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Superman  (2025) A Lealdade em Tempos de Linchamento Digital

O filme Superman (2025) surge como um raio de humanidade em meio à tempestade digital que se abate sobre o mundo contemporâneo. 

 Embora enraizado no universo dos super-heróis, sua narrativa se volta, de forma sutil e comovente, a dois temas profundamente humanos: o poder destrutivo das redes sociais e a força silenciosa do amor de um cão. James Gunn, ao dirigir esta nova leitura do mito de Krypton, parece dizer que não é a kryptonita que ameaça o herói — é o julgamento público, a distorção da verdade, o tribunal sem rosto das telas. O Superman de 2025 não enfrenta apenas vilões de carne e osso, mas o linchamento moral que nasce dos dedos apressados e das palavras impensadas que se espalham como labaredas virtuais. 

No filme, um simples vídeo manipulado basta para inverter o sentido de suas ações, tornando-o vilão aos olhos do povo.  

É um retrato doloroso da era em que vivemos — uma era em que reputações se constroem em segundos e se desfazem na mesma velocidade, onde a verdade se torna maleável e o espetáculo da ruína humana é consumido como entretenimento. 

 O herói mais poderoso do planeta se vê impotente diante da força difusa e implacável das redes, um símbolo da fragilidade de qualquer um que se torne alvo do ódio coletivo. Assim, o filme se transforma em espelho: mostra-nos o quanto a humanidade perdeu a medida do que é justo, e o quanto o desejo de “compartilhar” se sobrepõe à capacidade de compreender. 

Mas é aí que entra Krypto, o cão. Em meio ao barulho ensurdecedor das acusações, das mentiras e das manchetes distorcidas, ele representa o silêncio puro do afeto. Krypto não questiona, não julga, não abandona. Ele permanece. E nessa permanência se revela a verdadeira salvação do herói. Quando o mundo o chama de impostor, é o olhar de Krypto que devolve a ele a certeza de que a bondade ainda existe. O cão torna-se o contraponto perfeito ao caos das redes: enquanto os humanos se deixam dominar por algoritmos e vaidades, ele vive apenas a lealdade, a presença, a entrega. O filme faz desse vínculo algo quase sagrado, um lembrete de que há amor que não precisa ser provado, curtido ou compartilhado — ele apenas é. 

Não por acaso, Superman (2025) gerou uma onda de campanhas e reflexões sobre a adoção responsável de animais. A figura de Krypto despertou um sentimento adormecido no público: a compreensão de que, em um mundo cada vez mais frio e mediatizado, adotar um animal é um ato de resistência emocional, um gesto de ternura que desafia o egoísmo e a pressa. 

 As redes, tão hábeis em destruir, também se tornaram palco de partilhas luminosas — histórias de adoção, reencontros, cuidados. O cinema, assim, cumpre seu papel maior: o de inspirar empatia e transformar sensibilidades. 

Tecnicamente, o filme reforça essa mensagem com maestria. A fotografia é vibrante, alternando entre a grandiosidade dos céus e a intimidade dos olhares de Krypto. Os efeitos visuais, de uma fluidez encantadora, fazem do voo do herói uma dança aérea e da presença do cão algo quase tangível, dotado de alma. A trilha sonora, ao ecoar acordes suaves nos momentos de interação entre homem e animal, dissolve a fronteira entre o épico e o íntimo, entre o salvador do mundo e o homem que apenas deseja ser compreendido. 

Ao final, o espectador sai do cinema não apenas com a memória das lutas e explosões, mas com a lembrança do cão que, ao lado do herói, late não de bravura, mas de amor.  

Superman (2025) é, em última análise, um filme sobre o poder de permanecer humano num tempo de desumanização. Um chamado para olharmos menos para as telas e mais para os olhos daqueles que, sem dizer uma palavra, nos ensinam todos os dias o que significa fidelidade, amor e perdão. Adotar um animal, depois de ver esse filme, não é apenas um gesto de compaixão — é uma forma de reencontrar o que há de melhor em nós mesmos. 

Vale a pena assisitir

Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial. @aeternalente

Foto Capa: Reprodução/Divulgação

Olinda Altomare

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Olinda Altomare é magistrada em Cuiabá e cinéfila inveterada, tema que compartilha com os leitores do Circuito Mato Grosso, como colaboradora especial.

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