O psicólogo Benomy Silberfarb trabalha com balões imaginários desde 1997 e conta que já “operou” mais de 2 mil pacientes. Inspirada em um método desenvolvido por uma clínica espanhola, a técnica atua como coadjuvante no tratamento de transtornos alimentares e faz parte de um processo terapêutico que dura, em média, 10 sessões.
Para que a perda de peso ocorra de forma saudável, é essencial que o paciente também seja acompanhado por médico, nutricionista e que faça atividades físicas regulares, segundo Silberfarb.
A cirurgia imaginária ocorre na quinta ou sexta sessão de terapia, momento em que o terapeuta já teve tempo de abordar os motivos psicológicos que levam o paciente a ter dificuldade em perder peso. O procedimento se dá da seguinte forma, segundo Silberfarb: primeiro, o paciente entra em transe hipnótico e passa por uma sessão de relaxamento profundo. Depois, o terapeuta sugere que o paciente está sendo conduzido a uma sala de cirurgia e que lá encontra o cirurgião e sua equipe.
Então, o paciente imagina estar recebendo uma anestesia no braço e que um balão está sendo inserido em seu estômago por meio de uma incisão. O terapeuta sugere que, a partir daquele momento, o paciente se sentirá saciado com menos comida.
O clima de hospital é reforçado por efeitos sonoros desenvolvidos pelo próprio Silberfarb em um estúdio que mantém em sua casa, como sons do respirador e de outros instrumentos médicos levam o paciente a acreditar, momentaneamente, que realmente está passando pela cirurgia. Depois do procedimento, o paciente faz mais algumas sessões de manutenção antes de ter alta.
Apesar de estarem conscientes de que a cirurgia só ocorreu na imaginação, os pacientes têm a sensação, segundo Silberfarb, de que têm menos espaço no estômago. “Ele aceita a sugestão hipnótica de que tem um balão no estômago e relatam uma sensação de enjoo se passarem de determinado limite”, diz. O tratamento também envolve técnicas para controle de ansiedade. Segundo o terapeuta, a técnica é eficaz em 75% dos pacientes.
A hipnose é um método reconhecido no Brasil pelos conselhos federais de Medicina (CFM), Psicologia (CFP), Odontologia (CFO) e Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito). Somente os profissionais dessas categorias têm autorização para praticá-la, desde que possuam curso de especialização adequado.
Vontade de comer doce
A psicóloga Francys de Tommazo, de 37 anos, foi uma das pessoas que "receberam" o balão imaginário. Ela decidiu que precisava fazer alguma coisa para mudar a alimentação quando sua médica disse que ela não poderia mais comer chocolate porque o doce estava agravando um quadro de enxaqueca. Uma amiga comentou sobre a técnica e ela quis experimentar.
“Depois do procedimento, você sente um pouco de enjoo e o estômago bem pesado”, diz. Logo após a cirurgia imaginária, ela conta que nem conseguiu almoçar direito. “Reduz muito a ansiedade. Hoje como bem menos e tenho uma alimentação saudável, como tudo integral.” Francys perdeu 12 quilos em dois meses e hoje pesa 59 quilos.
Além da colocação do balão, ela também se submeteu a sessões hipnóticas específicas para deixar de comer doce. “Meu marido é dono de padaria e sempre traz doces para casa. Hoje só observo e não sinto vontade. Antes não ficava satisfeita enquanto não acabasse”, conta. Atualmente, Francys também aplica a técnica em sua clínica.
Para a psicóloga Vânia Calazans, que pratica a técnica há cerca de 5 anos em São Paulo, a proposta do tratamento é modificar a maneira como as pessoas lidam com a questão alimentar. “Ele faz com que as pessoas passem a ter uma relação saudável com a alimentação sem ficarem presas a dietas para o resto da vida”, diz.
Antes de sessão do balão, segundo Vânia, a terapia procura fazer o paciente ver que adotar uma alimentação saudável pode ser prazeroso. “A hipnose facilita muito nesse processo”, diz Vânia. Faz parte do tratamento hipnótico, por exemplo, que o paciente se imagine comendo frutas e legumes e associe uma sensação de prazer àqueles alimentos. O contrário é feito em relação a alimentos não tão saudáveis, como gorduras e doces, que são associados a sensações desagradáveis.
Ela acrescenta que cada paciente tem uma resposta diferente à terapia e que é preciso que ele participe ativamente do tratamento, focando seus esforços em mudar sua relação com a comida. Não existe milagre, portanto, segundo a terapeuta.
Um dos pacientes de Vânia é o arquiteto e urbanista Antonio Dias Neto, de 41 anos. Ele relata que costumava fazer dietas, chegava a perder 10 quilos e depois voltava a engordar. Quando soube da terapia do balão imaginário, se interessou e resolveu experimentar. “Foi uma experiência bem diferente. Junto com a terapia, tem um trabalho de autoconhecimento. Sempre se tem uma desculpa para o que se come, estar ansioso, nervoso”, conta.
Segundo ele, o tratamento fez com que tivesse mais consciência sobre o que comia e por que comia determinados alimentos em certas ocasiões. O arquiteto percebeu que, antes, levava muita coisa à boca de forma automática, sem se dar conta.
A partir do momento em que implantou o balão imaginário, ele passou a se sentir enjoado caso passasse do limite que ele mesmo tinha estabelecido. Segundo ele, toda vez que se lembra da imagem do balão em seu estômago, consegue domar a gula. “Parece que é uma trava automática de controle”, diz. Ele afirma ter perdido 8 quilos em duas semanas.
“Nessas duas semanas, tive dias mais agitados, duros, em que a vida exige mais, de negociações, me desequilibrei, coloquei uma porção maior no prato. Mas depois você percebe que dá para se autorregular.”
G1