro da Capital, Rodrigo Claro, foi suspensa pelo juiz Marcos Faleiros.
Decisão foi dada nesta sexta-feira (26) durante a primeira audiência do caso, realizada no Fórum de Cuiabá. A proposta feita aos réus foi feita pelo Ministério Público Estadual (MPE) e suspende por três anos a ação.
Foram beneficiados os bombeiros Marcelo Augusto Revéles Carvalho, Thales Emmanuel da Silva Pereira, Diones Nunes Siqueira, Francisco Alves de Barros e Enéas de Oliveira Xavier.
A tenente Izadora Ledur, não foi beneficiada com a proposta, por ser considerada a principal responsável pela morte de Rodrigo. Ela continua a responder o processo.
Os cinco réus deveram cumprir os seguintes requisitos propostos pelo MPE: Não devem se ausentar da comarcar por mais de 30 dias, sem autorização judicial; Devem comparecer pessoalmente todo mês em juízo; Comprovar a frequência de 50 horas-aula em curso de Direitos Humanos; E estão proibidos de participarem de qualquer banca de exame ou treinamento nas corporações que pertencem.
Caso cumpram todas as exigências, após o prazo de três anos a ação contra os cinco será extinta. Na hipótese de não cumprimento, voltam a ser réus.
Depoimento do médico
Em depoimento dado ao juiz Marcos Faleiros, o médico neurologista Rogers Tomas Kleber Ribeiro disse que Rodrigo, poderia ter o sangramento que teve tanto em casa quanto fazendo outra atividade física e que não se tem como provar que foram as atividades praticadas durante o treinamento, que levaram o soldado ao falecimento.
“Quando você vê um paciente jovem com aquele tipo de sangramento, ou é aneurisma ou é má formação venosa. Tinha muito sangue dentro do ventrículo”, detalhou.
Segundo o neurologista, foi solicitada uma angiografia para saber o motivo do sangramento, feito no dia seguinte. “Não tinha má formação na artéria venosa", relatou. A reação de Rodrigo foi estável após o cateter de fibra ótica colocada para medir a pressão do crânio.
A causa do sangramento era um vaso que rompeu, no entanto, o médico disse que não sabe o porquê do rompimento e que Rodrigo morreu por complicações que danificaram o cérebro e rebaixaram o nível de consciência do paciente.
Soldado diz que Ledur pareceu nunca gostar deles
Em depoimento, o soldado do Corpo de Bombeiro,s Airton dos Santos disse que a Tenente Izadora Ledur pareceu nunca gostar deles. “Era muito estranho. Ela parecia nunca gostar de nós". O mesmo disse que ela era a única que torturava os alunos e que se recorda de um dia quando ao sair da água, Ledur teria deferido ofensas contra ele o chamando de "bicha". "Ela disse que eu não era homem para usar farda e mandou que eu deixasse de ser "frouxa".
Caso
Dia 10 de novembro de 2016 e o cenário era a Lagoa Trevisan, em Cuiabá (MT). Alunos realizavam treinamento do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso. Tudo corria normalmente, até que um dos alunos sentiu-se mal e foi liberado do treino.
Era o jovem Rodrigo, que morreu após cinco dias internado no Hospital Jardim Cuiabá, na capital. Ele deu entrada no hospital com aneurisma cerebral após ter recebido uma série de afogamentos durante o curso, segundo a família.
O jovem já havia comunicado com sua mãe sobre a conduta da oficial com ele. Rodrigo afirmou que ocorreram outros casos e que as sessões de afogamento eram comuns. Outros alunos que estiveram no curso, confirmaram a perseguição da tenente com o então aluno.
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