Ele tem tentando, apesar de ser chamado de “menino”, fazer uma política diferente. Aos 28 anos, o vereador Felipe Wellaton (PV) tem visto seu nome em destaque principalmente na mídia após tomar decisões que se destacaram no meio político. Ele pediu a cassação do mandato do prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro (PMDB).
O pedido foi feito após a divulgação de um vídeo no “Jornal Nacional”, da Rede Globo, em que Pinheiro e outros deputados e ex-deputados aparecem recebendo maços de dinheiro, supostamente de pagamento de propina pelo ex-governador Silval Barbosa (PMDB), entre 2010 e 2014.
A atitude de Wellaton resultou em três documentos protocolados na Casa de Leis pedindo a cassação de seu mandato. Duas foram anônimas e uma terceira apresentada por um ex-servidor da Câmara, Valmir Molina. A última em questão foi aceita e passa por análise do presidente da Casa, Justino Malheiros, também do PV.
Em uma entrevista ao Circuito Mato Grosso, o vereador disse que está tranquilo quanto ao pedido de cassação, pois acredita na justiça e na opinião pública que tem mostrado apoio a ele. Wellaton também não poupou críticas ao prefeito, cobrou atitudes e disse que não quer ser “amado” pelos colegas vereadores, apenas respeitado.
Confira:
Circuito Mato Grosso: Vereador, qual o sentimento que ficou como cidadão e principalmente como vereador ao ver as imagens mostradas no “Jornal Nacional”, da TV Globo, com o prefeito Emanuel Pinheiro recebendo dinheiro, a princípio, de propina?
Felipe Wellaton: O sentimento como cidadão foi de choque e tristeza. Um sentimento que sufoca. A gente tinha acabado de passar pelo período eleitoral, estávamos com uma esperança grande de uma nova gestão, Cuiabá caminhando para os 300 anos e quando você vê aquelas imagens em que aparece o prefeito junto com vários deputados, prefeitos do interior, deixa a gente com o sentimento de tristeza. Mas também com o sentimento de que as coisas não podem ficar desse jeito. Eu não posso aceitar isso e esse é o sentimento como vereador, que isso não pode ficar impune, não pode deixar de ser passado a limpo. Tem que haver uma fiscalização em todos os poderes. Na Assembleia, na Prefeitura e outros poderes, os casos devem ser investigados. A gente não pode deixar a população tendo seus representantes com olhos fechados.
CMT: Foi com esse sentimento de que as coisas precisavam ser investigadas que o senhor propôs que fosse instaurada uma CPI de investigação. A partir desse momento, o que foi feito?
F.W.: No dia (24 de agosto) em que houve denúncia na Folha de S.Paulo, não houve sessão na Câmara. Foi cancelada e a gente achou estranho, mas aguardamos. Quando foi à noite, explodem aquelas imagens [do prefeito recebendo dinheiro] no “Jornal Nacional”. Eu imediatamente sentei com os meus advogados e equipe jurídica e falei que deveríamos analisar os fatos. No outro dia eu fui à Câmara e disse que nós tínhamos que pedir o afastamento dele. Eu acredito que um dos princípios que regem a gestão pública é o principio da moralidade, então ele [prefeito] tem que estar carregado dessa virtude. E naquele momento eu me manifestei contra a permanência do cargo. Foi quando o vereador Marcelo Bussiki (PSB) pediu a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para analisar as imagens. Para isso seriam precisos nove votos. Já eu queria o rito da Comissão Processante, neste caso precisaríamos de 13 votos para pedir direto o afastamento, por quebra de decoro. Mas como não tínhamos a maioria, não iríamos conseguir, então seguimos o pedido do Marcelo, contudo obtendo apenas seis votos.
CMT: Por que vocês não receberam mais votos para abrir a CPI?
F.W.: Houve grande suporte e apoio dos vereadores de base de proteção do prefeito e a gente percebeu que naquele momento legislativo os vereadores não queriam fazer a investigação. E não tinha nada de ilegal ou imoral quanto a isso. Muitos vereadores chegaram a declarar na imprensa, como o vereador Renivaldo Nascimento (PSDB), que não caberia à Câmara fazer a fiscalização e sim ao Poder Judiciário. Mas eu discordo. Cabe sim à Câmara, pois temos o poder de investigar o prefeito, julgar as contas, a atitude, e eu não me eximi de fazer o meu papel. O prefeito ficou 15 dias sem dar uma resposta para a população e naquele momento seria até uma ferramenta da Casa trazê-lo até lá para que se manifestasse publicamente. O que não houve até hoje.
