Keller Dover, o personagem vivido por Jackman, está com a mulher e os filhos na casa de amigos vizinhos. Após uma distração de poucos minutos, a garota de seis anos desaparece junto com a amiga, filha do outro casal. A única pista para o sumiço delas é um trailer que estava parado na vizinhança.
Horas depois, a polícia encontra o veículo e o motorista, mas nada das meninas. Detido, o motorista, interpretado pelo ator Paul Dano ("Sangue Negro"), mal consegue dizer o próprio nome –uma tia informa a polícia que ele tem a idade mental de uma criança de dez anos–, muito menos informar qualquer pista sobre a garota.
Sem provas concretas, a polícia resolve soltar o motorista –a gota d'água para que o personagem de Jackman desconfie de que o detetive responsável pelo caso, interpretado por Jake Gyllenhaal ("Donnie Darko"), não está fazendo o suficiente para encontrar as garotas. O pai decide, então, que precisa agir por conta própria, mas o método escolhido é bastante questionável: Dover sequestra o principal suspeito do crime, e o coloca em um cativeiro privado.
É impossível não se colocar no lugar do personagem, entendendo e até mesmo aceitando, inicialmente, sua atitude, mas o passar do tempo torna a situação cada vez mais indigesta. Infrutíferos, os interrogatórios feito pelo personagem de Jackman se tornam sessões de tortura, jogando personagem e espectadores num universo de depravação moral.
A sensação de estômago revirado é criada com maestria por Villeneuve, de maneira semelhante à que o diretor já havia feito no badalado "Incêndios". Do mesmo jeito que mostrava, sem pudores, uma cena de crianças executadas por cristãos no Líbano no outro filme, o diretor também não poupa o espectador de "Os Suspeitos" de ver um jovem com problemas mentais e presumida inocência ser brutalmente espancado. No filme anterior do cineasta, entretanto, as situações extremas eram cometidas por pessoas "extremas", como fanáticos religiosos, enquanto no novo longa o protagonista é um pacato pai de família.
A atuação de Jackman não compromete o filme, que é perfeitamente amarrado apesar de várias reviravoltas, mas é um pouco exagerada. O ator talvez convencesse mais como pai indignado e desesperado se fosse mais sutil. O que se vê, entretanto, é um estado de quase descontrole constante.
Jake Gyllenhaal é mais sereno no papel do detetive Loki, mas quem rouba a cena é Paul Dano. No filme, o ator que já se destacou por seus papéis em "Sangue Negro" e "Pequena Miss Sunshine", consegue elevar à máxima potência a dúvida dos espectadores. Com uma expressão frágil e inocente, mas que facilmente pode ser apenas a dissimulação de um psicopata, Dano consegue, assim como o filme, provocar raiva, pena, tensão e tristeza ao mesmo tempo.
Do UOL