Com postura de político do diálogo, Wellington Fagundes (PR) diz que quer ser governador de Mato Grosso sem iludir eleitores com promessas de execução de serviços fora do alcance do Estado. Esse posicionar-se seria a justificativa para não apresentar um plano de governo com medidas concretas sem embasamento do orçamento. Politicamente, ele busca com isso um distanciamento do atual governador Pedro Taques, que, disse Fagundes, falhou na administração por “vender ilusões” em campanha e, pior, hoje com baixa margem de mudança. O republicano diz ainda que terá fazer uma gestão pró-setores, diferente da antidemocrática que fora supostamente engendrada por Taques. O lastro para a garantia da boa vizinhança seriam seus seis mandatos de deputado federal e um de senador.
Vamos começar com educação. Qual sua proposta para melhorar o ensino?
Na educação tenho como meta fazer com que a comunidade participe mais, efetivamente, do processo educacional. É obrigação da escola e da família graduar o aluno. A escola promove o ensino, e a família a educação. Se isso se juntar ficar muito mais fácil formar o aluno. Eu quero uma escola aberta à comunidade, onde ela participe das decisões da administração da escola. Se a escola estiver sendo fiscalizada pela comunidade, a escola vai ter menos custo e também terá mais conservação. Pode-se até orientar o aluno a plantar hortaliças, pintar a parede, volta à ideia de conservar que patrimônio da comunidade.
O ensino ciclado seria integra a base curricular?
Ter um aluno decoreba não é o melhor caminho. A alfabetização precisa ter uma base o suficiente para que o aluno tenha uma compreensão do processo de aprendizagem. Uma criança bem alimentada, que tenha participação na produção social, para se transformar num cidadão de participação do processo evolutivo da sociedade. A escola ciclada foi uma produção que se fez, pelo MEC, para que mais alunos passassem pela escola. Mas, é um processo que teremos que analisar com muito cuidado.
O senhor acha que o Fundeb está sendo mal utilizado?
Em Mato Grosso houve um problema. O Estado desviou o recurso no ano passado, que é um crime administrativo. Ele utilizou o fundo para outras finalidades do Estado. Chegou ao final do ano e as prefeituras estavam inadimplentes. Ele [governador Pedro Taques] jogou aquele dinheiro no fim do ano por causa da Lei da Responsabilidade Fiscal (LRF) e os municípios não tinham como gastar porque eles foram aplicando o recurso conforme eles recebiam. Tem que se utilizar no mínimo 80% do recurso.
Se eleito, o senhor vai mexer na LOA (Lei Orçamentária Anual) 2019?
É uma questão do orçamento dos próximos anos, então é um assunto pertinente ao próximo governador. Toda gestão pública precisa ter eficiência na aplicação do recurso, porque se não tiver eficiência não há recurso que dê conta. Eu pretendo discutir todo o orçamento do governo. Inclusive na LOA do ano que vem está o planejamento dos próximos quatro anos.
Parece que, ao invés de fazer promessas que podem não ser cumpridas, tem cuidado em consultar o orçamento. Isso é cuidado que você está tomando em campanha?
Eu gostaria que toda a sociedade percebesse isso. Na minha experiência política de seis mandatos como deputado [federal] e agora como senador, eu vejo tantos governantes que se elegem com uma esperança tão grande da população, depois vem àquela frustração. É o caso presente do Taques. Ele foi eleito com uma quantidade expressiva de votação, com esperança de alguém que falava muito bem, tem experiência jurídica, então, dotado para colocar o Estado no caminho dos trilhos. Mas, nem os trilhos do VLT ele resolveu. Três anos e tanto [de mandato] e só se fica falando de corrupção. Isso é órgão de controle, do governo administrar. As auditorias podem ser feitas, temos órgãos fortes de controle. O governante que fazer a máquina funcionar, administrar para atender o povo. Se eu ficar vendendo ilusões, vou frustrar a sociedade. Eu quero ser um governador para fazer o correto.
Os recursos para os Poderes serão mexidos já de imediato se o senhor for eleito?
De imediato. Vou reunir com todos os Poderes para no diálogo encontrarmos uma satisfação. Não adianta ter dinheiro sobrando num lugar, mas faltando em outro. Quando você cria um orçamento fictício, dá nisso.
Como lidar com a dívida bilionária que o Estado tem?
Se tiver diálogo é melhor situação. Se há um contrato dizendo que o governo tem que fazer certa coisa e isso não for cumprido, o fornecedor vai comprar em cima do que foi pactuado. O governador Pedro Taques tem tido muito dessa situação [de não conversar para renegociar dívidas], inclusive na saúde. Nós fizemos o acordo da bancada federal de repassar os R$ 100 milhões para o Estado, cuja parte seria repassada para os hospitais filantrópicos, mas não aconteceu. Ele assinou e não cumpriu. Quem assina e não cumpre leva a situações de agravamento pior. Se você tem uma programação de fazer algo, você vai reprogramar sua vida de acordo com isso. Agora, se não cumprir não dá errado. Precisa dialogar a exaustão para tomar decisão, e quando tomar decisão tem que ser decisão madura.