CMT: A Câmara recebeu três denúncias contra o senhor após o pedido de afastamento. Dois requerimentos, por quebra de decoro e ética, foram rejeitados pelo presidente da Câmara, Justino Malheiros, e a terceira representação esta sendo avaliada. O senhor chegou a dizer em entrevista ao Circuito Mato Grosso que essa terceira denúncia foi feita por um “laranja”. Quem seria essa pessoa e por que e qual o objetivo disso tudo?
F.W.: As primeiras duas manifestações foram feitas no anonimato. Não havia nomes, não havia digitais, não havia CPF, não tinha qualificação da pessoa que pedia a investigação. A terceira foi acatada pela Casa, e o mais engraçado é que as três foram apresentadas na mesma data, mas as outras duas já estavam na Casa. O terceiro já foi servidor da Câmara, servidor da Prefeitura e no próprio requerimento diz que eu “constrangi, caluniei e difamei” os vereadores. Ele não tem nem legitimidade para isso. Quem teria são os próprios vereadores. No início, quando estava tudo à flor da pele, muitos chegaram a ir à tribuna, falar nos corredores, nos bastidores, que iriam entrar na Justiça. Outros falavam que eu deveria responder um processo de cassação, de quebra de decoro e ética, e isso tenho gravado. E, no entanto, nenhum vereador me acionou na Justiça ou abriu algum procedimento. Aí vem um terceiro falando que eu ofendi os vereadores? É um pouco estranho. Por isso a gente acredita no termo “laranja”. Percebemos que nenhum dos vereadores que se posicionaram contra a minha atitude teve a coragem e transparência de pedir, mas um terceiro sim.
CMT: O senhor conhece essa pessoa que entrou com o pedido? Chegou a vê-la alguma vez na Câmara?
F.W.: Conheço-o e cheguei a vê-lo na Secretaria de Serviços Urbanos, onde ele já trabalhou. Na Câmara, não.
CMT: Acredita que haja uma articulação dos seus colegas parlamentares ou do próprio prefeito para conter a sua posição perante os fatos?
F.W.: O que a gente percebe é que quanto mais se aumenta a fiscalização, quanto maior o trabalho do vereador como fiscal, mais retaliações pessoais e do nosso próprio mandato acontecem. Percebo que há sim uma digital do Executivo nas nossas ações, mas não tenho nada contra a Casa ou contra os vereadores. Penso e espero que não seja uma articulação dos vereadores, contudo a gente sente uma insatisfação e um sentimento raivoso de uma meia dúzia. Mas estou muito tranquilo quanto a nossa defesa.
CMT: A representação contra o senhor que tramita na Câmara Municipal está prestes a ser votada; acredita que ela seja aprovada?
F.W.: Eu não ofendi nenhum dos meus pares [vereadores]. Eu recebo essa representação com muita tranquilidade. Se há um julgamento na Casa, ele é político e não jurídico. A gente acredita no Poder Judiciário e na opinião pública. Caso isso tenha continuidade, estamos preparados para fazer a nossa defesa.
CMT: O senhor chegou a dizer em entrevista que as acusações contra si eram para desviar o foco do verdadeiro responsável pelas 460 demissões na Câmara, ocasionadas pela falta da suplementação. Quem é o responsável?
F.W.: Quem detém o recurso do orçamento cuiabano é o prefeito. Quem poderia manter os servidores ou não é o prefeito. Quem fez uma projeção de suplementação e não concedeu, por não ter feito essa administração junto ao orçamento cuiabano, é ele. Então quando eu falo que há digitais sim nessas demissões do prefeito, é porque há e é só a população acompanhar. Ele fez uma suplementação ilegal, que tirava R$ 2,5 milhões de asfalto, R$ 700 mil da Assistência Social, R$ 100 mil de apoio às pessoas deficientes. Então eu entendo que quem é dono do recurso, ou seja, quem é o pagador é o responsável.
CMT: Acredita que seriam necessárias essas 460 demissões na Câmara?
F.W.: Eu percebo que a Casa ficou sem recursos, contudo se você tem uma previsão, se você lá atrás tinha a ciência de que esse recurso poderia vir ou não, você tinha que fazer gestão com o que você tinha em caixa. A partir do momento em que você gasta mais do que você arrecada, certamente a conta não fecha.
