Opinião

“Te mandei um passarinho”

CONHECENDO A LITERATURA INDÍGENA DE SUA REGIÃO

Ao ler Você conhece a literatura indígena de sua região?, texto de autoria da indígena da etnia Macuxi, Julie Dorrico, doutoranda em Letras, autora do livro Eu sou Macuxi e outras histórias, perguntei-me; Por que a literatura indígena pouco ou nada é lida nos estabelecimentos de ensino Fundamental e Médio.

Dorrico, em Visibilidade Indígena – Projeto de Literatura indígena no Brasil, declara que autores indígenas e suas produções propiciam um diálogo com a sociedade dominante, objetivando estreitar “distâncias e desconhecimentos sobre os povos originários residentes em território nacional.” A escrita dos povos indígenas, tão diferente da escrita dos não indígenas, é muito bem vinda para informar sobre os povos indígenas, ainda tão desconhecidos e envoltos em preconceitos por grande parte da sociedade brasileira. Dorrico propõe que os saberes escritos por autores indígenas não fiquem somente em suas aldeias, mas que ocupem os espaços da cidade, principalmente das escolas do ensino fundamental e médio.

Esta reflexão é um convite para pensar o Brasil com a mente e o coração de Darcy Ribeiro (1922-1997). Um país que, de acordo com o antropólogo, pode ser visto como novo e velho. Novo diante do modelo de estruturação societária, “porque surge como uma etnia nacional, diferenciada culturalmente de suas matrizes formadoras, fortemente mestiçada, dinamizada por uma cultura sincrética e singularizada pela redefinição de traços culturais delas oriundos.” Velho por se estabelecer de forma intencional semelhante à expansão do império ultramarino de Portugal, na lógica de inexistir “para si mesmo, mas para gerar lucros exportáveis pelo exercício da função de provedor colonial de bens para o mercado mundial, através do desgaste da população que recruta no país ou importa.”

Para adentrar no mundo da Literatura escrita por autores indígenas, destaco entre centenas de livros Te mandei um passarinho – prosas e versos dos índios no Brasil, coordenado pelo antropólogo José Ribamar Bessa Freire (2007). O livro reúne inúmeras histórias que moram dentro dos povos de diversas etnias onde se vive a diversidade indígena da qual Darcy Ribeiro tanto enalteceu e defendeu.

Sob perspectivas decoloniais, Te mandei um passarinho – prosas e versos dos índios no Brasil adota percursos que permitem transcender o racionalismo moderno. As formas de saberes indígenas podem inserir-se nas “epistemologias do sul”. O livro demonstra o enriquecimento de práticas de vida propiciadas por um pensamento que consente o desvelar de experiências silenciadas pelo cânone da modernidade. O livro, e em tantos outros que apresentam os modos de ser, pensar e agir dos povos indígenas, traz à tona oportunidades de o Brasil assumir percursos que se diferenciem da visão da colonialidade do poder que ainda permeia o pensar da população brasileira. Ao Brasil não cabe admitir a pluralidade do mundo a partir de uma visão monocultural, mantenedora da ciência moderna, que oculta e inferioriza outras formas de ser e conhecer.

Redação

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