Opinião

TARSILA NO ESPAÇO CÓSMICO

Tarsila do Amaral (1886-1973), desenhista e pintora paulista, artista-símbolo do Movimento Modernista e do Movimento Antropofágico, representa uma das personagens principais da arte plástica brasileira. “Abaporu”, nome de origem indígena, entendido como o “homem que come carne humana”, deu início ao Movimento Antropofágico, idealizado por Oswald de Andrade (1890-1954), na época, seu marido. Inspirado nos escritos de Rosseau, Marx, Freud e Montaigne, Oswald de Andrade provocou com intensidade a fé cristã, a raíz portuguesa e o padre Antônio Vieira.

O Movimento Antropofágico nasceu com o intuito de digerir influências artísticas estrangeiras e, como num ritual de canibalismo, devorar o inimigo para obter suas qualidades. No campo das artes, buscou um carater com feições abrasileiradas. Uma alma nacional! Essa vontade fez renascer a figura do índio, apto a assimilar o estrangeiro, ao torná-lo carne da sua carne pelo ritual do canibalismo. Assim, o Brasil seria um país canibal e o índio, ao digerir tudo o que vem a ele, absorveria as virtudes dos estrangeiros para tornar-se melhor e mais forte. Tornar-se brasileiro.

No óleo sobre tela “Batizado de Macunaíma”, de 1956, Tarsila do Amaral retrata a cerimônia batismal da criança Macunaíma, que nasceu do fundo do mato virgem. Filho do medo da noite, era feio e cicatrizes marcavam seu corpo e percorriam seu caráter. Mário de Andrade (1893-1945), considerado um polímata nacional, publicou Macunaíma, em 1928, obra do indianismo moderno, uma renovação da linguagem literária brasileira. Romance emblemático, ressignificou provérbios, personagens do folclore amazônico e mitos indígenas, estes últimos transcritos da obra “Do Roraima ao Orinoco”, do etnólogo alemão Theodor Koch-Grünberg (1872-1924).

Assim como Macunaíma ao morrer se transformou na constelaçao Ursa Maior, Tarsila também passou a habitar o espaço cósmico. Recebeu, em 2008, uma homenagem dos pesquisadores da espaçonave Messenger, membros da União Astronômica Internacional, ao batizarem de “Amaral” uma cratera do planeta Mercúrio.

 

Anna Maria Ribeiro Costa

About Author

Anna é doutora em História, etnógrafa e filatelista e semanalmente escreve a coluna Terra Brasilis no Circuito Mato Grosso.

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