Santos, que completa 71 anos no dia 28, deixou Angola em 26 de junho rumo a Barcelona, na Espanha, em "visita de caráter privado". Como em outras viagens "privadas" ao exterior do mandatário, não foram divulgadas nem agenda nem fotos de suas atividades.
Uma fonte da Presidência angolana afirmou à agência Lusa que Santos voltará "ainda esta semana". Nas próximas semanas, o país vai abrigar o campeonato mundial de hóquei, e a presença de Santos é esperada. O que chamou atenção desta vez foi à duração da estada fora. No poder desde 1979, o segundo líder mais longevo da África, Santos não ficara mais que 15 dias ausente em outras ocasiões, segundo a imprensa local.
"Se estamos num Estado de Direito, que se explique se o motivo é a saúde, se são férias prolongadas. Os angolanos têm direito de saber", disse porta-voz da Unita, principal sigla da enfraquecida oposição angolana. Os governistas do MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) dizem que a oposição busca criar um "fato político". "Não existe essa controvérsia", diz João "Ju" Martins, porta-voz do MPLA. "É uma tentativa de despertar nas pessoas alguma intranquilidade."
Para o MPLA, o presidente pode se ausentar do país justamente porque há normalidade das instituições após a guerra civil (que durou até 2002) e sobretudo depois de sua reeleição, em 2012. Santos costuma usar viagens à Europa para fazer revisões médicas. Ao que se sabe, ele está com boa saúde.
O mandato de Santos vai até 2017. Em tese, ele poderia se candidatar a mais um mandato, mas até lá terá 75 anos, o que amplia o debate sobre sua transição.
Para José Kaliengue, diretor do jornal angolano "País", Santos pode ter a intenção de enviar sinais de "estabilidade" com a ausência maior que a habitual. "Este sinal seria associado ao fato de Manuel Vicente, o vice, estar interino sem sobressaltos no país."
Vicente, ex-presidente da poderosa estatal petroleira do país, é tido como uma das opções de Santos para sucedê-lo, embora se discuta se o tecnocrata teria aceitação unânime dentro do MPLA. Outra aposta é um dos filhos do presidente, José Filomeno. Ele acaba de assumir o fundo soberano de Angola, nutrido pela renda do petróleo e com cerca de US$ 5,5 bilhões (R$ 12,5 bilhões).
Fonte: Folha Online
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