Um defeitinho aqui e outro ali todo mundo têm. Mas para algumas pessoas, ter o nariz um pouco torto, uma cicatriz aparente ou a boca muito fina é inadmissível a ponto de provocar um descontrole psicológico e uma preocupação obsessiva que caracterizam o transtorno dismórfico corporal.
A patologia já preocupa os especialistas que veem no cenário atual de excessiva preocupação com a estética um campo fértil para o desenvolvimento de mais casos. “Estudos mostram que 7% dos pacientes que procuram tratamentos dermatológicos e cirurgias plásticas apresentam a síndrome”, afirma a cirurgiã plástica Renata Pereira Tavares.
O cirurgião plástico Marcelo Cury afirma que, atualmente, costuma diagnosticar cerca de cinco pacientes por ano, número cinco vezes maior do que há sete anos, quando o transtorno passou a ser mais conhecido. “Com essa preocupação em demasia com a aparência e o corpo ideal, a busca desenfreada pelo belo pode levar a um aumento desse número de pacientes”, projeta.
Os riscos começam a surgir quando, na tentativa de resolver aquilo que o incomoda, o paciente acaba se submetendo a inúmeros procedimentos cirúrgicos e tratamentos estéticos insuficientes, segundo o seu próprio ponto de vista, podendo chegar a desenvolver quadros de depressão, sofrimento e isolamento social.
Supervisor do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP), Eduardo Aratangy diz que o problema não se assemelha com outros transtornos como a anorexia e a bulimia, a não ser pela característica distorção da imagem.
“Todo mundo tem alguma insatisfação. É natural, mas quando a característica se torna repetitiva, quando a preocupação rege a vida do indivíduo e acaba prejudicando outros aspectos, começamos a considerar patológico”, diz o médico.
Mais comum na puberdade por ser um período crítico da adolescência, em adultos jovens e em mulheres, Aratangy diz já perceber uma incidência crescente em pessoas entre os 40 e 45 anos, gente que “não toleram envelhecer”. O médico cita o cantor Michael Jackson como um possível dismórfico. “Ele não tolerava os próprios traços étnicos e fez diversas intervenções de modo obsessivo, o que acabou deformando-o”.
Em uma entrevista concedida à apresentadora de TV Oprah Winfrey, a aspirante a modelo e atriz norte-americana, Jenny Lee, 38, reconheceu que o seu vício em cirurgia plástica é causado por um transtorno. Depois de mais de 350 intervenções, a ex-modelo Alicia Douvall, 35, também confessou a um jornal britânico que tentou se matar por não conseguir conter o vício e pagar as dívidas das cirurgias.
Dicas essenciais
Optar por alterações estéticas na face ou no corpo requer bom senso. Antes de se decidir sobre qualquer cirurgia plástica:
– Analise-se com atenção antes de concluir que não gosta de algono seu corpo
– Procure um médico que seja membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica eescute os conselhos do cirurgião
– Escolha uma data tranquila e um local com estrutura adequada
– Tenha paciência com o pós-operatório
– Saiba a hora certa de parar de fazer cirurgias
– Aprenda a ser feliz consigo mesmo
Meta de beleza
Dados. O Brasil é o segundo país do mundo em número de cirurgias plásticas, atrás apenas dos EUA. Em 2013 foram realizadas 1,5 milhão cirurgias, sendo um milhão estéticas e 500 mil reparadoras.
Fonte: O tempo