CMT: Vereador, sabemos que entre o senhor e o vereador Renivaldo tiveram um estranhamento. Gostaria que explicasse o que realmente aconteceu e se de fato vocês tiveram uma divergência.
F.W.: Foi um constrangimento que o próprio vereador causou. Ele foi a alguns meios de comunicação e citou palavras, me chamou de menino e usou palavras de baixo calão. Ali [Câmara] todo mundo foi eleito por uma parcela da população, tem legitimidade para fazer e representar aqueles que o colocaram, contudo eu vejo que houve sim um excesso de declarações por parte dele, mas eu recebo isso com tranquilidade e maturidade. Vou continuar fazendo meu trabalho de fiscalização, não vou partir para ataques pessoais porque eu o respeito. Eu tenho falado dentro da Casa, nos corredores e a portas fechadas, eu não peço que ninguém me ame, mas tem que me respeitar.
CMT: Com tudo isso, como está o apoio do Partido Verde? Eles estão dando algum apoio?
F.W.: O meu partido faz parte da base do governo Emanuel Pinheiro. Com tudo isso que está acontecendo, o partido me deixou independente, livre, para tomar os meus posicionamentos. Até porque é minha prerrogativa como parlamentar. Eu tenho esse direito e percebo que já vinha tomando decisões independentes.
CMT: Percebemos através das redes sociais que o vereador tem recebido apoio da população quanto à luta que vem travando como parlamentar. Tem sentido isso também?
F.W.: O apoio que estou recebendo me dá coragem para fazer diferente, fiscalização enérgica e transparente, e é isso que a gente espera continuar fazendo.
CMT: Como está o clima na Câmara de Vereadores hoje?
F.W.: O clima que eu percebo é que abaixou um pouco a poeira. Viram que a suplementação não foi concedida e agora cada um está organizando o seu mandato da forma que cada um possa gerir de forma tranquila. Mas percebo que se criou um bloco de situação e oposição, principalmente no caso dos seis vereadores que assinaram a CPI, que estão querendo engrossar um pouco o caldo e as fiscalizações na cidade, e isso tem gerado um certo dualismo dentro da Casa.
CMT: Há alguns meses, nós o entrevistamos para falar sobre os seis meses de gestão do prefeito Emanuel Pinheiro. Na época, o vereador disse que nada poderia ser dito ainda, pois era muito cedo. Qual sua opinião agora?
F.W.: A opinião é de que ela [gestão] não tem andado em consonância com a opinião popular. A população quer o simples, quer saber como vai ficar a obra do Pronto-Socorro, quais são os bairros que serão asfaltados e quais não serão, quer saber como estão os insumos das policlínicas, das unidades básicas de saúde. Quer saber da nova licitação que ele [prefeito] disse que iria fazer para a troca da frota de ônibus e até agora nada. Cadê essa licitação? Não foi chamada nenhuma empresa, não foi colocado nenhum ponto novo, está tudo igual. Eu percebo que o gestor tem que prezar e priorizar o que a população quer de forma simples. A população quer uma cidade bem cuidada, com uma limpeza de qualidade, que é de responsabilidade da Prefeitura.
CMT: O senhor acredita que terá algum problema com relação à aprovação dos seus projetos na Câmara a partir dos últimos acontecimentos?
F.W.: Eu acredito que em relação aos bons projetos a Casa se vai ter sensibilidade sim para aprovar, para dar continuidade. O Parlamento é feito de bons vereadores que quando você apresenta bons projetos, que beneficiam uma comunidade, a cidade, eles conseguem ver o valor das propostas e aprovam. Mas a gente percebe uma relação com o Executivo um pouco estremecida. Algumas demandas acabam sendo não atendidas ou postergadas e logicamente isso só prejudica a nossa relação com a população, mas a gente sabe que quando a gente faz um trabalho de fiscalização maior, o trabalho em consonância com o Executivo, de trazer a obra, o bem, acaba sendo diminuído.
CMT: O título de Casa dos Horrores retornou à Câmara de Vereadores devido a toda essa situação. Acredita que o título está fazendo jus no momento?
F.W.: Eu espero que não. Faço parte da gestão, se volta a ser Casa dos Horrores certamente eu vou ser punido por fazer parte. Não quero que volte essa terminologia, não quero que seja Casa dos Horrores, ali é a Casa do Povo e se depender do meu mandato ali será a Casa do Povo Cuiabano. Casa que a população possa não só esperar dos vereadores atitudes positivas como também frequentá-la.