Onde o Taques falhou e quais são as ilusões que o senhor diz que ele vendeu?
Primeiro, prometeu muita coisa na campanha que não era possível fazer; criou muita expectativa na população. Mas, mais ainda, montou um governo excluindo setores. Quando excluiu os setores que começou a entrar em choque , com a própria Assembleia Legislativa. No ano passado, se não fosse a nomeação de um deputado do diálogo para a Casa Civil, já estaria numa situação quase de caos em relação aos municípios. Ou seja, ele tive dificuldades de dialogar com os municípios, com a Assembleia, até dificuldade com o Poder Judiciário que deveria ser um setor com mais condições. Foi o grande erro dele.
Falta traquejo político?
Acredito que sim. Aliás, ele brigou primeiro com os próprios companheiros dele. As pessoas que estiveram na campanha e no governo com ele, hoje estão brigadas. O [Otaviano] Pivetta, que é o vice do Mauro Mendes, foi coordenador de campanha do Taques, o próprio [deputado estadual] Zeca Viana estava no grupo de apoio.
Taques diz que o isolado se deve a uma postura de não deixar sobrepor a decisão dos partidos, que queriam mandar na gestão dele.
Faz parte do jogo republicano. Diferente do que existe hoje, nossa coligação não fez acordo de cargo nem com este e nem com aquele partido. Quero ter um governo técnico-político, político-técnico e não uma preponderância na área, mas é preciso ter a visão política. Se não houver a visão política, você não consegue governar. O técnico é importante, mas um técnico também com visão política da área. Ele terá mais capacidade de gestão.
Analistas políticos afirmam que o pessoal de apoio em 2014 rachou em três grupos que estão distribuídos hoje entre o senhor, Mauro Mendes e Pedro Taques. Em que vocês são diferentes?
Eu sempre fui um político da harmonia, de conversar com todos, inclusive com o [ex-governador] Dante Oliveira. Com o Pedro fui à diplomação e no meu discurso disse que estava disposição. Ele disse: ‘Quero dizer ao senador Wellington Fagundes que não preciso de senador para ir a Brasília’. Quem ganha tem que ter mais humildade do que quem perde. É preciso saber governar.
O senhor acha que o governador Taques por falta de diálogo com os servidores?
O governador praticamente trabalhou uma campanha anti a classe política, anti o servidor público. É um governo isolado, maniqueísta que buscou colocar em choque um contra o outro. Isso é ruim. Hoje, está desmotivado completamente. Não é só o salário. O servidor está reclamando muito mais das condições de trabalho do que falta de salário. O salário é importante, mas de que adianta pagar muito e não receber? Não tivéssemos brigado muito pelo FEX (Fundo de Fomento à Exportação), os salários estariam atrasados. O servidor é a sociedade. A minha visão de governo é trabalhar em parceria com os servidores estadual, municipal e federal.
Nos últimos dois anos tivemos dois episódios marcados pela participação de facções criminosas. Em 2016, a queima de ônibus, e no primeiro semestre deste ano os ataques em escola e em secretaria. O tema gera preocupação ao ponto de criar política específica?
Muito, muito mesmo. Escolhi uma vice, a Sirlei Theis (PV), é uma especialista na segurança. Temos uma divisa seca com a Bolívia de 720 quilômetros, temos aí a rota do narcotráfico. A faixa de fronteira abandonada como está sempre será uma facilitador para o narcotraficante. O Estado não tem acompanhado, tecnologicamente, a criminalidade. O governador de Mato Grosso poderá liderar todo o Centro-Oeste para gerar instrumento para conseguir recurso do FCO (Fundo do Centro-Oeste). Nós temos que focar esse recurso para a área de segurança, de navegação. A ZPE (Zona Portuária de Exportação) [em Cáceres] nunca vai funcionar se houver segurança. A hidrovia Paraguai-Paraná, o aeroporto de Cáceres, a estrada que liga a Bolívia com o desenvolvimento da região.
Na economia, os incentivos fiscais são o caminho para o desenvolvimento do setor industrial em mato Grosso?
O imposto com maior arrecadação é o ICMS, e cada Estado para atrair desenvolvimento dá incentivo. O problema em Mato Grosso é que os incentivos foram dados de forma desorganizada e não fiscalizada. Os investimentos não são seguros no Brasil porque não há segurança jurídica. Isso porque a mudança se dá de acordo com o governo e não com o Estado. É preciso ter política de Estado independentemente de quem seja o governante. O contrato assinado não pode ser mudado de acordo com o governo, como fez o Pedro, por causa do que ele chamou de o bom pagador. O bom pagador é dar cano nos outros?
Texto atualizado às 15h20
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